Não quer isto dizer que os outros partidos sejam santos e os socialistas uns malandros. Na verdade, em praticamente todos os partidos há 'chapeladas' dos militantes sempre que se aproximam eleições. Os que são mais carreiristas e controlam as bases tudo fazem para chegar ao poder. É sabido que a 'tralha' das jotas e dos aparelhistas não define a sua conduta pelos ideais mais nobres. Querem safar-se a todo o custo, subir na hierarquia e beneficiar do clientelismo. Por outro lado, também sabem que os líderes só o serão com a sua tão prestimosa ajuda.
Mas o caldeirão das primárias do PS tem todos os ingredientes para uma caldeirada bastante indigesta. Repare-se: quando é que os mortos votavam em Portugal? Pensando um pouco, chegamos à conclusão de que isso só ocorria no tempo do Estado Novo… Nas primárias do PS são vários os defuntos que ressuscitaram com um voto na mão. Também militantes que estão no estrangeiro e não pensam votar nesta eleição interna, não terão grandes hipóteses: algumas almas caridosas do PS trataram de pagar as suas quotas em atraso e, portanto, arriscam-se a que alguém vá votar em seu nome.
Tudo isto é péssimo para o prestígio da classe política. Já não bastava a conversa de taxista, 'eles são todos uns malandros, querem é sacar o deles', para agora aparecerem pessoas próximas dos dois candidatos – o que ganhar terá sérias hipóteses de ser o futuro primeiro-ministro do país – a 'inventarem' militantes e a pagarem quotas abusivamente.
O espectáculo indecoroso não dignifica ninguém e quando se pede transparência na vida e nos dinheiros públicos, estes exemplos não contribuem para nada de bom. A questão que se coloca é: os fins justificam os meios para lá chegarem? Infelizmente, em quase todos os partidos há gente rasteirinha que pensa que sim…