Além da maior compreensão em relação à homossexualidade (e mesmo uniões gay, ler aqui), também quanto às uniões de facto, a contracepção e os divorciados parece mostrar-se uma nova abertura.
O tom do relatório intermédio que sintetiza o debate sobre a família até ao momento realizado e que hoje foi lido pelo cardeal húngaro Peter Erdo, é de “quase revolucionária aceitação, muito mais do que condenação”, analisa a Associated Press (AP).
Um exemplo é a chamada de atenção sobre a encíclica Humanae Vitae, de 1967, que “sublinha a necessidade de respeitar a dignidade da pessoa na avaliação moral dos métodos de contracepção”.
Por outro lado, o conceito da chamada “lei da gradualidade” – os fiéis devem dar um passo de cada vez na procura da santidade – tem sido muito discutido, nomeadamente em relação ao controlo da natalidade. E, segundo a AP, aplicá-lo neste campo implicaria reconhecer que a maioria dos católicos já usa formas de contracepção artificiais, contra a doutrina. Mas esse reconhecimento também encorajaria o clero a ir ao encontro dos fiéis, ajudando-os a entender as razões da Igreja, de forma a que a elas adiram por sua vontade.
Quanto às uniões de facto, a “realidade positiva dos casamentos civis” e até da coabitação deve ser compreendida, determina o relatório, na esperança de que o casal eventualmente se comprometa num casamento religioso.
Também no caso das “famílias feridas” pela separação ou o divórcio, a maioria dos bispos reclama “escolhas pastorais corajosas”, escreve a Agência Ecclesia, instituição da Igreja católica. Os divorciados que não voltaram a casar são convidados a “encontrar na Eucaristia o alimento que as apoie no seu estado”.
Mas, sobre uma das questões que mais divide os bispos, a comunhão de divorciados que voltam a casar sem o casamento religioso anulado, propõe-se uma solução caso a caso, mas defendendo que é preciso um “discernimento atento” e um acompanhamento “cheio de respeito” para evitar qualquer discriminação: “Tratar-se ia de uma possibilidade não generalizada, fruto de um discernimento feito caso a caso, segundo uma lei de gradualidade, que tenha presente a distinção ente estado de pecado, estado de graça e circunstâncias atenuantes”, cita a Ecclesia.
Estas posições não estão, no entanto, a agradar aos sectores mais conservadores, que têm manifestado desconforto desde que o Papa Francisco iniciou o seu pontificado. “O que é que os pais católicos irão dizer aos seus filhos sobre a contracepção, uniões de facto ou homossexualidade?”. Esta é a pergunta de Maria Madise, a coordenadora da organização Voice of the Family, que reúne elementos conservadores e contra o aborto. “Estes pais irão ter que dizer aos filhos que o Vaticano prega que há aspectos positivos e construtivos nesses pecados mortais?”, questiona, citada pela AP.
*Com AP