2. Aliás, em rigor, a reacção de Vasco Cordeiro tem sido absolutamente ridícula. Na segunda-feira, o Presidente Regional dos Açores (nesta qualidade) foi recebido pelo Presidente Cavaco Silva, para o informar do impacto brutal negativo que a diminuição do contingente militar dos EUA irá implicar para a economia dos Açores. À saída, Vasco Cordeiro – à boa maneira dos políticos portugueses que julgam que tratar de matérias de Estado é igual a tratar das questões corriqueiras das concelhias dos partidos – ameaçou que Portugal poderia cortar as relações diplomáticas com os EUA, ao ponto de deixar de considerar este país como nosso aliado estratégico e ceder, em retaliação, a Base das Lajes a chineses. E depois o que fez o nosso inenarrável Vasco Cordeiro? Resolveu ir queixar-se ao líder do seu partido, António Costa. Percebeu-se o truque político: ir visitar António Costa, após sair da audiência com o Presidente Cavaco Silva, é conferir um peso político superior ao líder da oposição, tratando-o já como Primeiro-Ministro. Ao mesmo tempo que desconsiderou completamente Pedro Passos Coelho, diminuindo-o politicamente. Pois bem, quer queiram, quer não, Pedro Passos Coelho ainda é Primeiro-Ministro de Portugal. E só os portugueses, através do seu voto, podem substituí-lo.
3. Pois bem, convém sermos rigorosos na análise da questão da Base das Lajes. Não podemos ser tão superficiais e levianos na reacção como foi Vasco Cordeiro e, por arrastamento, o seu homem que ainda manda, de facto, nos Açores, Carlos César. A verdade é que a racionalização da presença americana nos Açores já vem sendo discutida há muitos anos.
4. Naturalmente, não concordamos inteiramente com a avaliação feita pelas autoridades dos EUA, que reduz as Lajes a um mero posto de abastecimento de combustível. Jugamos que os Açores têm uma valia geoestratégica que, mesmo no actual quadro político internacional, é relevante. Para afirmação de poder e válvula de segurança. No entanto, temos que convir que a logística das Lajes, sua estrutura e recursos humanos, foi pensada para um mundo bipolar em que duas potências – EUA e URSS – se digladiavam mais ou menos silenciosamente, em que a geoestratégia se revelava decisiva. O mundo actual já não é o mundo da “guerra fria” – por conseguinte, as estruturas pensadas para esse tempo têm que mudar e adaptar-se às novas exigências.
5. Dito isto, a grande dúvida que fica – e tem que ser respondida – é a seguinte: se as autoridades açorianas – nomeadamente os Governos regionais socialistas liderados por Carlos César e pelo seu discípulo Vasco Cordeiro – já sabiam do plano de redução da Base das Lajes, e se têm receios fundados do seu impacto negativo para a economia da região, por que razão Carlos César (o novo grande amigo de António Costa) e Vasco Cordeiro não começaram a estudar medidas e a trabalhar num projecto que pudesse atenuar esse impacto negativo? Porquê? É mais fácil atirar as responsabilidades para outros, à boa maneira do Partido Socialista! Agora o alvo do PS é os EUA e Passos Coelho! Que ridículo! Fica tão mal ao PS!
6. Segunda questão: por que razão Vasco Cordeiro não se reúne com os autarcas – sobretudo com o Presidente da Praia da Vitória – , com as autoridades americanas, tomando a iniciativa, articulando-se com o Governo português, para trabalhar numa solução que seja benéfica para os açorianos? Por que razão Vasco Cordeiro preferiu o show off de vir ter com o Presidente da República e com o seu amigo António Costa – do que chamar os responsáveis políticos açorianos, sociedade civil, empresários, representantes dos EUA, embaixada dos EUA para resolver o problema?
7. Terceira questão: enfim, Vasco Cordeiro fez alguma coisa? O que quer que seja? E o quê? Para quê? Com que resultados? Ou prefere brincar às politiquices? Dá a sensação de que Vasco Cordeiro não quer resolver os problemas reais dos açorianos: quer, apenas e só, ficar bem na fotografia. Nós não sabemos responder a estas questões – e apostamos que os açorianos também não.
8. Uma última nota para dizer, sem qualquer dúvida, que Portugal e os EUA serão sempre parceiros estratégicos, aliados leais e países amigos. Por vezes, os melhores amigos podem desentender-se por questões pontuais – mas sabem sempre como resolvê-las em benefício de ambas as partes. E, no final, a amizade reforça-se. Torna-se ainda mais forte. É o que vai acontecer entre estas duas grandes Nações.