Das manifestações maioritariamente pacíficas em Nova Iorque aos protestos mais violentos da Califórnia, o país mobilizou-se para mostrar indignação face ao racismo que aparenta estar na base das acções policiais e das decisões judiciais. “Existe uma preocupação por parte de várias minorias que consideram que as autoridades não lidam com elas da forma mais justa”, reconheceu o Presidente Barack Obama, garantindo que não desistirá “enquanto não se vir um fortalecimento da confiança e da responsabilização que existe entre as comunidades e as autoridades”.
Obama foi talvez dos mais moderados dirigentes políticos do país a reagir à decisão do júri de Nova Iorque. “A decisão de não seguir para julgamento é um erro judiciário e mostra claramente que a igualdade perante a lei não existe para todos os norte-americanos”, considerou Hakeem Jeffries, um congressista democrata eleito em Brooklyn.
Hoje, milhares de pessoas juntaram-se em Washington para protestar, mais uma vez, contra a morte de indivíduos negros perpetradas pela polícia. Uma das pessoas presentes era Esaw Garner, a mulher Eric Garner, o homem morto junto ao cais de Staten Island.
Ninguém consegue respirar
Se no caso de Ferguson o júri foi informado sobre as causas da morte de Michael Brown através da audição de testemunhas, algumas com relatos contraditórios, a morte de Eric Garner foi filmada e vista por milhões de pessoas, facto que agrava a ira popular. “Havia um vídeo! Como poderemos ganhar? Nunca ganharemos”, disse ao New York Times um dos manifestantes que saiu à rua depois de ouvir o veredicto.
Protestos que se alastraram a cidades como Boston, Chicago, Cleveland ou Portland, entre muitas outras. As últimas palavras de Eric Garner – “não consigo respirar” – foram repetidas vezes sem conta por todo o país, tanto pelos anónimos que invadiram as ruas como pelas principais estrelas do desporto, que na jornada do fim-de-semana se repetiram em acções de solidariedade.
Mas foi na Califórnia, Estado que já durante o movimento dos Direitos Civis dos anos 60 do século passado se tinha destacado pela violência dos protestos, que as autoridades se depararam com mais dificuldades: mais de 200 pessoas foram detidas em três dias e noites de protesto marcados pela destruição de lojas, estradas e linhas ferroviárias cortadas – além dos confrontos com a polícia.
Em Nova Iorque, o mayor Bill de Blasio disse que “as pessoas têm de saber que a vida dos negros e dos mulatos vale tanto como a dos brancos”. E, sem atacar a acção policial no caso de Garner, anunciou medidas com que pretende evitar repetições do episódio. Cerca de 35 milhões de dólares serão investidos na formação de 22 mil polícias da cidade, a qual será dedicada à forma como os agentes procedem a detenções. De Blasio confirmou ainda que a cidade irá avançar com o plano de inserir câmaras de vídeo na farda dos polícias, de forma a registar as suas interacções com a população.