No final de uma reunião dos dirigentes do SEP para avaliar o apelo do Ministério da Saúde para os enfermeiros reconsiderarem as datas da greve nacional, tendo em conta o "cenário extraordinário" do surto de legionella, o dirigente sindical José Carlos Martins disse que esta não é uma questão suficiente para desconvocar o protesto.
"Um surto de legionella não justifica a desconvocação da greve nacional", disse José Carlos Martins aos jornalistas.
Para o SEP, se o Ministério da Saúde acha mesmo importante desconvocar a greve, isso seria possível se tivesse respondido a um conjunto de reivindicações que o sindicato tem vindo a apresentar, como medidas para acabar com a exaustão dos profissionais ou a não admissão de mais funcionários.
José Carlos Martins assegurou que, havendo necessidade, designadamente ao nível de Lisboa, poderão existir alguns ajustes.
"Haverá um número ajustado, em cada equipa e em cada hospital, a essa situação concreta", disse.
Segundo José Carlos Martins, "a Direcção-Geral da Saúde e o Ministério da Saúde sabem que, mesmo em greve, os enfermeiros prestarão os cuidados necessários".
O Ministério da Saúde pediu ao SEP para reconsiderar as datas da greve nacional, tendo em conta o "cenário extraordinário" do surto de legionella.
Numa carta, com data de quarta-feira e a que a Lusa teve acesso, o Ministério afirma recear que a greve, a acontecer nos dias anunciados, "possa comprometer a prestação de cuidados de saúde", considerando que estão em causa "necessidades em saúde indispensáveis e inadiáveis".
"Sem questionar o direito constitucional à greve, solicita-se que, tendo em conta o interesse público e o cenário epidemiológico extraordinário actual, se dignem avaliar a oportunidade da paragem laboral já decretada, as consequências nos cuidados prestados às pessoas e a percepção social sobre a greve e os seus riscos", refere a carta, assinada pelo secretário de Estado da Saúde, Manuel Teixeira.
O Ministério argumenta que o surto de legionella "ainda não se encontra debelado, podendo ainda aumentar o número de doentes com necessidade de cuidados de saúde" bem como a necessidade de recursos humanos, nomeadamente enfermeiros.
Indica ainda que não é possível estimar a evolução do número de infectados por legionella, nem quantificar o número de enfermeiros indispensáveis para assegurar os cuidados de saúde exigidos.
"(…) nesta situação de desafio excepcional torna-se ainda mais importante que todos os agentes do sector demonstrem o grau de profissionalismo e responsabilidade que tem sido a chave do sucesso na resposta aos desafios do momento", refere também a carta dirigida ao presidente do SEP.
O SEP anunciou no início da semana uma greve nacional de dois dias, esta sexta-feira e dia 21 deste mês, em protesto pelos cortes salariais nas horas extraordinárias, exigindo a progressão na carreira e a reposição das 35 horas de trabalho semanais.
O surto de legionella com origem no concelho de Vila Franca de Xira infetou, até quarta-feira, 302 pessoas e o número de mortos pode subir para nove, segundo dados oficiais.
Num comunicado com a situação actualizada até às 15:00 de quarta-feira, a Direcção-Geral da Saúde (DGS) fala também em nove mortes, explicando que cinco deles morreram de facto devido à legionella e que os outros quatro permanecem em investigação.
A confirmarem-se os quatro casos, sobe para nove o número de mortos.
A legionella, que provoca pneumonias graves e pode ser mortal, foi detectada na sexta-feira, no concelho de Vila Franca de Xira
A doença do legionário, provocada pela bactéria 'Legionella pneumophila', contrai-se por inalação de gotículas de vapor de água contaminada (aerossóis) de dimensões tão pequenas que transportam a bactéria para os pulmões, depositando-a nos alvéolos pulmonares.
Lusa/SOL