“Não acredito que nos próximos tempos regresse à política activa”, afirma ao SOL o deputado Renato Sampaio, apoiante de primeira hora de Sócrates.
Uma das críticas recorrentes a António José Seguro enquanto líder do PS foi o facto de ignorar Sócrates. Durante o debate do Orçamento do Estado, o líder da bancada já indicado por António Costa, Ferro Rodrigues, fez questão de o elogiar.
A defesa do ex-primeiro-ministro é agora feita na bancada socialista. O discurso de Ferro Rodrigues no debate do Orçamento foi visto como uma “forma de puxar as orelhas aos obliteradores, aos que apagam parte da História”, refere o deputado José Magalhães. Para o colega de bancada Jorge Lacão há uma “obsessão de assassinato político” da direita em relação a Sócrates e lembra que Costa já defendeu que a História do partido é “para ser assumida integralmente”. Opinião partilhada pelo deputado João Galamba que diz haver um “trauma psicanalítico com Sócrates que continua a afectar muita gente em Portugal”.
Mas dos elogios até à reabilitação para uma eventual candidatura à Presidência da República vai um passo de gigante. Não foi por acaso que o ex-primeiro-ministro não participou na campanha das primárias. “Ainda não vi ninguém entre os socialistas mais activos a colocar a hipótese José Sócrates. Não está nos planos de ninguém”, afirma ao SOL fonte do núcleo político de Costa. “Acho que não é recuperável, pelo menos num futuro próximo. Se Guterres for para secretário-geral da ONU, não é José Sócrates a alternativa”, considera um dirigente socialista.
Apesar de recentes notícias darem conta que António Guterres possa estar mais interessado num cargo na ONU do que em Belém, os socialistas não querem pensar nessa hipótese. “Se assim for, não se perceberia as declarações de Jorge Coelho a defender a candidatura de Guterres”, refere a mesma fonte próxima de Costa. Jorge Coelho, ex-homem forte do aparelho do PS e braço-direito de Guterres no seu consulado governativo, afirmou que a candidatura de Guterres “seria das muito poucas coisas” que o fariam regressar à vida política activa.
Mesmo com o regresso adiado, o fantasma de Sócrates paira sobre a cabeça dos socialistas. Primeiro como arma de arremesso nas primárias – a “tralha socrática” -, agora com a mais recente polémica sobre a sua (ainda falta de) condecoração por Cavaco Silva. E quanto mais vezes Sócrates está no olho do furacão, mais a direita agradece.
Direita suspira por Sócrates
No PSD e CDS deseja-se o regresso de Sócrates. Quanto mais o ex-primeiro-ministro for conotado com a liderança de Costa melhor, dizem ao SOL fontes da maioria. O elogio de Ferro Rodrigues durante o debate do Orçamento do Estado para 2015 foi de imediato usado pela direita. E no reaparecimento de figuras do socratismo vêm-se novas oportunidades para 'assustar' os portugueses com um regresso ao passado, ao défice e ao despesismo.
Ainda na passa quinta-feira Nuno Melo, vice-presidente do CDS, chamava precisamente a atenção para a reabilitação do ex-primeiro-ministro do PS para as presidenciais, numa espécie de whisfull thinking. “Há já quem assegure que, confiando na memória eleitoral que tende a ser curta, Sócrates se sinta reabilitado e decidido a candidatar-se à Presidência da República”, escreveu no Diário Económico.
*com Sofia Rainho e Manuel A. Magalhães