Luta pela PT

A tempestade gerada pelo polémico investimento na Rioforte não está a afastar possíveis compradores da PT Portugal. Além da Altice há outras empresas a estudar a compra da operadora.

O investimento na Rioforte continua a causar danos na Portugal Telecom (PT) e na Oi. O descontentamento alastrou aos Governos português e brasileiro, que na última semanas lançaram duras críticas à gestão da PT. Porém, a polémica aplicação parece não estar a tirar o ‘apetite’ pela PT Portugal – entidade que detém a actividade da empresa em território nacional.

Apesar da Altice, dona da Cabovisão e da Oni, ter sido a única a manifestar publicamente o interesse em comprar a operadora, há outras empresas a estudar o negócio e já em contacto com sociedades de advogados portuguesas, soube o SOL.

A maioria dos possíveis interessados serão grupos de telecomunicações europeus, mas o interesse pode chegar também a outros continentes.

A Oi já admitiu que a BTG Pactual, uma empresa de assessoria financeira contratada pela operadora brasileira, foi contactada «por diversos interessados em obter informações sobre os negócios da PT Portugal». Esta semana, o presidente executivo da Oi, Bayard Gontijo, garantiu à Reuters que o objectivo é manter a fusão. Mas não excluiu a hipótese de posteriormente vender a operação em Portugal. O responsável, que substitui Zeinal Bava deste esta terça-feira, confirmou que a companhia está a ponderar a venda de activos não estratégicos para pagar a dívida crescente.

Mais perto do divórcio?

Na quinta-feira, a Oi deu mais um passo para concluir a fusão, tendo agendado uma assembleia-geral para dia 18 de Novembro. Os accionistas serão chamados a votar o agrupamento de diferentes categorias de acções da empresa numa só acção. Trata-se de uma medida prevista na simplificação da operadora, no âmbito do caderno de encargos do ‘casamento’ com a PT.

Para concretizar a fusão falta ainda a aprovação da criação da nova empresa CorpCo, que será votada numa assembleia-geral diferente. E todo o processo terá ainda de ser aprovado pelos reguladores de mercado brasileiro (CVM) e norte-americano (SEC).

Apesar de não haver um calendário previsto para estas aprovações, tudo indica que a Oi está empenhada em concluir a fusão. O que poderá também levar ao divórcio o mais rápido possível – tendo em conta as intenções do grupo brasileiro, que está focado na consolidação no Brasil, de vender os activos não estratégicos como a PT Portugal.

O buraco de 900 milhões de euros causado pelo investimento da PT na Rioforte já levou a duas baixas de peso: Henrique Granadeiro (ex-presidente executivo da PT SGPS) e Zeinal Bava (ex-líder da Oi). Ambos apresentaram demissão depois da tempestade gerada pelo investimento.

Críticas sobem de tom

Nos últimos meses têm decorrido auditorias para tentar encontrar os gestores responsáveis pelo investimento. A única concluída até ao momento, da comissão interna da PT, foi inconclusiva. Dentro de alguns dias será a vez da auditora independente PricewaterhouseCoopers apresentar as suas conclusões.

Como os culpados da aplicação não são conhecidos, têm chovido críticas à gestão da PT, incluindo do Governo brasileiro. O ministro das Comunicações daquele país, Paulo Bernardo, acusou a PT de contribuir para «um desfalque» na Oi. «Não podemos ignorar e talvez isso tenha tido como consequência a não participação da Oi no leilão [para licença de quarta geração móvel], o que acho negativo para a empresa», lamentou.

Por cá, o secretário de Estado das Comunicações, Sérgio Monteiro, também apontou o dedo: «Quando uma empresa com a relevância da PT se vê nesta situação não é bom para o mercado nem para o país».

O ministro da Economia português também teceu duras críticas. Em declarações ao Expresso, Pires de Lima disse que a desvalorização da PT em bolsa «é um exemplo chocante da destruição de valor» e «de uma gestão captada por interesses próprios». O governante acusou ainda os gestores da PT de serem «especialistas na compra de prémios internacionais».

Apesar de não ter mencionado nomes, as declarações foram interpretadas como sendo dirigidas a Bava. Nos últimos anos, o gestor ganhou cinco vezes o prémio de melhor CEO da Europa. A maioria dos prémios foi atribuída pela Institutional Investor Magazine, que garantiu ao SOL que nem os prémios nem as nomeações são pagos. «São analistas de vários bancos de investimento que votam nos gestores», detalhou fonte oficial da entidade. A Deloitte também assegurou que os prémios que atribuiu não são pagos: «Nem uma taxa de inscrição existe».

sara.ribeiro@sol.pt