Dizia que seria uma “formiguinha” em Bruxelas, mas dois meses depois admitia sair do Parlamento Europeu para concorrer às eleições legislativas, deixando a porta aberta para as presidenciais. Há umas semanas, faltou mesmo aos trabalhos parlamentares. Fez a campanha eleitoral concentrado em mostrar que seria diferente dos políticos e a apelar à transparência. Por isso, o facto de ter dito que o salário dos deputados “não é digno” e de não ter revelado se recebeu um subsídio de reintegração da Ordem dos Advogados de 54 mil euros pode manchar a imagem que alcançou junto dos eleitores.
“A mensagem e a base de apelo eleitoral era a da moralização da política e a de que ele é diferente dos outros. Este tipo de questões, independentemente de serem verdade, marcam a imagem”, afirma ao SOL o politólogo Carlos Jalali. Além disso, a mudança de atitude “não inspira confiança aos eleitores”, refere o politólogo André Freire. “Neste percurso errático parece haver uma urgência de protagonismo mas não se percebe o projecto”, explica.
O histórico do PS, Eurico Figueiredo, que integra o novo partido de Marinho Pinto, o PDR, garante que há uma “campanha orquestrada”. “Há uma intenção de destruir o homem porque tem força demais, convicções demais”, acredita.
Marinho Pinto foi acusado de populismo e, entre os partidos, notou-se o receio da sua ascensão. Agora a preocupação diminui. “O livro de Camilo Castelo Branco, A Queda de um Anjo, é muito útil. Marinho Pinto é o Calisto Elói do séc. XXI. Não lhe antevejo grande futuro”, diz o ex-ministro do PS Augusto Santos Silva. O romance satírico traça o percurso de um fidalgo minhoto, conservador e defensor da moral e dos bons costumes que, ao ser eleito para o parlamento, se perde nos encantos da vida da capital.
Santos Silva compara ainda a “degradação” da imagem de Marinho Pinto à de Fernando Nobre e argumenta que o ex-bastonário da Ordem dos Advogados beneficiou do “problema do PS”. “O PS alimentou muitos dos seus votos, mas a direcção mudou e portanto não há margem de progressão”, diz.
O deputado do PSD Duarte Marques concorda que “o fenómeno Marinho se vai extinguir por si próprio”. Para o social-democrata, “um populista não pode ser apanhado em erros, porque o estigma é muito maior”. Os erros dos partidos e a descrença na política foram aproveitados por Marinho Pinto durante a campanha. “Apregoa a moral e ética mas comete esses erros. Pela boca morre o peixe”, remata Duarte Marques.
Além das recentes polémicas, André Freire nota que a criação de um novo partido pode ser uma “jogada arriscada”. E explica que as eleições europeias, por serem de círculo único, são mais favoráveis aos pequenos partidos do que as legislativas, que implicam uma logística e suporte financeiro mais pesados.
Contudo, na última sondagem da Universidade Católica, Marinho aparece como o terceiro líder mais popular, depois de António Costa e Jerónimo de Sousa. Eurico Figueiredo acredita que “quanto mais lhe dão pancada, mais Marinho se levanta”. Dizia Mark Twain: “As notícias sobre a minha morte são exageradas”. Também no caso de Marinho Pinto ainda é cedo para decretar a sua morte política.