Depois do debate de segunda-feira, em que o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Junker, voltou a dizer que não é "o amigo do grande capital", a propósito dos acordos secretos feitos entre o Luxemburgo e mais de 300 multinacionais para pagarem menos impostos, a moção de censura será votada esta quinta-feira.
No entanto, deverá estar condenada ao fracasso já que tanto o grupo do Partido Popular Europeu como os Socialistas europeus não a vão apoiar.
Entre os deputados portugueses também não deverá haver um único voto favorável à moção da autoria dos eurocépticos populistas do grupo Liberdade e Democracia, do britânico Nigel Farage, que conseguiram recolher as assinaturas necessárias junto de parlamentares não inscritos e de extrema-direita, como Marine Le Pen, presidente da Frente Nacional.
Carlos Zorrinho disse à Lusa que os socialistas vão votar contra a moção, já que consideram que "não há qualquer vantagem para o futuro da União Europeia em derrubar" a equipa da Comissão Europeia, liderada por Jean-Claude Juncker.
Em vez disso, querem aproveitar este momento para "corrigir práticas" que são "lesivas da equidade" entre os países e vão propor um comité para – como foi feito com a intervenção da 'troika' nos países resgatados – avaliar o que se passou e propor alterações.
Como seria de esperar, também os eurodeputados do PSD votarão contra, disse à Lusa Paulo Rangel, acrescentando que o seu grupo europeu está disposto a apoiar uma comissão que procure saber "como eliminar um conjunto de distorções a nível das políticas fiscais".
Afirmou ainda que apoiarão todas as iniciativas do presidente da Comissão "no sentido de proceder a maior harmonização fiscal", apesar de as que existem serem sobretudo no sentido de maior transparência.
Também Nuno Melo, do CDS-PP e eleito na lista da coligação Aliança Portugal (PSD e CDS), irá recusar a censura a Juncker, até porque parte de "deputados que têm como propósito a destruição do projecto europeu".
Já os eurodeputados do PCP e do Bloco de Esquerda (BE) vão abster-se uma vez que, apesar de o seu grupo parlamentar ter tentado recolher apoios com vista à moção de censura, recusarão associar-se a forças populistas e de direita.
"A nossa moção tinha um âmbito alargado. Esta moção de Farage e Le Pen é um ataque ao homem, enquanto a nossa era de carácter político, contra as politicas que houve de fraude e evasão fiscal e de que Juncker foi responsável", afirmou a bloquista Marisa Matias.
"Se a moção de censura da extrema-direita critica Juncker pelo conhecimento destas práticas, não põe em causa o sistema que Juncker representa e que viabiliza estas práticas", disse, por seu lado, o comunista João Ferreira que vê nesta iniciativa uma "tentativa oportunista de explorar um sentimento de censura por parte da população".
O eurodeputado lembrou mesmo que Nigel Farage nunca pôs em causa práticas semelhantes existentes no seu país, o Reino Unido.
OS grupos parlamentares à esquerda trabalham agora para conseguir as assinaturas necessárias a uma comissão de inquérito.
Por fim, também José Inácio Faria e Marinho Pinto não votarão a moção de censura.
"No MPT somos favoráveis à harmonização fiscal e a combater estas práticas, mas uma coisa é ir ao centro da questão e resolver o q existe e outra é crucificar Juncker", explicou José Inácio, do Movimento do Partido da Terra (MPT).
Marinho e Pinto disse que censuraria Juncker noutra circunstância, mas que não se pode juntar a "pessoas que são pela destruição da Europa", considerando que muitas delas são "racistas e xenófobas".
"Eu sou contra esta Europa, mas sou pela reforma e não destruição", afirmou o ex-bastonário da Ordem dos Advogados, eleito pelo MPT e que entretanto se desvinculou para fundar o Partido Democrático Republicano (PDR).
Lusa/SOL