Inverso Inverno

Findos os projectos de Verão, arrumam-se os biquínis, as toalhas de praia voltam para o armário e o foco volta a ser o trabalho, o conforto e os sonhos daquela viagem a um país tropical que nos leve do frio e da chuva.

No entretenimento, as esplanadas e demais espaços ao ar livre queimam os últimos cartuchos e os aquecedores exteriores tentam fazer crer que nada mudou . Mas mudou e vai mudar mais ainda. As opções e os roteiros a percorrer pelos noctívagos mudam-se para áreas interiores onde a temperatura não baixe, a música passa a ser companhia primordial para momentos mais solitários e as noites passam a ter relevo maior e escape para semanas atarefadas em escritórios taciturnos e reuniões intermináveis. Os fins de semana de diversão e copos passam a ter a concorrência das mantas e lareiras, do aconchego dos mais próximos e de um bom filme.

Nas relações é tempo de perceber o que foi de facto esse amor de Verão, a companhia de alguém passa a ser prioritária, escondem-se as caras esquálidas e é tempo de estabilizar os encontros e desencontros que o sol fez nascer. É a altura certa para encontrar quem se quer, uma vez que as ofertas reduzem-se, as férias terminam e os pontos de encontro voltam a ser os de sempre. As discotecas passam a ser momentos únicos para se conhecer novas pessoas e para despertar aquela paixão que pede uma maior profundidade de sentimentos e de atitudes, horários menos preenchidos e mais dedicação, jantares a dois, bares recatados. Passa a fazer mais sentido olhar só para aquela e a causa ganha uma nova motivação.

 As festas temáticas ganham relevo, a comodidade passa a fazer mais sentido, as bebidas frescas substituem-se por cocktails mais perfumados, um bom vinho, um uísque ou até um chá. Os bengaleiros voltam a renascer para guardar a parafernália de adereços que levamos para nos agasalhar. Na pista de dança os olhares são os mesmos mas desta vez soam a maior compromisso, amanhã vai haver tempo para jantar – não há praia nem sunset com amigos. As manhãs de domingo são mais longas e o calor humano mais necessário.

O frio remete-nos para atitudes mais pensadas, menos efémeras, efeitos mais humanos. A noite nem sempre representa más intenções ou objectivos menos claros. É a altura certa para aproveitarmos os amigos e descomprimirmos, pensarmos mais no que queremos e para onde vamos, darmos valor ao que se encontra à nossa volta e percebermos que, sem diversão e um pouco de loucura, a vida é uma seca. Mas sem pessoas que nos valorizem, nos acompanhem e nos querem bem é uma tristeza. O inverso Inverno tem coisas boas, basta saber rentabilizá-las!

Sugestões :

 Clube:

Elinga Teatro (Luanda, Angola)

Músicas:

– Piano Weapon (Instrumental) – Doorly

– Liberate (Lane 8 Remix) – Eric Prydz