"Frequentemente, quando se coloca no debate público o tema das grandes ameaças e [se questiona sobre] qual é o pior cenário que nos pode acontecer, ouvimos que o pior que nos pode acontecer é termos um outro resgate. O pior que nos pode acontecer provavelmente é não termos um outro resgate se precisarmos", disse a governante.
Para Maria Luís Albuquerque, que falava na abertura de um jantar-debate organizado hoje em Lisboa pelo Clube Português da Imprensa, pelo Grémio Literário e pelo Centro Nacional de Cultura, este é "um cenário que aparentemente é considerado inconcebível mas que não parece tão inconcebível assim".
A ministra defendeu que, "se [Portugal] voltar a precisar de pedir ajuda, não deve assumir que essa ajuda estará sempre e necessariamente disponível".
"Cabe-nos a todos garantir que esse cenário não se volta a colocar e, por isso, temos de reflectir sobre aquilo que podemos fazer para evitar que o país volte a encontrar-se na situação em que se encontrou", reiterou.
Durante a sua intervenção, que demorou cerca de meia hora, Maria Luís Albuquerque disse ter "uma enorme confiança" no país, mas alertou para os desafios que persistem e que têm de ser debatidos e atacados.
Entre os desafios apontados pela ministra das Finanças estão o envelhecimento do país, as competências e as qualificações da população e a "crónica falta de capital das empresas", sejam elas grandes ou pequenas, públicas ou privadas.
A respeito da "subcapitalização" as empresas portuguesas, Maria Luís Albuquerque afirmou que os bancos, que agora estão capitalizados e que existem para conceder crédito ao sector não financeiro, enfrentam actualmente "um dilema impossível".
"Ou emprestam às empresas que não têm capital e consomem o seu capital por terem mais risco ou não emprestam e consomem o seu capital por não terem rentabilidade", resumiu a governante, defendendo que, "se não existir capital no país", Portugal deve ir "buscar o capital lá fora", sem ter "problemas ou complexos com isso".
Maria Luís Albuquerque concluiu o seu discurso com uma nota positiva, respondendo às três perguntas que serviram de mote ao debate: "que moeda, que economia e que futuro?".
"A moeda claramente o euro, a economia assente na iniciativa privada, nos sectores transaccionáveis, sem rendas e sem sustentar artificialmente aquilo que não tem viabilidade económica porque a prazo sai sempre mais caro. O futuro? Duro no imediato, mas sem nenhuma razão objectiva para que não possa ser melhor a médio prazo e o médio prazo chega num instante", concluiu.
Lusa/SOL