E tudo levou o Bento: a saga de um erro de casting!

1.    Um cenário há muito aguardado concretizou-se no passado sábado. Vítor Bento tinha vindo a dar sinais inequívocos da sua vontade de sair da administração do Novo Banco desde…praticamente o momento do anúncio do plano de restruturação do Banco definido por Carlos Costa! Algo já estava muito mal quando a comunicação social (em especial, os…

2.    O fim-de-semana que passou foi, assim, marcado por situações muito curiosas. Os mesmos intervenientes políticos, os mesmos comentadores que louvavam Vítor Bento, as mesmíssimas figuras que exaltavam Bento – qual Ulisses da Banca! – resolveram agora criticar o economista pela sua saída do Novo Banco. Note-se que, no discurso político, nem se tem falado de “saída” – tem-se falado de “desistência” (termo que denota já uma conotação depreciativa da atitude de Bento). Perguntamos: a saída de Vítor Bento é censurável? Podemos condenar Vítor Bento pela atitude que tomou? Bom, há que manter a serenidade e a lucidez. 

3.    Primeiro: quando alguém considera que não se sente motivado para realizar um trabalho de qualidade, que as suas valências pessoais não são aproveitadas ou se encontram subaproveitadas e que está a fazer figura de figurante – então, em consciência, deve sair. Não podemos impor a Vítor Bento que se mantenha numa posição degradante – que se perpetue, numa expressão bem portuguesa, a “fazer figura de parvo”. Logo, Vítor Bento não pode ser culpabilizado por este desfecho – não lhe era exigível outro comportamento, quando o próprio percebe que chegou ao fim da linha. 

4.    Segundo: Vítor Bento não é banqueiro. Nunca foi. Vítor Bento não tem (nunca teve) experiência a lidar com créditos mal parados, incumprimentos bancários, renegociações de dívida – ou seja, nunca lidou com o “core” da actividade bancária. Se Vítor Bento nunca trabalhou com os problemas caracterizadores da banca em situação de normalidade, seria de esperar que fizesse um bom trabalho em situação de excepcionalidade? A resposta (parece-nos) é negativa. Bento foi, pois, um erro de casting do Banco de Portugal – e de Carlos Costa, em especial. 

5.    Terceiro: quando Carlos Costa, apresentando a Vítor Bento, a divisão entre “banco bom” e “banco mau” como facto consumado, planeando uma venda rápida, deveria logo questionar se a administração e o seu líder estavam alinhados com a estratégia. Se sim, muito bem: haveria uma confiança e um trabalho mútuos, que deveria continuar até ao fim do processo. Se não, Vítor Bento deveria ter sido logo afastado. A bem do próprio Bento – e da estratégia do Banco de Portugal. Agora, qualquer português percebeu que a estratégia de Vítor Bento era outra – e que tencionava seguir o seu caminho, mesmo contra as indicações do regulador. E o Banco de Portugal – e, em especial, Carlos Costa – fica sentado, de braços cruzados, a ver o que Bento faz? É mais um sinal da inércia do Banco de Portugal! Com o ridículo de que, perante as desautorizações que foi infligindo sucessivamente ao Banco de Portugal, foi Bento que escolheu o timing, escolheu a forma e o anúncio da sua demissão! 

6.    Conclusão: quem merce censura nesta trapalhada, não é Vítor Bento – é o Banco de Portugal. Pela sua omissão – o que é , como se sabe, raro no Banco de Portugal…

P.S – Há ironias da vida muito caricatas: o Bento (o Paulo) saiu na quinta; o Bento (o Vítor) no sábado…Não acredito em bruxas, mas…

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