Terrorismo: as democracias resistem sempre de pé!

1.    A democracia está de luto. Ou melhor: a Humanidade está de luto. O ataque terrorista que vitimou os jornalistas da publicação “Charlie Hebdo” é mais um episódio que mostra à exaustão a banalização do mal que é um dado adquirido nas sociedades contemporâneas. O terrorismo não é – ao invés do que muitos (demasiados)…

2.    Ameaça actual não apenas ao regime democrático e aos seus princípios fundamentais – mas, sobretudo, contra uma ideia de civilização (que é a nossa) assente no primado da pessoa humana. E não a pessoa humana como abstracção ou princípio etéreo – é a defesa da pessoa real, como realidade histórica única e irrepetível, a pessoa de “carne e osso”, concreta, que marca a nossa consciência colectiva. Concepção de civilização que é frequentemente aludida como “civilização ocidental”, contrapondo-a a uma pretensa “civilização oriental”. Julgamos que tal contraposição é incorrecta e injusta: também na civilização oriental há pessoas e doutrinas que perfilham as nossas concepções e os nossos valores. Como, da mesma forma, na própria “civilização ocidental”, encontramos inimigos da sociedade aberta: o mal, a desconsideração pela pessoa humana e o apelo à violência gratuita não encontra, infelizmente, limites de fronteiras, nem de latitudes. 

3.    A tragédia que ocorreu esta semana em Paris deve suscitar a reflexão de todos quantos defendemos intransigentemente a liberdade e a Humanidade. Não basta censurar, manifestando solidariedade e compaixão pelas vítimas e seus familiares – e ostentar faixes com a mensagem (boa, mas insuficiente) que “Je suis Charlie”. Todos somos Charlie – todos, no entanto, temos o dever cívico, moral e de elementar humanidade de honrar Charlie. E honrar passa pela condenação total e inequívoca dos actos terroristas – bem como pela realização de todas as diligências para evitar que tais actos se possam repetir. 

4.    É também insuficiente explicar o que aconteceu pela via da demonstração da incapacidade dos Estados europeus – com destaque para a França – em promover a integração dos imigrantes nas respectivas comunidades (e, especialmente, as 2.ªs e 3-ªs gerações de imigrantes – filhos e netos dos que ainda nasceram nas ex-colónias francesas no Norte de África). Pese embora esta explicação seja verdadeira e revele a incompetência e falta de visão dos políticos europeus, ela peca por duas razões: 1) tende a desresponsabilizar os autores de actos criminosos, horrendos; 2) descura que os actos de terrorismo não são episódicos, nem geograficamente delimitados – pelo contrário, os terroristas escolhem lugares simbólicos, cruciais e impactantes. Escolhem símbolos do “Mundo livre”, mundo esse que os terroristas não conseguem compreender e desprezam. Ou seja, o que aconteceu na quarta-feira não foi um episódio limitado a França – como foram, por exemplo, os motins nos subúrbios de Paris há uns anos, que motivou uma reacção dura do então Ministro do Interior, Nicolas Sarkozy. 

5.    Não: a explicação para a ocorrência trágica em Paris reconduz-se a uma estratégia pensada, cuidadosamente, pelo movimento terrorista internacional que é a Al-Quada e os seus braços. Com um objectivo claro: lançar o caos e o medo nas sociedades contemporâneas. Porquê? Porque é só no caos e no pânico que o terrorismo pode vencer. Uma sociedade com medo é mais propensa ao caos, é mais facilmente dividida em facções, em grupos e movimentos – logo, mais desorganizada e mais conivente com o terrorismo. É o cenário que estes terroristas querem. 

6.    No fundo, os terroristas querem transformar as sociedades democráticas em sociedades fechadas, intolerantes e avessas a liberdade. Em sociedades formalmente livres – mas materialmente autocráticas. Uma autocracia da segurança, exponenciando o medo dos cidadãos. Ou seja: os terroristas querem converter a nossa sociedade à imagem e semelhança dos Estados liderados por estes grupos terroristas. Querem exportar o “Estado islâmico”. Ora, esta é ainda uma forma de “Jihad”: desta forma, os terroristas estão, teoricamente, a promover a “reconquista” com a colaboração das próprias “nações livres” guiadas pelo medo. 

7.    Por conseguinte, recordando o Presidente Franklin Delano Roosevelt, nada temos a temer: só temos de ter medo do próprio medo. Não ter medo de nos exprimirmos. Não ter medo de pensar. Não ter medo de viver. As democracias – as sociedades livres – mantêm-se sempre de pé contra grupos criminosos. Sejam eles quais forem. 

P.S – Há uma nova tendência de opinião exponenciada pelas redes sociais, segundo a qual a liberdade de expressão inclui, ainda, a possibilidade de “branquear” o homicídio de 12 jornalistas, invocando o “mau gosto” dos cartoons. À sua maneira, esta corrente também é terrorista –é o terrorismo difuso do “bom gosto”. Um cartoon que reputam de ofensivo é motivo, suficiente e bastante, para matar os seus autores. Curiosamente, estas pessoas são as mesmas que militando activamente no Bloco de Esquerda ou  no Partido Comunismo se assumem como ateus e anti- Igreja Católica. E que não têm medo em ridicularizar o Papa, metem uns preservativos na cabeça do Papa, são contra o Natal, são contra a Páscoa – são contra tudo. E se o cartoon versasse sobre a Igreja Católica, aplaudiriam de pé. Mas, agora, dizem que os terroristas têm razão em matar 12 pessoas porque…os cartoons eram de mau gosto e gozavam com certas…”verdades”! É um retrato perfeito da anarquia hipócrita do mundo que vivemos – e do “social-fascismo” da extrema-esquerda à portuguesa. 

joaolemosesteves@gmail.com