De ponto de económico esta quebra representa uma bonança para as economias importadores líquidas de petróleo. Em termos teóricos, os efeitos no produto ocorrem predominantemente por duas vias: a redução dos custos de produção das empresas que usam petróleo como input e aumento do rendimento das famílias. Estes dois efeitos permitem inferir que a queda acentuada do preço do petróleo aumentará o produto e contribuirá para criar emprego, sendo estes efeitos tanto mais fortes quanto mais duradoura for a redução do preço.
Quanto valem estes efeitos não é inteiramente claro. Para os EUA e a UE, alguns analistas estimam que uma queda de $25 no preço do barril traduz-se num aumento de um quarto de um ponto percentual no crescimento do produto -um valor importante dada a dimensão das duas economias. O valor para Portugal é da mesma ordem de magnitude, o que significaria facilmente um empurrão de 0,5 pontos no crescimento económico e que representaria uma confortável almofada orçamental.
Eu, todavia, não confiaria em demasia pois suspeito que o impacto na actividade económica portuguesa venha a ser insignificante. (Aliás, muitos estudos têm encontrado que os efeitos de aumentos do preço do petróleo e de reduções são assimétricos sendo estes, em geral, muito menores do que aqueles.) Aduzo duas razões específicas. A queda do preço do petróleo vai precipitar a deflação, que tem um efeito recessivo na despesa. Por outro lado, Portugal não é um típico importador de petróleo dada a sua exposição a Angola (que vai muito para além do revelado pelo 4.º lugar como destino das exportações). Tomando como referência (optimista) as estimativas para a Rússia – onde a queda de $25 no preço do barril se traduz numa redução do crescimento em cerca de dois pontos -, não é difícil antecipar que as ondas de choque de uma crise de crescimento, de pagamentos e orçamental em Angola facilmente anulariam quaisquer ganhos directos que Portugal possa registar.