O que é o Check-In?
O projecto trabalha com jovens com consumos não problemáticos de substâncias psicoactivas associados a contextos festivos, como festas, festivais de Verão, raves… Em 2007, foi financiado pelo ADIS Sida e começou a intervir na zona do Porto e em festivais. O financiamento terminou e a APDES (Associação Piaget para o Desenvolvimento) optou por seguir outros financiamentos que lhe permitissem manter o trabalho. Isso levou-nos até Viseu e Lisboa. Entretanto, devido a falta de financiamento, a intervenção tornou-se muito pontual nestes dois locais. Agora voltámos, com três técnicos em Lisboa e dois em Viseu.
Porquê Viseu?
Tem uma forte noite académica e é uma cidade média, com dois focos de intervenção: a zona da Sé, mais frequentada por locais, e outra junto ao Instituto Politécnico, mais académica. Em 2008, decidimos concorrer para Viseu com a perspectiva de trabalhar a temática do álcool em contexto académico. O trabalho foi sempre baseado em parcerias locais, com o Governo Civil, a autarquia, vários bares e discotecas, além do Instituto Português da Juventude. Criámos uma campanha que trabalhava a questão do consumo do álcool associado à condução. Percebemos que os jovens conhecem bem o efeito do álcool, mas não sabem qual é o efeito no corpo.
Como caracteriza a noite de Lisboa?
É muito diversa. Há dois anos, diagnosticámos quatro zonas: o Bairro Alto, com a noite mais generalista e muitos turistas; o Cais do Sodré, mais 'decadente chique', com uma noite mais alternativa e que começou a mudar quando pintaram a rua de cor-de-rosa; Santos, que tinha uma noite para os mais jovens, com uma classe etária predominante dos 15 aos 25, mas também com alguns afters na zona; e as Docas, em Alcântara. Neste momento, o roteiro do Check-in é muito variado, tanto pode estar na Bica, que tem um contexto e um público mais velho, com um background sociocultural mais elevado, como estar numa noite de música electrónica num bar no Cais do Sodré ou numa festa de trance nas Docas ou em Santos.
O Check-in não pode estar a promover o consumo?
A nossa experiência mostra que é um projecto que atrai pessoas que já consomem. Quem não o faz, aproxima-se para perguntar outras coisas mais relacionadas com sexualidade e álcool, que é uma coisa que a maior parte das pessoas consome. Além disso, procuramos adaptar o nosso discurso e a informação que disponibilizamos ao contexto. Se formos para Santos, há muitos flyers que não vamos disponibilizar. Temos na rectaguarda ou na mochila, para uma eventualidade. Quando vamos a escolas, o nosso discurso altera-se e tratamos questões mais relacionadas com a pressão dos amigos, a decisão informada, o saber dizer 'não' e a própria vivência de contextos festivos, que é muitas vezes negligenciada. O sair à noite tem uma importância cada vez mais maior para as camadas mais jovens na transição para a idade adulta. Costumamos trabalhar o antes, o durante e o depois da festa, que pode ter ou não consumos associados.
Ainda são muito consumidas as chamadas novas substâncias psicoactivas, que eram vendidas nas smartshop, entretanto proibidas?
O consumo das novas substâncias tem muita expressão em alguns países europeus, sobretudo no Leste. Em Portugal, quando as smartshop estavam abertas, muitas pessoas contavam que consumiam essas substâncias por uma questão de acessibilidade e porque havia uma percepção de risco mais baixa. Mas, com o impacto mediático que o tema teve, o discurso mudou. Os consumidores frequentemente relatavam más experiências com essas drogas. Se consumirem uma catinona como MDMA, por exemplo, é óbvio que facilmente ficam sobre-estimulados e têm efeitos desagradáveis. E não trocaram as substâncias tradicionais pelas novas.