Além dos rios Pônsul, Ocreza, Tejo, Zêzere e Guadiana, este peixe invasor e voraz que “se alimenta dos peixes endógenos das nossas águas”, como explica José Guerra, do Clube Desportivo Carapinheirense, de Montemor-o-Velho, também já foi detectado por pescadores do Baixo Mondego e em várias albufeiras do Ribatejo e do Alentejo. “Encontrámos siluros nas valas de enxugo (que servem para regar os campos de milho), nos riachos, na pista de remo de Montemor, no troço de leito abandonado do rio. Parece estar em todo o lado”, lamenta José Guerra. “Sendo um predador de topo, é natural que, daqui a alguns anos, se torne um verdadeiro problema. Já encontramos cada vez menos ruivacos, bogas e pimpões, os peixes tradicionais das nossas águas” – avisa.
Também Carlos Roxo teme que o silurus glanis – nome científico deste peixe – nade já por “todos os rios de Portugal”. E exemplifica: “No dia 9 deste mês, estive num convívio de pesca, em Ereira (Montemor-o-Velho) e todos os peixes apanhados eram siluros. Isto junto a uma mini-praia fluvial”.
Sem plano de controlo
Na zona de Viseu, o cenário é semelhante. “Por enquanto, os peixes-gato não ultrapassam os 300 a 400 gramas. Mas sabemos que vão crescer”, conta António Barbosa, da Associação Regional de Pesca Desportiva do Norte (ARPDS), recordando uma experiência recente que o impressionou: “Na barragem da Aguieira, os pescadores apanharam 40 exemplares em apenas três horas”.
No Ribatejo, no rio Sorraia, também já foram pescados siluros, o mesmo acontecendo no Alentejo. “Na Ribeira da Raia, em Mora, apanhámos imensos”, conta José Guerra, do Clube Carapinheirense. Em Avis, mais precisamente na barragem do Maranhão, uma das maiores do norte alentejano, a narrativa repete-se: “Há muitos, mas mesmo muitos, siluros pequenos”, refere outro pescador, explicando que os profissionais não gostam desta espécie porque “como todas as outras, que desaparecem”.
O Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) confirma a sensação dos pescadores. “O siluro é uma espécie de origem euro-asiática (leste da Europa e oeste asiático) que atinge grande tamanho”, explica fonte oficial do organismo. Uma vez que “fora do seu habitat natural pode provocar impactos negativos nos ecossistemas”, continua a mesma fonte, “Portugal proibiu a sua detenção e comercialização em 1999, tentando prevenir a sua introdução”. Mas sem sucesso.
O siluro acabaria por ser introduzido nas décadas de 70 e 80 nos rios internacionais ibéricos, como o Tejo. Contudo, as autoridades portuguesas admitem não ter ainda “estabelecido um ponto de situação oficial da distribuição da espécie em Portugal, nem dos impactos que a sua presença possa originar”. Motivos que, segundo o ICNF, justificam o facto de não existir ainda “nenhum plano oficial de erradicação e controlo” da espécie exótica, limitando-se a indicar “a pescadores e a investigadores que capturam espécimes que não os libertem outra vez como é costume acontecer com as espécies capturadas e sem interesse para a alimentação humana”.
Lucioperca no Douro e Tâmega
Mas o peixe-gato – conhecido em Espanha como 'monstro do Ebro' devido às suas dimensões – não é a única grande ameaça às espécies nativas dos nossos rios.
No Norte, o lucioperca é outra espécie predadora que está a preocupar os pescadores, por “se alimentar das outras espécies”, explica António Barbosa, da ARPDN. “Os pescadores capturam lucioperca na barragem do Torrão, perto da bacia do Tâmega, na albufeira de Crestuma-Lever, no Douro, e em muitas outras”, conta o dirigente associativo, acrescentando que o lucioperca é, como o siluro, “uma espécie daninha que gosta de águas paradas e dizima todas as outras”.
O lucioperca foi introduzido ilegalmente em Espanha na década de 70, para fomentar a pesca desportiva. Em 2005, foi encontrado pela primeira vez na bacia hidrográfica do Guadiana (barragem de Lucefecit, um afluente), tendo sido capturado depois nas albufeiras de Alqueva e Monte Novo, e, em 2010, no Guadiana.
Trata-se de um peixe que atinge em média os cinco a seis quilos e tem dentes pronunciados e afiados, o que o torna um predador eficaz. Ninguém ainda sabe ao certo como esta espécie exótica surgiu em Portugal.