Ninguém estranhou quando, face à derrota da Selecção Nacional frente à Albânia, o seu nome foi apontado como possível sucessor de Paulo Bento. Foi neste cenário que Fernando Santos se sentou com o SOL à mesa do Hotel Palácio, no Estoril, espaço que marcou a sua vida. Numa longa conversa, falou da paixão pelo futebol e pela engenharia, das experiências na Grécia e em Portugal. E, claro, um dos poucos homens que já treinou Benfica, Sporting e Porto, falou da Selecção Nacional. Mas pouco, procurando evitar especulações. Já depois da demissão de Paulo Bento, numa conversa telefónica, Fernando Santos desculpou-se. Mais parco em palavras do que é normal, preferiu não acrescentar nada ao que já havia dito. Mas há respostas que se adivinham.
É um elogio ver o seu nome ser falado para dirigir a Selecção do próprio país?
Já fui falado tantas vezes… É sempre um elogio quando se é falado para treinar a selecção do nosso país, tal como quando se é falado para treinar os clubes grandes. Mas neste momento não é tema.
Depois de ser um dos quatro técnicos que já treinou os três grandes, sente de alguma forma que só lhe faltaria a Selecção?
Não. Em Portugal faltam-me muitos clubes e alguns que são do meu coração. Neste momento estamos numa situação de grande especulação, e eu não estou interessado em entrar na especulação.
Como viu as mais recentes prestações da Selecção Nacional?
Se me perguntar se gostei do resultado, claro que não! Como não gostei do resultado da Grécia! Faço parte do lote de todos os portugueses que ficaram tristes com o resultado.
Paulo Bento tinha condições para continuar?
Essa questão não é minha. Essa questão prende-se com ele e com a Federação Portuguesa de Futebol. E o primeiro a saber responder é sempre o Paulo Bento, de quem sou amigo e que foi meu jogador.
Está a viver a maior pausa do seu percurso profissional enquanto treinador…
Já estive parado algumas vezes, mas não sei se durante tanto tempo. Talvez só quando saí do Panathinaikos e antes de ir para o Sporting.
O que sente?
Ao princípio é interessante. Há uma fase em que se pensa 'vou descansar um pouco e pôr a cabeça em ordem'. Vou estar com os amigos no Alentejo, vou à pesca… Mas depois passa o primeiro mês e já estou outra vez com a adrenalina a mexer. Já organizei o escritório e os papéis e já me apetece voltar ao campo. Mas quando tomei a decisão de sair da selecção grega sabia que isto podia acontecer. Sabia que, ao nível dos clubes, existiriam sempre dificuldades porque estava no campeonato do mundo e não sabia quando acabava, e esse é o período em que começam a organizar o plantel. Tive uma negociação muito forte com a selecção do Gabão, mas acabámos por não chegar a acordo.
E agora?
Vamos ver. As coisas têm de acontecer naturalmente. Se me pergunta se tive alguns contactos, obviamente que sim. Uns não me interessaram, outros não avançaram como eu queria. A questão do castigo também criou alguma confusão às pessoas. Há algumas federações que me estavam a contactar e puseram essa questão. Mas penso que a questão está a ficar clarificada, basta lerem o regulamento da FIFA. Agora, obviamente que tem algum peso.
Este momento de pausa dá-lhe vontade de ver futebol ou pelo contrário?
Vejo sempre futebol. Até porque tenho de estar actualizado. É preciso ver muitos jogos para sabermos quem são os jogadores que poderemos ir buscar ao mercado. Mas o que mais gosto de fazer é treinar.
Como viu a última derrota da Grécia, a primeira após a sua direcção?
Tenho uma relação muito forte com a Grécia e desejo-lhe sempre o melhor. A relação que tenho com o país e com a gente de lá está no meu coração e portanto não posso ficar satisfeito quando perdem.
Costumavam dizer que o Fernando era 'mais grego que os gregos'. Porquê?
Acho que tem a ver com a forma como sempre interagi. Não foi fácil. Nunca é fácil chegar a um país onde não dominamos a língua e onde a cultura é completamente diferente. Além disso, o AEK foi a minha primeira experiência fora. Mas a partir do momento em que fui conhecendo a cultura, foi-se tornando mais fácil, sobretudo porque tive ao meu lado um ex-jogador meu do Estrela da Amadora, o Velic, que falava grego e me deu a conhecer a cultura. Acho que é fundamental, quando vamos trabalhar para outro país, perceber a cultura do local para onde vamos. Mas no início houve um grande choque entre a minha mentalidade de treinador e o que encontrei da parte dos jogadores.
A que nível?
Tinha muito a ver com horários. Gosto de treinar de manhã porque fisiologicamente é melhor e ainda por cima ali estava muito calor. Quando cheguei, marquei um treino para as 8h da manhã e os capitães foram ter comigo e disseram-me 'Mister, às 8h não é possível'. Perguntei porquê e disseram-me que a essa hora havia muito trânsito, e eu mudei o treino para as 7h, alegando que a essa hora não deveria haver trânsito. E eles disseram-me que então preferiam às 8h. Depois veio um médico explicar-me que psicologicamente não era muito bom para os jogadores treinarem de manhã porque o grego janta muito tarde e depois ainda gosta de estar na rua, na conversa e a beber um copo, portanto deita-se sempre tarde e treinar de manhã ia prejudicar a vida social dos jogadores. Respondi que iam ter de se adaptar. E adaptaram. Lembro-me que, ao princípio, a comunicação social punha em causa a minha forma de treinar, diziam que a equipa não ia aguentar. Não foi um embate fácil, mas quem resolveu a questão foram os próprios jogadores, jogadores influentes para o futebol grego, como o Zagorakis e o Nikolaidis, que passaram a mensagem que eu era diferente e que eles estavam a aprender. O Nikolaidis costumava dizer que, pela primeira vez, estava a ouvir falar de futebol. No total passei 13 anos na Grécia, corri o país todo e fui-me tornando grego. De tal forma que, nesta fase da crise, em que toda a gente batia muito na Grécia, o meu sentimento foi sempre que era uma injustiça o que se dizia e por isso fui reagindo.
Hoje já consegue falar grego?
Percebo bem e falo o suficiente para os amigos me entenderem. Foram 13 anos, mas com interrupções. Não estudei o suficiente e as interrupções não ajudaram porque fora da Grécia não se fala grego. Mas basta dizer alguma coisa errada que os meus amigos perguntam logo o que é que estou a dizer.
Com essa ligação sentimental ao país, como encara a sua saída da selecção?
Não saí magoado com o povo grego, isso nunca seria possível. A decisão foi minha, não aceitei a proposta que me fizeram, fiz uma contraproposta, mas não foi aceite. Nesta questão dos contratos, as duas partes têm de chegar a acordo. E isso não aconteceu. Não aceitei a proposta da federação e portanto estava decidido que ia sair. O que me magoou foi a forma como as coisas aconteceram a seguir. Houve episódios que não esperava depois de quatro anos.
Afinal o que se passou naquele jogo do Mundial frente à Costa Rica?
É verdade que me exaltei e que falei mais alto e que esbracejei, mas nunca ofendi o árbitro. Só o questionei em relação à decisão de a minha equipa não poder continuar em campo quer quando terminaram os 90 minutos, quer quando fomos para a fase de penáltis. E por que questionei? Porque ele me mandou sair e à minha equipa e não fez o mesmo com a Costa Rica, que estava deitada na relva. Ele disse-me que era a lei e que eles também iam sair. Mas eles nunca saíram. Claro que, antes dos penáltis, perante a mesma situação, me exaltei e perguntei por que tinha dois critérios. Ele respondeu que eu não falava assim para ele e eu perguntei porquê. Há imagens que me mostram a dizer 'why, why, why?'. Não disse nenhuma palavra ofensiva ao árbitro.
Ficou desiludido com a federação grega?
O que mais me chocou foi não ter sido notificado. Foi o que me desiludiu e chocou. A federação grega recebeu uma notificação no dia 3 e, no dia 7, enviou essa notificação para o Fyssas e para o Ricardo [Ricardo Santos, treinador-adjunto], que à data já não pertenciam à selecção, pois o vínculo já tinha terminado. Mandaram a notificação para eles e, penso que no dia 8, o Ricardo disse-me que me tinha reenviado um email a dizer que tinha apanhado um jogo de suspensão. Quando vi o email, percebi que tinha de ter respondido até ao dia 9. Deviam-me ter comunicado imediatamente a mim porque o que a notificação dizia é que eu tinha um jogo de suspensão, mas que até dia 9 tinha de apresentar a minha defesa. O que aconteceu foi que não fiz a minha defesa. Mesmo que o Ricardo tivesse reenviado o tal email no dia 8, já não servia de nada. Acabei por ser julgado sem defesa, o que implicou que fosse castigado oito jogos. A partir do momento em que tive conhecimento, falei com o meu advogado e seguimos os trâmites normais: pedir os fundamentos da decisão e apresentar um recurso. Facilmente vou provar que não recebi nada da selecção grega e por isso nem me defendi. Para mim é muito estranho que não me tenham enviado a notificação. Deixou-me alguma mágoa.
Mas enquanto não houver uma decisão em relação ao recurso, está válido o castigo dos oito jogos, o que numa altura em que procura um novo projecto deve dificultar.
Há uma grande confusão que tem aparecido em vários sítios… Este castigo só tem a ver com as selecções A, a FIFA e o campeonato do mundo: as eliminatórias e a fase final. Se fosse disputar o CAN ou o campeonato da Europa não teria nenhum problema. O que não posso é estar no banco nas próximas eliminatórias para o campeonato do mundo da FIFA. Mas espero que, com o recurso, baixem o castigo e possa mesmo ter pena suspensa. Já li o acórdão e obviamente que há coisas que são palavra contra palavra, mas quando se diz que faltei ao respeito porque estive cinco minutos no banco depois de ter sido expulso, o vídeo mostra que estive 2 minutos e 37 segundos. E mais: existe um artigo na lei da FIFA, que diz que o treinador, no caso de ser expulso, pode dar instruções ao adjunto. O que fiz foi dar a lista dos jogadores que iam marcar penáltis. Não sou advogado, mas acho que tenho argumentos. Não tratei mal ninguém, não mordi, não insultei. Mais, uma das coisas que dizem é que tenho 59 anos e que há muitos anos que estou em grandes competições. Isso devia servir para anular o castigo! Acho que a questão central foi não ter feito a minha defesa. E isso compreendo, porque se alguém é acusado de algo e não se defende, parece que há desinteresse. Mas não posso recorrer de uma decisão que não recebi.
Acha que essa atitude teve a ver com a não renovação do vínculo com a selecção?
Acho que sim. Acho que há qualquer coisa que não está bem. Depois de quatro anos ao serviço da selecção, com os resultados que tivemos… não faz nenhum sentido. O único sentido é que as pessoas ficaram melindradas de eu não ter continuado ao serviço da selecção. Não vejo outra razão.
Foi o momento mais triste que viveu enquanto treinador?
Já vivi alguns momentos tristes… O que me marcou mais, mas que também me ensinou, terá sido uma eliminação que tive com o Porto, para a Taça de Portugal, com o Torreense. Mas tive outras tristezas. Há coisas que, no momento, marcam muito, mas não deixam nada para o futuro. O dia em que o presidente do Estoril veio ter comigo ao bar deste hotel para me dizer que eu não ia continuar no Estoril, foi a maior pancada que levei. A minha vida era aqui, nunca tinha pensado ser treinador de futebol e no entanto estava há seis anos e meio no Estoril, tinha conseguido levar a equipa para a Primeira Divisão e de repente dizem-me que vou sair. Não percebi nada. Mas cinco anos depois, foi a melhor coisa que me aconteceu.
Mas isso só deve ter entendido mais tarde.
Pois. Nesse dia cheguei a casa muito chateado e não quis falar com ninguém. Tenho uma amiga, a Patrícia, uma moça linda, professora, que esteve oito meses em coma e está numa cadeira de rodas há muitos anos, e, de repente, tocou o telefone e a minha mulher veio dizer-me que era a Patrícia. E eu dei uma resposta estúpida: 'Agora não', mas a minha mulher disse-me que tinha de atender. Atendi o telefone e a Patrícia só me queria dizer: 'Estou contigo'. Aquilo tocou-me muito. Como é que eu podia estar tão chateado porque fui despedido do Estoril, quando tenho mulher, filhos, casa, emprego, e está toda a gente bem? E tenho alguém que está numa situação muito chata que me liga só para dizer que está comigo. Essa foi a primeira pedrada desse dia. Mais tarde nesse dia, um casal amigo, a Beatriz e o Miguel, que andavam há muito tempo a convidar-me para fazer um curso de cristandade, apareceu lá em casa e disse-me que na semana seguinte ia haver um curso. Eu, um ano ou dois antes, tinha voltado a estar presente na eucaristia, depois de muito tempo afastado da Igreja. Mas fui e isso mudou a minha forma de pensar a vida. Por isso é que digo que o que acontece pode trazer coisas positivas, mesmo quando não parece. Aquilo foi um balde de água fria. Hoje em dia já sei que o futebol é assim, mas na altura, não sabia.
Nasceu a 10 Outubro de 1954, num local emblemático de Lisboa.
Na Maternidade Alfredo da Costa, onde o meu neto nasceu não sei quantos anos depois. O meu pai era de Alfama, da zona da feira da Ladra. A minha mãe era da Quinta dos Peixinhos. E eu cresci na Penha de França, que ficava no meio. Lembro-me de um campo de futebol de terra atrás do quartel de Sapadores.
O que faziam os seus pais?
O meu pai era vendedor de acessórios para automóveis e chegou a ter uma indústria com outros sócios. A minha mãe era doméstica. Os meus pais estiveram juntos até ao fim.
Quando começou a jogar futebol?
Tinha 40 dias quando fui ao meu primeiro jogo de futebol. Os meus pais levaram-me na alcofa à inauguração do Estádio da Luz, no dia 1 de Dezembro de 1954. Deixei de beber leite materno com dois ou três meses porque os meus pais foram ver o Benfica à Covilhã, estava a nevar e a minha mãe deixou de me poder amamentar. Íamos ver futebol todos os fins-de-semana. O meu pai e a minha mãe sempre tiveram lugar cativo, eram completamente apaixonados pelo Benfica. Comecei a jogar com nove ou dez anos, era guarda-redes tal como o meu pai tinha sido, mas oficialmente só comecei aos 15. Um dia estava a jogar à baliza e rasguei as calças. Quando cheguei a casa ralharam comigo e eu decidi que não jogava mais à baliza e que ia passar a avançado. Foi nessa altura que comecei a jogar mais a sério. Havia uns torneios entre escolas e eu comecei a jogar, juntamente com o Inácio, na selecção da escola Afonso Domingos. Depois joguei no Operário, na Associação de Lisboa, no Graça… Mas nunca tive o objectivo de jogar futebol. Sabia que tinha algum jeito mas não pensava ser futebolista. No ano em que estava no Graça, fiz a admissão ao Instituto e entrei para Engenharia. Antes, nas férias, dois amigos que jogavam nos juvenis do Benfica convenceram-me a ir aos treinos de captação. Cheguei lá, deram-me um equipamento e mandaram-me para um campo, com outros 40 miúdos. Era tanta gente a correr atrás da bola que achei que não tinha paciência e fui lá para trás. Ao fim de uns 20 minutos, o Sr. Ângelo chamou-me e perguntou-me a idade. Quando disse 17, mandou-me embora e que fosse ter com ele à sauna. Quando lá chego, pergunta-me se jogo em algum lado. Disse que jogava no Graça e que tinha acabado de entrar em Engenharia. E ele disse-me que o Benfica me dava um conto de reis por mês e ainda me pagava a universidade. Disse logo que sim. Um conto de reis era uma fortuna! Fui para casa convencido que ia ser uma festa.
E não foi?
Fui no eléctrico até casa o tempo todo a sonhar com a alegria que ia dar aos meus pais. Quando cheguei a casa, todo eufórico, disse ao meu pai: 'Vou jogar para o Benfica!'. E ele disse-me: 'Não vais, não'. Ao que eu insisti que ia, que já lá tinha estado e que eles me queriam. E o meu pai só disse: 'Tu vais é estudar'. Tivemos de fazer uma negociação e um compromisso: ia para o futebol, mas se chumbasse saía.
O seu pai chegou a vê-lo jogar profissionalmente?
Sim, sim. E como treinador. O meu pai faleceu em 1997 e eu fui para o Porto em 1998. O meu pai era o meu maior amigo. Era doente por futebol e acompanhou sempre a minha carreira. Mas lá fiquei, só que o Benfica, nesta altura, tinha uns 40 jogadores e os mais novos eram sempre emprestados. Eles queriam que eu fosse para fora de Lisboa, mas isso para mim não fazia sentido. Entretanto, o treinador, o Jimmy Hagan, que se tinha empenhado fortemente para que eu continuasse no Benfica, veio para o Estoril e o primeiro nome que ele aponta é o meu. Nessa altura havia um senhor que fez muito pelo clube, o Lapinha, um construtor famoso aqui no Estoril – que até pôs o Eusébio a fazer um anúncio para ele: 'Quem casa quer casinha, por isso vai ao Lapinha'. Ele propôs-me vir para o Estoril por quatro contos! Aceitei logo, queria lá saber se era terceira divisão.
Uma escala diferente do Benfica, onde passava a vida a cruzar-se com as estrelas…
Eu treinava com eles! Com o Eusébio, Simões, Toni, e muitos outros. Estava num clube que tinha tudo e passei para um clube que não tinha nada. É certo que, em tempos, tinha sido um clube glorioso, mas já não era. A primeira camioneta que o Estoril teve foi nessa época. Lembro-me que tínhamos um jogo em Lagos, mas como tinha exames não fui para baixo na camioneta, fui lá ter, mas fiz a viagem de regresso.
Nessa altura continuava a achar que a sua profissão não era no futebol, mas como engenheiro?
A mensagem do meu pai foi passada de forma veemente, havia esse compromisso. Entendi que era muito mais importante para a minha vida acabar um curso de engenharia do que ir jogar futebol.
E porquê engenharia?
Sempre gostei de matemática. E não fui para os liceus, fui para as escolas técnicas, na Afonso Domingos fiz o curso de montador electricista. Aos 15 anos já tinha a carteira profissional de electricista. Tudo apontava para que seguisse engenharia. Porquê electrotécnica e telecomunicações é que já não sei. Aconteceu. Mas o que é certo é que acabei por nunca trabalhar nessa área especificamente. Acabei o curso em 1977, e 1977/78 estive no Estoril como jogador profissional e no ano seguinte na Madeira, também como profissional.
Esses anos foram os únicos em que foi exclusivamente jogador de futebol?
Sim. Saio do Estoril porque economicamente o contrato não me agradava e tinha recebido o convite do Marítimo que era quase três vezes mais. Tinha acabado de casar e entendi que era bom para a estabilidade da família. Tinha comprado uma casa no Cacém, tinha pedido um empréstimo à Caixa Geral de Depósitos e outro a uma amiga da minha mãe. Até a mobília comprei a prestações. A vida estava a começar. Achei que irmos para a Madeira era bom para nós. Fui eu, a minha mulher e a minha filha Cátia, que já tinha nascido.
Como foi a experiência?
Gostei muito de viver na Madeira. Fui muito bem recebido. A minha mulher deu lá aulas, que era uma das condições do meu contrato. E a época profissional também me correu bem. Eu tinha algum jeito. Mas era um bocadinho calão. Por isso é que toda a gente me chamava o 'Sono'. Percebi mais tarde que não fui mais longe no futebol porque não gostava de treinar. Podia ter feito muito mais no futebol.
E afinal o que o fez deixar de jogar?
Estava no Funchal e os meus pais, numa viagem a Espanha, foram assaltados num semáforo, partiram os vidros do carro e atiraram uma pedra à minha mãe. Depois disso a minha mãe pifou. O meu pai ligou-me a contar isto e a dizer que a minha mãe ia ter comigo à Madeira para descansar. Fui buscá-la ao aeroporto, parecia bem, vinha a contar-me o que se tinha passado e, de repente, passou uma mota por nós e ela descambou. Esteve a ser tratada por um psiquiatra no Funchal e, um dia, ele disse-me que era stresse pós-traumático mas que piorava com o facto de eu estar longe. Nesse período, o presidente do Estoril, o José Benito Garcia, que também era dono do hotel Palácio no Estoril e na Madeira, chamou-me para me convencer a voltar ao Estoril. Comecei por lhe dizer que ele não tinha dinheiro para me pagar, mas depois pensei nos meus pais e disse-lhe que ia, mas se ele me arranjasse emprego como engenheiro.
E regressou ao continente para jogar no Estoril e trabalhar no Hotel Palácio?
Não sabia que era para trabalhar aqui. Cheguei, comecei a treinar, passaram-se uns meses e emprego… nada. E eu disse que não treinava mais e passei a vir para o hall do hotel todos os dias. Sentava-me ali à espera de um emprego e todos os dias a secretária ia lá dizer-me que ainda não havia nada. Um dia veio ter comigo e deu-me um bilhete de avião para a Madeira. Disse-lhe que tinha acabado de vir da Madeira, não ia voltar para lá, mas explicaram-me que era para ir fazer um estágio no hotel Madeira Palácio, porque em Janeiro entrava para o Palácio do Estoril como director de serviços técnicos. Dediquei-me fortemente ao hotel. A minha vida era a engenharia, não era o futebol, apesar de ter continuado a jogar, porque esse era o acordo. Joguei mais cinco anos, até aos 31. Mas deixei de treinar com a equipa, fazia-o mais tarde, sozinho. Mas eu não gostava mesmo de fazê-lo. Lembro-me que uma vez fui treinar, dei duas voltas ao campo, e parei. E disse ao roupeiro que, se o treinador – que era o Jimmy Hagan – perguntasse, eu já tinha treinado. Quando ia a entrar no duche, ele apareceu. 'O senhor não treina?'. Disse que já tinha treinado, ao que ele respondeu: 'Não, que eu estar no pinheiro e ver senhor dar duas voltas. Come on!'. Estive uma hora a subir e a descer escadas.
No hotel fazia um pouco de tudo?
Tudo o que acontecesse neste hotel em termos de obras passava por mim. Tinha 40 homens a trabalhar comigo e nessa altura tudo era feito aqui nas oficinas do hotel. Às 3 horas rebentava um cano, ligavam para minha casa e lá tinha eu de vir. Quando cheguei, parecia um boi a olhar para um palácio. Tinha feito o curso, mas prática não tinha. E havia áreas, como a canalização, das quais não percebia nada. Lembro-me que uma vez houve uma ruptura num quarto e não havia plantas. O mestre Alfredo, um homem brilhante, foi comigo ao quarto, deu uma volta com as mãos atrás das costas e disse para abrirem uma parede. Partiram a parede e realmente o tubo estava ali. Passados uns tempos, estava com um pedreiro e ele explicou-me que ele descobriu os tubos porque estava com as mãos atrás das costas para tocar às escondidas nas paredes e, onde sentiu quente, sabia que era onde os tubos passavam.
Passou por parvo muitas vezes?
Sim. Nunca mais me esqueço que me pediram uma análise de um piso para fazermos a manutenção. Fui lá com uns pintores e o mestre Alfredo e a determinada altura começam a dizer que eram precisos não sei quantos litros de casca de ovo. E eu só pensava que me estavam a gozar. Disse que me tinha esquecido de uma coisa no escritório e que já voltava. Fui a correr ao escritório telefonar para uma loja de tintas e perguntar o que era casca de ovo. Lá me explicaram que era uma tinta que se dava nas portas. Outra vez, chamei o estofador porque era preciso fazer um sofá para um dos corredores e ele pergunta-me se queria estilo capitonê ou inglês? Não fazia ideia do que ele estava a falar. Se me falassem de electricidade ou de caldeiras, eu percebia, mas as outras áreas… Fui aprendendo.
Para quem achava que a sua vida era mais engenharia do que futebol, como chegou a treinador?
Por acaso. Sugeri ao presidente do Estoril convidar o meu afilhado António Fidalgo, que aceitou com a condição que eu o ajudasse. Ele fez um ano fantástico e acabou convidado para o Salgueiro. Ele foi e pediram-me para ficar uns seis meses. Fiquei seis anos e meio. O Estoril estava mal economicamente, mas fomos melhorando até à I Divisão. Depois fiquei mais três anos na I Divisão. E em Março fui para a rua. Aí pensei: 'Acabou-se o futebol'.
Mas não foi o que aconteceu…
Passado uns tempos comecei a sentir o bichinho… E mais do que isso: na altura falava-se muito que havia um gajo com uma história gira, que era engenheiro e treinador. E eu comecei a pensar se teria mesmo jeito ou se só era treinador porque era engenheiro. Comecei a ter vontade de provar a mim mesmo se teria, ou não, jeito. Nessa altura o Estrela da Amadora vem falar comigo. Fui pôr essa questão à direcção do hotel e, depois disso, aceitei, mas ficando no hotel em part time. Nos dois últimos anos acabei por estar cá com licença sem vencimento e só fazia as obras novas, com o Lucien Donat, que foi com quem aprendi quase tudo e que foi meu amigo até partir. As questões do dia-a-dia não era eu que resolvia. Só deixei este hotel definitivamente no dia em que fui para o Porto. Mas mesmo nessa altura disse que assegurava as obras grandes. Ainda hoje tenho licença sem vencimento do hotel. E o dono pergunta-me muitas vezes se é agora que vou voltar.
Como chegou ao Porto?
A primeira vez que o Pinto da Costa me ligou, foi para ir treinar o Rio Ave, tinha eu acabado de sair do Estoril. Lembro-me que estava aqui no hotel e ligam-me a dizer que o Sr. Pinto da Costa queria falar comigo. Disse para se deixarem de brincadeiras, mas lá percebi que era a sério. O Pinto da Costa explicou-me que tinha um amigo que era presidente do Rio Ave e que ele achava que eu poderia ajudar o clube. Agradeci e disse que não estava interessado, que a minha vida era o hotel. Três anos e tal depois, estava a jantar com dois amigos, o António Tavares-Teles e o Manuel Pinto Coelho, e o António precisou de lhe ligar e comentou que estava a jantar comigo. O presidente disse que ia precisar de falar comigo, para eu gravar o número dele. Depois do jantar liguei-lhe e ele disse-me que se o António Oliveira saísse eu era uma das possibilidades. E pediu-me para não me comprometer com ninguém sem falar com ele. Entretanto comecei a ter clubes interessados e liguei-lhe a avisá-lo – um deles era o Guimarães, com o Pimenta Machado. E o Pinto da Costa continuou a pedir-me para não me comprometer, que falava comigo a seguir à final da Taça. O Porto ganhou a taça e nisto liga-me o presidente do Braga a dizer que quer falar comigo. Logo de seguida, liga-me o Pinto da Costa a dizer que o António ia mesmo embora e que no dia seguinte ele vinha falar comigo. E nisto liga-me outra vez o presidente do Braga a dizer que no dia a seguir ia ter comigo ao hotel. E eu menti-lhe que não ia trabalhar. Nesse dia à noite fui ao Altis e viemos para minha casa. Ele sentou-se à mesa, pôs-se a brincar com os meus cães e disse: 'O cavalo passa à porta uma vez e a gente ou monta ou não monta'.
Como é que a família encarou a mudança?
Antes de aceitar reuni com a minha família e eles disseram que eu tinha de ir, que eles segurariam o barco. A família é que sofreu, mas também só uma família especial como a minha conseguiria aceitar isto. Foi a minha mulher a mentora de tudo isto, foi ela que segurou sempre tudo – quando estava no Porto, por exemplo, tomámos a decisão de não desenraizar os nosso filhos e por isso eles ficaram e a minha mulher todos os fins-de-semana ia ter comigo.
Sentiu que finalmente estava na Primeira Liga do futebol?
Só pensava no meu pai, que tinha morrido um ano antes. Sei que teria sentido uma alegria imensa. Mas depois sentia uma nostalgia enorme do hotel, que é algo que ainda hoje tenho. Às vezes tinha vontade de ligar só para saber como estavam as coisas aqui no hotel. Ainda hoje venho aqui regularmente e gosto de ir lá para baixo conversar com as pessoas e visitar as máquinas, as cozinhas, as oficinas… E toda a gente me continua a tratar como se ainda fosse o engenheiro desta casa.
Ficará sempre na história do Porto como o Engenheiro do Penta.
Isso nunca vai passar. Com muita pena para a secretária aqui do hotel que, no dia a seguir, quando leu no jornal 'O Engenheiro do Penta', ligou para a redacção do Record, muito aflita, a dizer que eu era engenheiro do hotel Palácio, não do hotel Penta. É claro que marca, porque é uma coisa histórica no futebol português. Mas não fui só eu! Eu fui o último, mas se não houvesse o Robson e o Oliveira, eu não poderia ganhar o quinto.
A pressão, num clube como o Porto, é gigante?
Sim. Os clubes grandes têm isso. E eu senti-o na pele. Quando cheguei ao Porto era o Mouro, o Beato, o Benfiquista. Depois, quando voltei para Lisboa, era visto como alguém que ganhou o campeonato pelo Porto. O futebol é uma coisa muito irracional. Mas no Benfica foi mais pesado porque muita gente, e até algumas pessoas que me eram próximas, deixaram de me falar porque nunca aceitaram que fosse para o Porto. No Benfica, quando perdia, as pessoas atacavam-me logo muito. Sentia isso na rua, nos restaurantes. Ouvia bocas ao ponto de ter de sair com a família para não me chatear.
Que género de bocas?
Muito duras. Mas se reajo quem fica mal sou eu. Tive um ou outro episódio em que reagi e acabou por sobrar para mim, as pessoas viraram-se contra mim. Por isso começamos a viver fechados na casa, na família e nos amigos. Passa-se a ser um bicho-do-mato.
Há a ideia que as claques dos clubes grandes são muito agressivas…
E são. Uma vez, no Porto, estive com duas mil pessoas à minha volta. Foi a seguir ao jogo com o Torreense. Lembro-me perfeitamente de o presidente me dizer que não ia para o carro sozinho. Fui, arranquei e estavam umas duas mil pessoas à minha espera. Parei, abri a porta e fui falar com eles. Sei que foi um risco, mas não sou capaz de sair por trás. Claro que corremos o risco de aparecer um maluco que perde o controlo. Esta máxima que se muda de religião, de mulher, mas nunca de clube, continua a existir. Mas eu não a partilho. Posso mudar é de clube porque de religião e de mulher não vou mudar nunca.
Mudar de equipa enquanto treinador quer dizer mudar a cor do coração?
Como treinador não temos coração. Quando estou num clube, quero é que esse clube ganhe. Quando treinei o Porto, não queria que o Benfica ganhasse. Isto é ser profissional.
Como é a sua relação com Pinto da Costa?
Pessoalmente e profissionalmente foi sempre muito forte. Talvez por estar sozinho no Porto, desde muito cedo criámos uma relação forte, que ia além da profissional. Jantávamos muitas vezes em família, falávamos de muitas outras coisas, é um homem muito culto. Podemos conversar sobre pintura, poesia, música…
Existe Porto depois de Pinto da Costa?
Sim, mas será outro Porto, diferente. É um homem que marcou a história do Futebol Clube do Porto.
Apesar desse lado que referiu, de um homem culto, o seu nome surge sempre associado às polémicas futebolísticas…
Não estou a fazer nenhuma defesa, mas é preciso ver que há duas pessoas: o Jorge Nuno e o Pinto da Costa. O Pinto da Costa é alguém que, um dia, percebeu que os clubes de futebol se deveriam profissionalizar. E ele foi o primeiro presidente profissional de um clube. E depois ele juntou o Porto, clube, e o Porto, cidade. E por estas duas bandeiras faria tudo.
O que quer dizer com isso?
Não matava, seguramente.
A corrupção anda sempre de mão dada com o futebol?
Nunca vi ninguém vender-se. Nem tentativas de comprar. Acredito que houvesse algumas trocas de favores.
Sentiu-se nesse papel de estarem à espera de alguma coisa de si?
Não, não. Comigo essas coisas não são fáceis. Acho que toda a gente sabia que não valia a pena aliciarem. Essas coisas acontecem a quem permite. Tive uma escola muito forte que foi este hotel. Lembro-me que logo no início me quiseram dar uma televisão por causa da instalação do ar condicionado. Desde cedo aprendi que certas coisas não se podem misturar. Claro que no Natal nos deixavam umas garrafas de vinho, mas em 17 anos no hotel, nunca ninguém me corrompeu.
É preciso um controlo mais fechado?
Temos casos, fora do futebol, e bem recentes, em que o controlo se calhar não aconteceu. Claro que o tráfico de influências não devia existir, mas também não podemos transportar isto só para algumas áreas como o futebol. É transversal a várias áreas. E em alguns casos acho que até é inconsciente. Há pessoas que não sei se têm a certeza do que estão a fazer. Não ponho as mãos no fogo. Posso-me queimar. Agora, gajos a dar dinheiro, nunca vi. Mas estas coisas para se falarem têm de ser provadas. É verdade que já ouvi, todos já ouvimos, mas nunca vi. Que acredito que pode acontecer, acredito. Os árbitros quando erram são humanos, mas é verdade que em algumas ocasiões o erro é um bocado estranho.
Luís Filipe Vieira diz que o maior erro que cometeu enquanto presidente do Benfica foi despedi-lo. Sentiu-se injustiçado?
Senti, muito. Se tivesse acabado a época e ele me tivesse dito que tinha de sair porque não tínhamos atingido os resultados, ficaria injustiçado porque acho que, com as condições que tive, fizemos um bom trabalho. Sentir-me-ia injustiçado por não ser julgado pelo trabalho, mas apenas pelos resultados. Mas mais injustiçado me senti quando me dizem que o trabalho foi excelente e que vamos ser campeões na próxima época, preparo-me para uma nova época e, de repente, vai-se embora o Simão, o Manuel Fernandes afinal já não vem e eu fico outra vez com uma equipa para construir. E empato no primeiro jogo, contra o Leixões, e o presidente diz que me vou embora. Disse-lhe logo que me sentia profundamente injustiçado. Percebi que ele próprio não estava cómodo com o que estava a fazer e que tinha sido pressionado. Há uma primeira fase de incompatibilização porque logo a seguir vem o Camacho e eu descubro que eles tinham estado de férias juntos. Mas depois isso passa, até porque eu e o Luís Filipe Vieira sempre tivemos muito boa relação. Jogávamos juntos à sueca, que eu adoro jogar cartas e sou bom jogador. Ao fim de alguns meses, depois da saída do Camacho, ele assumiu que cometeu um erro.
Ficou com a sensação que ficaram coisas por fazer?
Tenho a certeza. No Benfica e no Sporting. Não acabei o trabalho e acho que em qualquer um deles teria sido campeão se me tivessem deixado. No Sporting ainda posso compreender que as coisas correram pior, mas no Benfica não.
Apesar de não poder haver coração, quando treinou o Benfica estava finalmente no clube dos seus pais e do seu coração…
Obviamente que se sente ainda maior responsabilidade. Quando fui apresentado estava lá um sócio muito antigo, o Máximo, que há muitos anos tinha ido ver uma final do Benfica comigo, numa excursão. Lembro-me de olhar para ele e ele estar de lágrima no olho. Isso mexeu comigo. E pensei muito no meu pai.
Nunca negou a sua fé. Isso choca de alguma forma com o futebol?
Não afecta em nada. Se as pessoas acham estranho não deviam achar. A minha profissão não colide com a minha convicção religiosa. Tal como não colide na gestão de uma equipa, mesmo que tenha sensibilidades diferentes. Se não percebem, o problema é das pessoas.
No início disse que esteve afastado da Igreja. Quando se zangou com a fé?
Nunca me zanguei. Afastei-me. Fui educado de forma católica, mas o meu pai nunca frequentou a igreja. Aos nove anos, o catequista queria que eu fosse juiz numa peça, mas eu só me ria cada vez que batia com o martelo. Ele disse que eu não podia rir e eu nunca mais lá fui. Naquela idade, as miúdas e o futebol eram mais interessantes que a igreja. Mas nunca me zanguei com a fé porque rezava todas as noites. Se não o fizesse não conseguia adormecer. Ainda hoje faço as mesmas orações. A partir dos 16 é que começo a questionar tudo e aí há um afastamento consciente. Ainda assim, todas as noites fazia a mesma oração. Acho que a fé nunca me abandonou. Por alguma razão casei pela Igreja, pus o meu filho a estudar nos Salesianos e a minha filha no Amor de Deus. E baptizei-os.
Por falar em baptismo: tem noção de quantas pessoas o tratam por padrinho?
Entre afilhados de casamento e baptismo tenho mais de 50. Fui a mais de 500 baptizados e casamentos. Tive uma fase que entrava e saía para fumar um cigarro. Mas depois, quando os filhos chegam à fase dos crismas, os pais têm de começar a pensar no que se passa ali. Um dia vinha com um sacerdote a uma inauguração e pedi para falar com ele. Fomos almoçar e ele deu-me um livro chamado A Fé Explicada, que entre outras coisas me ajudou com questões que me baralhavam, como o pecado e o inferno. A partir daí comecei a sentir necessidade de me aproximar da Igreja e até da eucaristia. Depois faço o tal curso de cristandade.
O que mudou com esse curso ao ponto de sentir que tinha de passar para os outros o que tinha aprendido e começar a dar cursos e palestras?
Descobri que Cristo estava vivo e esta descoberta não a posso guardar só para mim. Respeito muito as outras opiniões, mas exijo que também respeitem a minha forma de pensar. Por que é que os livros de ciência estão todos certos, mas a Bíblia é toda fantasia? Acredito que as pessoas nasceram para ser felizes. Mas não sabemos muito bem o que é ser feliz. Eu encontrei a minha felicidade no caminho da fé, porque há uma palavra que antes não percebia e que passei a entender, e que é amor. Era uma palavra que não fazia muito sentido para mim. Era uma coisa piegas. Mas amor é muito mais que tudo, é o altruísmo total.
Quando há fé há uma relação mais apaziguada com a morte?
Claro. Faço parte do comum dos mortais, e a morte é uma coisa que temos muita dificuldade em aceitar. Não a nossa, mas a dos outros. E quando nos preocupamos com a nossa própria morte, é porque nos preocupamos com aqueles que ficam. Mas se acredito na ressurreição, acredito que essas pessoas irão ter paz e que é possível um dia voltar a encontrá-las. E isso dá tranquilidade. Acredito que ainda vou encontrar o meu pai.