“Na sequência do vulcão dos Capelinhos houve, pela primeira vez na história das relações bilaterais entre Portugal e os EUA, no dia 02 de Setembro de 1958, a passagem da lei ‘Azorean Refugee Act’ que, inicialmente, atribuiu 1.500 vistos, valor que foi substancialmente aumentado para as pessoas que tinham sofrido os efeitos terríveis desta catástrofe natural”, disse à agência Lusa o professor universitário Luís Andrade, especialista em relação internacionais, a propósito dos 57 anos sa erupção dos Capelinhos, na ilha do Faial, que se assinalam no sábado.
Luís Andrade explicou que John F. Kennedy (JFK) era, na altura, senador pelo estado de Massachusetts e contou com o apoio nesta iniciativa de outro senador, eleito pelo estado de Rhode Island, também ele democrata, John Pastore, fazendo aprovar esta legislação que surgiu para além da quota regular de imigração estabelecida.
O professor catedrático da Universidade dos Açores considera que este foi um “acontecimento extremamente importante” por os EUA terem “aberto as portas" à emigração açoriana e, sobretudo, da ilha do Faial.
O especialista em relações internacionais frisou que o deputado estadual Joseph Perry, também do estado de Rhode Island, desempenhou um papel importante neste processo, mas foi o senador Kennedy que teve um “papel determinante”.
“Os açorianos e os portugueses em geral, e concretamente os faialenses, devem estar extremamente agradecidos ao governo dos EUA de então, na medida em que este permitiu que houvesse essa janela de oportunidade”, considerou.
O professor universitário destacou a relação de proximidade que entretanto a comunidade de emigrantes desenvolveu com o clã Kennedy como “sinal de reconhecimento” por JFK ter intercedido junto do Congresso norte-americano.
A lei “Azorean Refugee Act” permitiu que milhares de açorianos, que não apenas as vítimas do vulcão dos Capelinhos, aproveitassem a janela de oportunidade criada, melhorando substancialmente a sua qualidade de vida em território norte-americano.
Luís Andrade explicou que numa primeira fase foram concedidos 1.500 vistos destinados a chefes de família da ilha do Faial que emigrassem até 30 de Junho de 1960. Uma emenda posterior alargou para 2.100 o número de vistos, o que permitiu que 2.500 famílias emigrassem, num total de cerca de 12 mil pessoas.
Devido ao mecanismo de reunificação familiar, nas décadas seguintes mais de 175 mil açorianos partiram para os EUA.
Apesar de não ter causado vítimas mortais, a erupção dos Capelinhos, que se estendeu por 13 meses, desalojou milhares de faialenses.
Lusa/SOL