Passos Coelho e Portas: não aumentem a salsicha da coligação, por favor!

1.    Enquanto António Costa vai mantendo o seu silêncio sepulcral, o centro-direita vai falando. E falando. E falando. Sobre quê? Sobre o futuro do país? Sobre as reformas estruturais que pretende implementar na sua segunda legislatura? Sobre o seu plano de redução drástica da carga fiscal, que Portugal tanto reclama? Não, não e não: a…

2.    Há alguma explicação racional para os dois partidos, em Janeiro de 2015, continuarem a alimentar este tabu? Certamente haverá uma explicação racional e…boa. Só não sabemos qual é. 

3.    Aproveitamos para recordar os nossos caríssimos leitores que o ano político de 2014 começou precisamente pela interrogação sobre a continuidade ou não da coligação. Se Passos Coelho e Paulo Portas iriam renovar os votos do seu casamento para além de 2015. As reacções dos partidos da maioria – sobretudo dos dirigentes nacionais do PSD – foram no sentido de que o início de 2014 não era o momento oportuno e conveniente para discutir a coligação. Apontavam a Páscoa – Abril, início de Maio – como a altura ideal, como o momento decisivo para a continuidade da aliança Passos-Portas. Chegámos a Abril – e nada. A decisão sobre a renovação da coligação só seria tomada no Verão. Chegámos ao Verão – e nada. Matos Correia, em entrevista ao SOL, avançou que o momento mais apropriado para discutir a coligação seria em Abril de 2015! Ou seja, a cerca de 5 meses da realização do acto eleitoral! 

4.    Juntando todas as cenas deste filme de amor-ódio, concluímos que a coligação é, a um tempo, inevitável e um fracasso. 

5.    Inevitável, porque não faz nenhum sentido que os dois partidos, que partilharam a tarefa de governar Portugal no período mais complexo da nossa História recente, não se apresentassem conjuntamente ao eleitorado português. O PSD não pode romper, neste momento, com o CDS – e o CDS precisa do PSD para se aguentar eleitoralmente e sobreviver como partido relevante no quadro do sistema partidário nacional. 

6.    Com efeito, se PSD e CDS se apresentassem isoladamente nas legislativas, teríamos a situação caricata de ver estes dois partidos a criticarem-se mutuamente. A imputarem reciprocamente os erros, vícios e defeitos dos últimos quatro anos. Enfim, seria uma campanha dominada pela divulgação dos segredos de alcova do Governo – com Paulo Portas a revelar as falhas de Passos Coelho, o que ele quis fazer e o que Passos Coelho não deixou; enquanto Passos Coelho iria revelar aos portugueses as diatribes de Paulo Portas. Estaríamos, no fundo, a assistir, ao vivo e a cores, ao último tango político, em Lisboa, entre Passos Coelho e Paulo Portas. 

7.    A campanha eleitoral centrar-se-ia, assim, na rivalidade fratricida entre PSD e CDS – facilitando, ainda mais, a vida ao PS e a António Costa. Enquanto PSD e CDS dariam um triste espectáculo, as comadres zangadas da direita ajustariam as suas contas – o PS de António Costa apareceria como o último reduto de seriedade, responsabilidade e de noção de sentido de Estado. Seria mais um argumento para António Costa continuar sossegadinho e caladinho. E o António Costa caladinho até parece um político sensato e em quem se pode confiar – quando fala é que estraga tudo! Praticamente, é só asneira: em cada três intervenções do socialista, duas saem sempre ao lado!  

8.    Se é certo que a coligação entre PSD e CDS é inevitável, parece também uma realidade cada vez mais inevitável o seu fracasso. Porquê? Porque PSD e CDS mostram que já só têm vontade de sair do Governo – e entregar o país aos socialistas. É que chegámos a um ponto em que quando for apresentada formalmente a coligação, os portugueses só se vão rir às gargalhadas. Já não é crível. Já ninguém leva a coligação a sério. Sobretudo, num Governo que tem uma história de quase ruptura: o célebre episódio da irrevogabilidade revogável de Paulo Portas! 

9.    A coligação, neste momento, já deveria estar anunciada. Cada dia que passa, mais ridícula se torna a situação dos partidos da maioria. Infelizmente para Portugal, este filme pode acabar muito mal para o PSD e para o CDS… Passos Coelho, há uns meses, referiu no Parlamento que o sucesso da educação em Portugal não depende do aumento da “salsicha educativa”. O que será uma salsicha educativa? Ainda não se percebeu claramente. Terá que ver com as gorduras no sector educativo. Pois bem, esta história da coligação também já está “gorduras” a mais. Passos Coelho tem de acabar com esta salsicha da coligação de uma vez por todas. Apelamos, neste sentido, ao bom senso e à lucidez de Passos Coelho e Paulo Portas. Que se decida rapidamente!

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