PS descansado com avanço de Guterres

A última declaração de António Guterres é a confirmação de que quer concorrer a Belém – é a leitura que fazem no PS. E, apesar de manter o tabu, os socialistas mostram-se descansados a aguardar por aquele que consideram o melhor candidato presidencial.

Depois de o SOL noticiar que António Guterres iria prolongar o seu mandato na ONU, de Junho até Dezembro, e que por isso poderia estar fora da corrida às eleições presidenciais, o socialista apressou-se a declarar que está tudo em aberto. “Sou sempre livre de decidir a minha vida”, disse no dia a seguir ao Expresso.

As declarações foram vistas com optimismo pelos socialistas. “O facto de não fechar a porta no esclarecimento que fez é muito relevante. Há uma grande probabilidade de o PS ganhar as eleições”, afirma ao SOL um dirigente do PS próximo de António Costa.

E por isso o PS vai esperar, confiante. “Devemos respeitar o ritmo de Guterres. Será um grande candidato e não há nenhum problema em aguardarmos com serenidade”, sublinha Manuel Pizarro, membro do Secretariado. “Guterres está sempre a tempo, é um óptimo candidato”, diz Maria de Belém, que não quer sequer pensar numa alternativa ao líder do ACNUR. 

'Guterres vai ter que fazer campanha eleitoral'

O facto de o anúncio poder ser tardio – só depois das legislativas, no início de Outubro -, encurtando a margem para fazer campanha, é notado com preocupação pelo socialista António Vitorino. Apesar do elevado grau de notoriedade do ex-primeiro-ministro, “é preciso não esquecer que, se calhar, as pessoas abaixo dos 30 anos já não têm essa memória. Guterres tem que fazer campanha eleitoral”, alertou, no seu comentário na SIC Notícias.

Também Manuel Pizarro afirma que “Dezembro seria tarde demais”, para a apresentação de uma candidatura, mas frisa que Janeiro “é cedo demais”. Até porque os socialistas estão agora concentrados noutro combate: as legislativas. “Não vejo nenhum problema à volta de Guterres. Antes das presidenciais, temos as legislativas”, adverte Pedro Nuno Santos, vice-presidente da bancada parlamentar. 

O timing, um déjà vu  

O mandato de António Guterres como alto-comissário da ONU para os Refugiados (ACNUR) deverá ser alargado até ao final do ano, como noticiou o SOL na passada edição. Neste momento, decorrem as consultas aos governos para cumprir as formalidades necessárias e oficializar a decisão. 

Contudo, tal não significa que fique fora da corrida a Belém. “Independentemente da interpretação que vingar [Junho ou Dezembro], eu sou sempre livre de decidir a minha vida. Tudo isto é, portanto, muita parra e pouca uva”, afirmou Guterres. O socialista poderá sempre suspender ou até renunciar à parte final do mandato na ONU, como é comentado nos bastidores, uma vez que, com as eleições presidenciais a decorrer em princípio em Janeiro, os candidatos deverão estar no terreno pelo menos dois meses antes.

Um timing semelhante ao que levou há 20 anos o país a ter um Governo e um Presidente da República socialistas – a 1 de Outubro de 1995, Guterres vencia as legislativas e a 14 de Janeiro de 1996 Jorge Sampaio tornava-se Presidente da República – e que António Guterres e António Costa podem agora repetir.

Com Guterres em jogo, é improvável que outro candidato da área do PS avance. Ao contrário do que se assiste à direita. 

sonia.cerdeira@sol.pt