A “cambalhota”, como lhe chamou o dirigente regional do CDS, Ricardo Vieira, em artigo no DN-Madeira, justifica-se por duas grandes razões: por estratégia eleitoral, pois as eleições regionais antecipadas deverão ocorrer em finais de Março ou princípios de Abril; e por sobrevivência política no poder, que, para muitos dirigentes e militantes do PSD-M, é também sobrevivência económica e social.
O 'falso unanimismo' e os recados de Jardim
O “falso unanimismo” em torno do novo líder laranja tem sido, esta semana, a tónica da oposição regional.
Aliás, no último domingo, quando o Congresso da consagração ainda decorria e depois de dizer, na véspera, que Miguel Albuquerque era o seu líder, Alberto João Jardim, num artigo de opinião que fez publicar no 'seu' Jornal da Madeira, fez questão de lembrar que “faz parte da formação política, não esquecer a queda do Império Romano”.
Falou de “mercenários infiltrados”, de “bárbaros”, “ambição material”, “interesses das classes mais possi- dentes”, “desprezo pelos valores”, “decadência”, “corrupção”, “poder a qualquer preço”, “alianças com inimigos”, “legiões sem ordem” e pagamento a “mercenários infiltrados” – para concluir, em jeito de provocação: “E já não houve novo ciclo”.
Quando Miguel Albuquerque pediu maioria absoluta aos 'cristãos novos' e foi entusiasticamente aplaudido pelo Congresso, a oposição viu nisso estratégia eleitoral. José Manuel Coelho (PTP) considera que Albuquerque corporiza a “continuação do jardinismo recauchutado” e Edgar Silva (PCP) teme por “políticas ao serviço do elitismo”. Já o secretário-geral do PS-Madeira, Jaime Leandro, fala do “albuquerquismo”, espécie de jardinismo sem Jardim.
No PSD-M, o mais reticente em aderir ao unanimismo do novo líder será, porventura, Cunha e Silva, que foi um dos seis candidatos a disputar a liderança do partido. Mas do qual se diz poder vir a ser apontado por Miguel Albuquerque para a presidência da Assembleia Regional. Ainda que o nome de Adolfo Brazão, novo presidente do Conselho Regional e da mesa do Congresso, seja também referido para esse cargo.
Cavaco marca eleições
Uma coisa é certa: com as propostas de demarcação do jardinismo agora adoptadas por Miguel Albuquerque (ver caixa), a nova liderança do partido retira espaço à oposição. É que muitas das medidas – como a redução da subvenção aos partidos ou a privatização do Jornal da Madeira – eram bandeiras da oposição.
Para já, o representante da República para a Madeira, Ireneu Barreto, vai a Belém transmitir as escolhas partidárias para o dia das eleições antecipadas. A data mais consensual parece ser 29 de Março, embora o PSD admita 22 de Março e o PCP queira depois da Páscoa. Cavaco Silva vai ouvir as direcções nacionais dos partidos, convocará o Conselho de Estado, dissolverá a Assembleia Regional e terá 55 dias para convocar as eleições antecipadas.