Terça-feira, em declarações aos jornalistas à margem da discussão do Orçamento da Madeira para 2015, o governante questionou: «Quem é que lhe diz que é o último [Orçamento Regional]? O mundo vai dar muitas voltas». «Posso voltar à política, ninguém me impede (…) Se voltar à política, é para a presidência do Governo», acrescentou.
Ora, o único dos seis candidatos à liderança do PSD-M que admite indicar outro nome para a presidência do Governo é Jaime Ramos. E não é provável sequer que passe à segunda volta nas eleições directas internas marcadas para 19 de Dezembro.
A 7 de Dezembro, num artigo de opinião publicado no Jornal da Madeira, Jardim escreveu: «Há mais vida para além do PSD».
A 14 de Março deste ano, afirmou estar «cansado» do partido: «Não estou cansado da Madeira, estou cansado do PSD-Madeira», disse. Já antes, a 27 de Abril, no encerramento do congresso da JSD-M, Jardim havia ameaçado voltar «com o vigor de um jovem de 19 anos» caso não houvesse «juízo» e «unidade» na sua sucessão.
Esta semana, confrontado com a hipótese de deixar o PSD e abraçar outro partido (também se fala da transformação do FAMA-Fórum Autonomia da Madeira em partido político, embora não vá a tempo das regionais de 2015), Jardim respondeu: «Já conheci muita gente no PSD e muitos já não estão lá».
Segundo fontes contactadas pelo SOL, a 'ameaça' do líder do PSD-M, depois de ter garantido que sairia a 12 de Janeiro, não passa de bluff e as suas últimas declarações revelam dificuldade em deixar o poder.
A 30 de Novembro, PPM e PDA aceitaram dar cobertura jurídico-constitucional à Plataforma Democrática de Cidadãos para concorrer às regionais de 2015. Jardim nutre alguma simpatia pelo movimento Madeira-Autonomia, cujo presidente está na génese da plataforma, mas não é crível que nele encontre a sua 'barriga de aluguer'.
Quanto ao futuro político de Jardim, o mais certo é que, no imediato, a partir de Janeiro, assuma o lugar de deputado na Assembleia da República – para onde tem sido sucessivamente eleito ao longo dos últimos 38 anos (é o político português há mais tempo no poder, tendo ultrapassado Salazar a 10 de Junho último).
A possibilidade ficou mais forte depois de o PSD ter movido processos disciplinares aos quatro deputados da Madeira que votaram contra o Orçamento do Estado para 2015. Mas Jardim não tem perfil para ser deputado em São Bento e, não tendo aceite ser deputado europeu em 2014, um dos cenários é poder ser candidato 'desalinhado' ou anti-regime à Presidência da República, em 2016.
Eleições antecipadas?
Quanto à Madeira, Cavaco Silva, no cumprimento de normas constitucionais e prazos legais, poderá convocar eleições regionais antecipadas para Abril do próximo ano, se o novo líder do PSD-M o entender.
A lei eleitoral obriga Cavaco Silva a marcar eleições com a antecedência mínima de 55 dias, em caso de dissolução do parlamento regional – como fez em 2007, quando Jardim se demitiu por causa da Lei de Finanças Regionais. Este cenário de demissão e recandidatura de Jardim, porém, agora não se coloca.
Os candidatos à liderança do PSD-M mais próximos de Jardim são João Cunha e Silva e Manuel António Correia. O primeiro é o único dos seis candidatos que não concorda com a antecipação de eleições regionais.
O líder regional do CDS já avisou que, se Jardim não apresentar a sua demissão a 12 de Janeiro, no dia seguinte o seu partido apresentará na Assembleia Regional uma moção de censura ao Governo – que poderá ser viabilizada, face à actual divisão dos deputados 'laranja' nas escolhas internas dos candidatos.
Na corrida ao PSD-M, há três nomes que levam vantagem: o ex-presidente da Câmara do Funchal, Miguel Albuquerque, o vice-presidente de Jardim, João Cunha e Silva, e o secretário regional, Manuel António Correia.
Uma sondagem publicada a 25 de Julho pelo DN-Madeira dava a Miguel Albuquerque 41,4% das intenções de voto, 21,5% a Cunha e Silva, 8,1% a Sérgio Marques, 4,8% a Jaime Ramos, 3,8% a Manuel António Correia e 2,7% a Miguel de Sousa. Mais recentemente, a 19 de Novembro, uma outra sondagem colocou a incerteza no candidato que passa à 2.ª volta: 33% para Miguel Albuquerque, 18% para Manuel António Correia e 16,5% para João Cunha e Silva.
Nestas eleições internas estão inscritos cerca de sete mil militantes. Em 2012, o Funchal tinha um peso de 48% dos militantes face às zonas rurais. Hoje, o peso do Funchal – onde Miguel Albuquerque tem a sua base eleitoral – é de 32%.