Hope Solo: A estranha impunidade da estrela do futebol feminino

   

Ao mesmo tempo que a liga de futebol americano (NFL) expulsa um dos seus mais destacados jogadores por agredir a namorada, Hope Solo mantém um lugar na selecção de futebol (soccer) dos Estados Unidos e contratos milionários com marcas como a Nike. Isto apesar de também estar acusada de violência doméstica.

É a generalidade da imprensa de referência norte-americana que aponta a existência de dois pesos e duas medidas. Em Junho, a guardiã das redes norte-americanas foi detida durante uma noite por suspeita de ter agredido com violência a irmã e o sobrinho de 17 anos numa festa de família. Hope Solo, de 33 anos, declarou-se inocente mas tem julgamento marcado para Novembro.

Apesar do incidente, a atleta foi homenageada esta semana pela US Soccer por ter batido um recorde de jogos sem sofrer golos (17) ao serviço da selecção norte-americana. Na quinta-feira, num encontro contra o México, foi concedida a Solo a honra de jogar com a braçadeira de capitã da equipa. Na NWSL, o campeonato norte-americano de futebol feminino, ninguém põe em causa o lugar da atleta de Washington nos Seattle Reign.

Fora das quatro linhas, a guarda-redes continua a ser a futebolista norte-americana mais procurada pelos fãs que pedem fotografias e autógrafos, mas também pelos jornalistas e pelos patrocinadores. Nike, Electronic Arts, Seiko, BlackBerry ou Gatorade são algumas das marcas que continuam a contar com Solo para campanhas publicitárias pagas a peso de ouro.

A diferença em relação ao que se está a passar na NFL é óbvia. Este mês, o jogador dos Baltimore Ravens Ray Rice foi expulso depois de ter sido divulgado pelo TMZ um vídeo de uma violenta agressão à então noiva (agora mulher) Janay Palmer. O clube de Baltimore rasgou um contrato de 50 milhões de dólares e a liga de futebol americano não quer que o vencedor do Super Bowl de 2012 volte a pisar os relvados.

“Quando Ray Rice, Greg Hardy e Adrian Peterson foram detidos, houve apelos sonoros à sua suspensão. A resposta ao caso de Solo? O som de grilos – menos em dia de jogo, quando o que se ouve são aplausos. Isso é inadmissível”, considera o New York Times.

“Em que medida é que estes casos são diferentes? As futebolistas não são modelos de conduta como os futebolistas?”, questiona o Washington Post, que afirma que “a violência doméstica não é apenas um problema de violência de homens contra mulheres”.

Para já, a reacção oficial da federação americana é a de considerar as acusações de que Solo é alvo como “um assunto pessoal”, defendendo que o desempenho da guardiã nacional em campo “deve ser devidamente reconhecido”. Uma resposta que poderá ser alterada nos próximos meses, com o início do julgamento da bicampeã olímpica.

pedro.guerreiro@sol.pt

(Foto: Helga Esteb / Shutterstock.com)