Anarquia em Caracas

A morte do deputado Robert Serra, que aos 27 anos era uma estrela em ascensão no chavista Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), serviu de rastilho para confrontos entre a Polícia e grupos paramilitares que na última semana fizeram pelo menos cinco mortos em Caracas.

Anarquia em Caracas

Na terça-feira, na capital, uma batalha de oito horas decorreu no edifício que é quartel-general do Escudo da Revolução – um dos muitos grupos que serviram de braços armados da revolução socialista de Hugo Chávez. O ministro do Interior, Justiça e Paz, Miguel Rodríguez Torres, garantiu que a rusga resultou de uma investigação de meses contra membros acusados de vários homicídios.

Mas uma das vítimas da batalha, José Odremán, desmentiu a tese em conversa com jornalistas horas antes de ser abatido. Durante um impasse no tiroteio, Odremán, antigo sargento da extinta Polícia Metropolitana que agora liderava o Escudo da Revolução, disse que a “matemática não falha”, quando questionado se a operação estava relacionada com a morte de Serra, um deputado que ganhou estatuto na organização de manifestações pró-Governo durante a onda de protestos estudantis de 2007.

Odremán aproveitou a aparição pública para responsabilizar o ministro Torres: “Se alguma coisa me acontecer será responsabilidade sua. Já foram sacrificados demasiados camaradas”. Após se conhecer a morte de Odremán, foram publicadas fotos suas junto do também já falecido Hugo Chávez, assim como ao lado da mulher do actual Presidente, Nicolás Maduro.

O líder venezuelano considerou a morte do deputado Serra como um “ataque premeditado e calculado”, motivado por “ódio, vingança, para tirar do caminho e enviar uma mensagem de ódio à juventude que se levanta”. Também o ministro Rodríguez Torres falou de uma “encomenda macabra”, que ligou a “terroristas da extrema-direita venezuelana e a grupos paramilitares colombianos”.

Tanto a morte de Serra como a batalha que se seguiu com o grupo paramilitar da esquerda venezuelana mostra a anarquia reinante tanto no país como dentro do Governo. Um estado que se reflecte cada vez mais na economia venezuelana e no dia-a-dia dos seus habitantes.

Dias depois de a Economist escrever que a Venezuela tem “provavelmente a economia com a pior gestão do mundo”, a Reuters ilustrou o que essa gestão significa para a população. Num artigo em que recorda a inflação anual superior a 63%, a agência dá exemplos de preços como um quilo de cenouras por 15 euros, um cabo de vassoura por 20 euros, ou uma televisão LCD a mais de cinco mil euros.

nuno.e.lima@sol.pt