É prática comum reagirmos às boas acções por impulso, e isso é positivo porque degenera em outras boas atitudes, mas também é verdade que não são poucas as ocasiões em que damos esperando algo em troca. Ou um carinho, ou amor, reconhecimento, respeito, um favor que será cobrado mais tarde, dinheiro, fama ou a abertura para alguma expectativa social, pessoal ou profissional.
Não somos piores por isso, acredito que quanto mais boas acções forem feitas melhor será o mundo e dessa forma devemos estimular e transformar essas razões em formas de estar e torná-las prática comum. A sensação de melhorarmos o dia de alguém seja de que forma for dá-nos algo que é impagável e que não se explica por palavras mas que representa fisicamente aquele sentimento mais cheio, de profundidade absoluta e de orgulho em nós próprios.
O que sei é que fazê-lo sem estar à espera de nada em troca não é assim tão fácil, exige desprendimento e uma cultura social sofisticada. E quando o fazemos por vezes apercebemo-nos da estranheza do outro lado, por estes gestos serem tão residuais. Esperamos logicamente mais dos nossos familiares e amigos e menos dos que nos são mais distantes, mas acredito que em qualquer dos casos não há como experimentar a sensação.
Há quem me acuse de fazer um certo striptease emocional nas minhas crónicas, de contar histórias que se passam comigo de uma forma tão real que me exponho demasiado. Eu acho o contrário, se não conseguir chegar às pessoas que me lêem desta forma simples e apaixonada, se não vos fizer sentir que já passaram pelo mesmo e que sabem do que estou a falar não será nunca a mesma coisa. É uma troca de experiências genuína de quem escreve para quem lê.
Foi o que me aconteceu este ano. Um tal de Pedro, pessoa que nem me era próxima, resolveu ter uma série de atitudes comigo que me tornaram uma pessoa melhor e que me abriu caminho a novos objectivos. E para quê? Para nada, fê-lo porque sentiu vontade, porque se sentiu com certeza bem. É por isso que lhe dedico esta crónica, a ele e a todos os que dia após dia ajudam e dão aos idosos, aos indefesos, às crianças, aos mais pobres e aos mais solitários. Dão porque são maiores, mais completos mais perfeitos. Não há perfeição como a que nos impele a dar sem receber.