Segundo fontes diplomáticas, na intervenção inicial da primeira sessão de trabalho do Grupo de Arraiolos, que decorre até terça-feira no Mosteiro de Tibães, em Braga, o Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, fez um enquadramento do tema da primeira reunião – a energia – abordando a questão da crise na Ucrânia e a dependência energética da Europa.
"A energia é um ponto fraco da Europa", disse Cavaco Silva.
No seu discurso, e falando perante os outros chefes de Estado que participam neste 10.º encontro do Grupo de Arraiolos, Cavaco Silva defendeu a necessidade da diversificação de fornecedores, da criação de infra-estruturas e interligações em matéria de energia e alertou para a inexistência de um mercado interno de energia.
A este propósito, enfatizando a dependência energética da União Europeia, o Presidente da República português recordou que apenas quatro Estados-membros não recorrem ao gás natural que vem da Rússia – Portugal, Espanha, Irlanda e Reino-Unido – sendo que existem seis Estados-membros que estão 100% dependentes em matéria energética daquele país do leste europeu.
Desta forma, continuou Cavaco Silva, a crise na Ucrânia sublinha a necessidade da Europa agir em conjunto com o objectivo de garantir fornecimento sustentável e competitivo de energia aos seus cidadãos e às suas economias.
"A energia é hoje uma prioridade absoluta no quadro das políticas externas da União Europeia", frisou, insistindo na necessidade de se completar o mercado interno energético, designadamente através da construção das infra-estruturas que estão em falta.
Por outro lado, acrescentou, é preciso apostar no reforço da cooperação regional e no avanço do chamado 3º pacote de energia da União Europeia, bem como aumentar a capacidade de armazenamento do gás natural e do gás natural liquefeito.
O reforço das interligações dos gasodutos permitiria um maior fluxo de fornecimentos entre o leste e o ocidente europeus e vice-versa, notou Cavaco Silva, sustentando que, se todas as interligações fossem construídas, a península ibérica só por si poderia fornecer 40% do gás que actualmente a Rússia fornece aos estados membros da União Europeia.
Assim, concluiu, são necessárias mais ligações físicas, já que algumas regiões europeias, nomeadamente a península ibérica e os estados bálticos ainda estão ligados de forma precária em matéria de ligações de gás natural ao resto do continente.
O Grupo de Arraiolos foi criado em 2003 pelo então Presidente da República Jorge Sampaio e desde essa data junta informalmente, com periodicidade anual, os chefes de Estado de Portugal, Alemanha, Áustria, Eslovénia, Finlândia, Hungria, Itália, Letónia e Polónia – fundamentalmente, sem poderes executivos.
O objectivo dos encontros é proporcionar um debate aberto e informal entre os chefes de Estado destes países, designadamente sobre questões europeias.
Este ano, não estão presentes os representantes da Eslovénia e de Itália, mas, à semelhança, do que já aconteceu o ano passado, irão participar como convidados os chefes de Estado da Bulgária e da Estónia.
Ausente estará também o ex-chefe de Estado Jorge Sampaio, que tinha sido convidado para fazer o ‘keynote speech' da segunda sessão de trabalho, subordinada ao tema da imigração. Contudo, uma indisposição no sábado obrigou-o a cancelar todos os compromissos previstos para esta semana.
Lusa/SOL