A 7 de Agosto, Filipe Silva, o mais velho, e Carlos Brito, saíram do quartel após o almoço e, uniformizados e ao volante de um carro da direcção da corporação, são apanhados em flagrante. Segundo o comunicado da PSP (que não refere a identidade dos homens), tinham em sua posse “duas placas de haxixe, correspondendo a cerca de 396 doses individuais”. O veículo foi devolvido ao corpo de bombeiros e os arguidos presentes a juiz no dia seguinte.
‘Quis-se abafar o caso’
Fontes da corporação denunciaram ao SOL que “quis-se abafar o caso”, e viram as baterias para o comandante de Carnaxide: “Ele quis abafar o caso, senão tinham sido suspensos de imediato e era aberta uma averiguação interna, até se esclarecer tudo. Como podemos estar tranquilos quando dois bombeiros saem do quartel e são apanhados com um carro nosso na posse de droga? Com a autorização de quem e para quê?”.
Mais burburinho se levantou entre os soldados quando se soube que os suspeitos, após terem sido ouvidos no tribunal de Oeiras e tendo ficado em liberdade a aguardar o desfecho do inquérito, demitiram-se e que o comandante, José Luís Gouveia, não só aceitou a demissão como o pedido de um deles para a sua transferência para o corpo de bombeiros de Oeiras.
Uma tradição unia Filipe Silva, o mais velho, e Carlos Brito: os pais de ambos tinham feito o mesmo percurso e pegaram-lhes o bichinho, sendo o do primeiro comandante do corpo de bombeiros de Paço de Arcos e o elemento da Protecção Civil na Câmara Municipal da Oeiras, e o do segundo chefe no quartel de Carnaxide.
Contactado pelo SOL, o comandante de Carnaxide, José Luís Gouveia, assume a detenção dos homens, mas começa por negar à exaustão o envolvimento de um carro da corporação – acabando por o assumir quando o SOL o informou que tem uma foto da viatura. E relata de forma singular os acontecimentos: “Fui avisado pela PSP que dois dos nossos elementos tinham sido detidos e desloquei-me à esquadra onde eles estavam com a sua viatura pessoal. Pedi-lhes que se demitissem na hora, o que aceitaram. Um deles, o Filipe, pediu-me depois a transferência para Oeiras, que autorizei”. Questionado se não deveria ter suspenso esses homens de imediato e abrir um inquérito para apurar responsabilidades, o comandante acaba por dizer: “Sabe, foi o pai [comandante de Paço de Arcos] que me pediu para eu aceitar a transferência do filho”.
‘Problema não é nosso’
Em seu socorro veio na hora Fernando Curto, presidente da Associação Nacional de Bombeiros Profissionais e Comandante Operacional em permanência no Regimento de Sapadores de Bombeiros, que tomou a iniciativa de contactar a jornalista do SOL. Contrariando uma portaria do Governo deste ano – que estabelece no Regulamento Disciplinar dos Bombeiros Voluntários que qualquer um dos seus elementos no exercício de funções que revele falta de idoneidade moral seja punido com demissão, ficando impedido de voltar a reintegrar qualquer outro corpo de bombeiros do país –, Fernando Curto veio baralhar mais a questão. Começou por contrariar o comandante Gouveia ao afirmar que foram os próprios suspeitos que se demitiram, apesar de o próprio admitir ter sido posto a par no mesmo dia da ocorrência: “Soubemos no mesmo dia e estamos a aguardar o resultado judicial. Ao contrário do que o comandante lhe disse, eles pura e simplesmente piraram-se. Foram presos num dia e apareceram no dia seguinte após a libertação a pedir a demissão. Ora, perante isto, que processo disciplinar é que eu ou o comandante podíamos abrir?”. E perante o perigo da continuação da actividade criminosa, o também membro da Concelhia do PS de Oeiras passa a bola: “A partir do momento em que eles se transferem para o corpo de bombeiros de Oeiras, e o comando, ouvindo o que lhes dissemos, os aceitam, o problema já não é nosso. O que competia ao corpo de bombeiros era dar nota a quem eles pediam para serem incorporados, o que fizemos”.
Contactado pelo SOL, o comandante de Oeiras, José Manuel Pereira, confirma ter recebido o pedido de transferência, mas diz que desconhece qualquer informação sobre o comportamento do bombeiro suspeito, como diz Fernando Curto. O dirigente adianta ainda: “A ser verdade, nunca admitirei este homem”.