Socialistas tentam afastar sombra de Sócrates

A prisão preventiva de José Sócrates é a mais grave medida aplicada a um ex-primeiro-ministro em Portugal. Uma sombra que vai pairar no Congresso do PS este fim-de-semana, onde António Costa será consagrado secretário-geral, e que os socialistas tentam afastar com todas as forças. 

“Sou amigo pessoal de José Sócrates. É um momento difícil, temos que o viver como uma questão pessoal. Importante agora é garantir que a separação entre política e justiça não é apenas uma frase feita, é uma prática”, afirmou o deputado socialista João Galamba.

Questionado sobre se esta questão poderá ensombrar o Congresso, Galamba respondeu mais uma vez que “a democracia vive da separação” entre justiça e política. “A detenção faz parte de um processo judicial e é assim que se deve manter”, concluiu.

Também o deputado João Soares se definiu como “amigo pessoal” de José Sócrates e considerou a prisão preventiva uma “decisão injusta e injustificada”. Assumiu que este é um “momento difícil” para o PS mas que o partido ultrapassará. “É uma dificuldade que deve ser assumida como tal. O PS sabe fazer face às dificuldades, já passámos por dificuldades tão grandes ou maiores que estas. O PS vai vencer as próximas eleições legislativas”, garantiu. 

À entrada para o plenário, onde está a decorrer a votação final global do Orçamento do Estado, o líder parlamentar socialista, Ferro Rodrigues, garantia que o partido vai distinguir os sentimentos da sua acção política. “António Costa pediu que se distinguissem os sentimentos normais de amizade pessoal que existem com o engenheiro José Sócrates da necessidade de o PS continuar a desenvolver as suas políticas de oposição e de alternativa a este Governo. É isso mesmo que hoje se passará [na Assembleia da República] e é isso mesmo que se passará no Congresso do PS deste [próximo] fim-de-semana", disse. Mas não deixou de enviar um “abraço” à família: “Do ponto de vista pessoal, em termos afectuosos, quero enviar um abraço à família de José Sócrates e, nomeadamente, aos seus dois filhos”. 

Apesar da proximidade de alguns deputados com o ex-primeiro-ministro, nesta altura os elogios são tímidos. “Eu aprendi a conhecer um homem lutador, que pensava no país em primeiro lugar e é essa esperança que eu mantenho relativamente ao desfecho deste processo", afirmou a deputada e ex-ministra da Cultura de Sócrates, Gabriela Canavilhas. 

A dúvida sobre a fundamentação da medida de coacção aplica a José Sócrates também tem sido levantada pelos socialistas. “É estranho que não se conheçam os fundamentos da detenção”, afirmou a presidente cessante, Maria de Belém Roseira. “Do ponto de vista pessoal, gostaria de ter mais informação sobre aquilo que se está a passar, não posso esconder alguma incredulidade em relação a tudo isto”, disse o deputado Vitalino Canas. 

Os socialistas tentam afastar os danos colaterais que a detenção de Sócrates possa trazer para o PS. Para a deputada, este caso não irá manchar o partido. “Há uma enorme tentação de manchar as instituições através das pessoas. As instituições são uma coisa e as pessoas são outra. O que devemos preservar em democracia é o bom nome dos partidos”. Também Vitalino Canas acredita que o “PS, como grande instituição histórica, com a sua relação com os portugueses, suportará bem a situação”. 

sonia.cerdeira@sol.pt