Os ‘pais’ da aliança entre o Syriza e a direita

Há muita perplexidade pelo mundo fora quanto ao entendimento entre a esquerda radical do Syriza e a direita nacionalista dos Gregos Independentes. Mas um acordo deste género não é inédito naquele país, onde os partidos ‘nascem como cogumelos’. 

Os ‘pais’ da aliança entre o Syriza e a direita

Aliás, a aliança hoje anunciada tem raízes na que aconteceu em Julho de 1989 entre a Nova Democracia e o Synaspismos (Coligação de Esquerda, dos Movimentos e Ecologia). O país vivia outro período conturbado, e os conservadores da Nova Democracia aliaram-se à coligação formada pelos dois partidos comunistas gregos (o pró-soviético KKE e o pró-europeu KKE Interior) e uma série de outras formações de esquerda.

Não durou muito, este Governo bipolar, e na sequência de novas eleições, Nova Democracia e Synaspismos voltam a formar novo Executivo, que desta vez incluía os socialistas do PASOK.

O descalabro da União Soviética e as críticas a estas alianças levaram à saída do pró-soviético KKE, em 1991. Mas muitos dos seus quadros mais moderados lá ficaram e o Synaspismos acabou por se transformar num partido político, no ano seguinte.

Em 2004 nova coligação nasce, o Syriza – tendo como partido liderante o Synaspismos, que voltou a coligar-se com um conjunto de pequenos partidos de esquerda, num movimento que também inclui independentes.

À direita houve um processo semelhante, mas mais recente. Tal como o Syriza nasceu no Synaspismos, os Gregos Independentes (no país conhecidos como ANEL) têm origem na Nova Democracia.

O processo teve início em Fevereiro de 2012 quando Panos Kammenos vota contra o memorando de entendimento assinado entre a Grécia e a troika, e é expulso da Nova Democracia. Dias mais tarde usa o Twitter e o Facebook para anunciar a formação de um novo partido.

Neste momento a radical oposição do Syriza e dos Gregos Independentes ao pagamento da dívida externa, à austeridade e ao ‘colonato’ da troika em que consideram ter-se transformado a Grécia é o grande ponto de união entre os dois partidos. A dividi-los, quase tudo o resto, desde os temas sociais à relação entre o Estado e a Igreja.

Curiosamente, esta inesperada aliança já tinha sido predita antes das eleições pela Reuters. Num texto datado de 23 de Janeiro escrevia que a “posição anti-resgate [dos Gregos Independentes] é muito mais forte do que a retórica pró-Europa do To Potami” (outro recente partido de centro-esquerda e que era apontado como o aliado ‘natural’ do Syriza).

Considerava que a “ambição de Kammenos é muito maior do que apenas entrar para o Parlamento”. E recordava um cartaz do partido em que o seu líder era mostrado a ajudar um rapaz chamado Alexis a manter um comboio nos carris como um exemplo do “papel que este pretende ter num governo liderado pelo Syriza”.

Também por cá já se fez uma aliança de Governo que hoje pareceria impossível, entre o PS e o CDS. Estava-se em 1978 e – tal como os dos seus ‘congéneres’ gregos – o Executivo liderado por Mário Soares durou meses.

A incógnita, agora, é saber se Alexis Tsipras voltará a fazer história conseguindo um governo estável. Já hoje, uma fonte do Syriza  avançava ao site Greek Reporter que o novo primeiro-ministro está “determinado a  formar um governo ‘magro’ e já está a preparar um plano para fundir ministérios e serviços”.

Este será composto por pessoas “aptas a enfrentar os desafios que o país enfrenta neste momento crucial, e que representem o mais possível a ideologia do partido” avançou ainda.