O preço do petróleo

O preço do Brent caiu 50 dólares em 2014 (45%), como consequência do aumento da produção nos EUA, da desaceleração económica global e da decisão da OPEP de proteger a sua quota de mercado.  Alguns analistas prevêem que o preço do barril poderá mesmo alcançar os 40 dólares durante o próximo ano. Os primeiros efeitos…

De ponto de económico esta quebra representa uma bonança para as economias importadores líquidas de petróleo. Em termos teóricos,  os efeitos no produto ocorrem predominantemente por duas vias: a redução dos custos de produção das empresas que usam petróleo como input e aumento do rendimento das famílias. Estes dois efeitos permitem inferir que a queda acentuada do preço do petróleo aumentará o produto e contribuirá para criar emprego, sendo estes efeitos tanto mais fortes quanto mais duradoura for a redução do preço.

Quanto valem estes efeitos não é inteiramente claro. Para os EUA e a UE, alguns analistas estimam que uma queda de $25 no preço do barril traduz-se num aumento de um quarto de um ponto percentual no crescimento do produto -um valor importante dada a dimensão das duas economias. O valor para Portugal  é da mesma ordem de magnitude, o que significaria facilmente um empurrão de 0,5 pontos no crescimento económico e que representaria uma confortável almofada orçamental. 

Eu, todavia, não confiaria em demasia pois suspeito que o impacto na actividade económica portuguesa venha a ser insignificante. (Aliás, muitos estudos têm encontrado que os efeitos de aumentos do preço do petróleo e de reduções são assimétricos sendo estes, em geral, muito menores do que aqueles.) Aduzo duas razões específicas. A queda do preço do petróleo vai precipitar a deflação, que tem um efeito recessivo na despesa.  Por outro lado, Portugal não é um típico importador de petróleo dada a sua exposição a Angola (que vai muito para além do revelado  pelo 4.º lugar como destino das exportações). Tomando como referência (optimista) as estimativas para a Rússia – onde a queda de $25 no preço do barril se traduz numa redução do crescimento em  cerca de dois pontos -, não é difícil antecipar que as ondas de choque de uma crise de crescimento,  de pagamentos e orçamental em Angola facilmente anulariam quaisquer ganhos directos que Portugal possa registar.