Antes de ser ouvida por procuradores do Ministério Público em Caracas, Maria Corina (à cabeça das manifestações populares do início do ano contra o Governo de Nicolás Maduro, assumindo maior protagonismo após a detenção de Leopoldo López, outro líder oposicionista) mostrava-se tranquila – e desafiadora: “Não cometi qualquer delito. Vou à Procuradoria enfrentar a infâmia de um poder judicial que de joelhos obedece às ordens de Miraflores”, denunciou, aludindo ao palácio presidencial.
“Este é o preço que tenho de pagar por dizer que na Venezuela há uma ditadura”, antecipou então à AP. Horas depois era tornada pública a acusação.
Os planos para a alegada conspiração foram denunciados por Jorge Rodríguez – ex-vice-PR e membro do Partido Socialista Unido da Venezuela, no poder – que apresentou trocas de emails entre opositores: a veracidade dessas missivas electrónicas foi desmentida pelos implicados, que afirmam terem sido forjadas pelos serviços secretos.
Outra acha para a fogueira
Se ficar detida, Maria Corina pode ter o destino de Leopoldo López, líder do partido Vontade Popular detido desde Fevereiro, que continua a aguardar julgamento na prisão militar de Ramo Verde. Os advogados de López queixam-se de não lhes ter sido apresentada qualquer prova que sustente as acusações de incitação à violência, conspiração, vandalismo e fogo posto que pendem sobre aquele político da oposição. As Nações Unidas já tinham recomendado a libertação imediata de López, cuja mulher, Lilian Tintori, tem apoiado publicamente Maria Corina Machado.
O julgamento da ex-deputada (sumariamente destituída em Março) será mais gasolina para a fogueira de instabilidade social. Se já no início do ano, milhares barricaram as ruas – e mais de 40 morreram – em protesto contra a falta de segurança e de bens essenciais, com a queda do preço do petróleo (que representa 95% das exportações do país sul-americano) prevê-se mais escassez e mais violência. E mais dores de cabeça para Nicolás Maduro. O sucessor de Hugo Chávez já se debate com um índice de aprovação em queda (era de 24,5% em Novembro).
As redes sociais fervilham com campanhas de apoio, como #YoEstoyConMariaCorina, no Twitter – onde a ex-legisladora tem mais de dois milhões de seguidores. A Igreja Católica já tinha repudiado um “julgamento injustificado” da política, uma condenação partilhada por organizações da sociedade civil e pela oposição.