Inimiga pública n.º1 de Caracas

Em Junho, o Presidente venezuelano não poupou nas palavras e chamou-a de “assassina e magnicida” – uma acusação ‘premonitória’ que a justiça venezuelana pareceu confirmar nesta quarta-feira, ao indiciar formalmente Maria Corina Machado de estar envolvida na conspiração para matar Nicolás Maduro. Se for condenada, a ex-deputada pelo estado de Miranda pode ser castigada com…

Inimiga pública n.º1 de Caracas

Antes de ser ouvida por procuradores do Ministério Público em Caracas, Maria Corina (à cabeça das manifestações populares do início do ano contra o Governo de Nicolás Maduro, assumindo maior protagonismo após a detenção de Leopoldo López, outro líder oposicionista) mostrava-se tranquila – e desafiadora: “Não cometi qualquer delito. Vou à Procuradoria enfrentar a infâmia de um poder judicial que de joelhos obedece às ordens de Miraflores”, denunciou, aludindo ao palácio presidencial.

“Este é o preço que tenho de pagar por dizer que na Venezuela há uma ditadura”, antecipou então à AP. Horas depois era tornada pública a acusação.

Os planos para a alegada conspiração foram denunciados por Jorge Rodríguez – ex-vice-PR e membro do Partido Socialista Unido da Venezuela, no poder – que apresentou trocas de emails entre opositores: a veracidade dessas missivas electrónicas foi desmentida pelos implicados, que afirmam terem sido forjadas pelos serviços secretos.

Outra acha para a fogueira

Se ficar detida, Maria Corina pode ter o destino de Leopoldo López, líder do partido Vontade Popular detido desde Fevereiro, que continua a aguardar julgamento na prisão militar de Ramo Verde. Os advogados de López queixam-se de não lhes ter sido apresentada qualquer prova que sustente as acusações de incitação à violência, conspiração, vandalismo e fogo posto que pendem sobre aquele político da oposição. As Nações Unidas já tinham recomendado a libertação imediata de López, cuja mulher, Lilian Tintori, tem apoiado publicamente Maria Corina Machado. 

O julgamento da ex-deputada (sumariamente destituída em Março) será mais gasolina para a fogueira de instabilidade social. Se já no início do ano, milhares barricaram as ruas – e mais de 40 morreram – em protesto contra a falta de segurança e de bens essenciais, com a queda do preço do petróleo (que representa 95% das exportações do país sul-americano) prevê-se mais escassez e mais violência. E mais dores de cabeça para Nicolás Maduro. O sucessor de Hugo Chávez já se debate com um índice de aprovação em queda (era de 24,5% em Novembro).

As redes sociais fervilham com campanhas de apoio, como #YoEstoyConMariaCorina, no Twitter – onde a ex-legisladora tem mais de dois milhões de seguidores. A Igreja Católica já tinha repudiado um “julgamento injustificado” da política, uma condenação partilhada por organizações da sociedade civil e pela oposição.

ana.c.camara@sol.pt