Vazio de poder leva caos ao Iémen

A instabilidade política no Iémen, que na semana passada levou à demissão do Presidente, do primeiro-ministro e do Governo, criou um vazio de poder no país que pode, no cenário mais pessimista, levar a uma guerra civil entre os xiitas houthis, apoiados pelo Irão, e as tribos sunitas auxiliadas pela al-Qaeda. Washington assiste ao caos:…

Vazio de poder leva caos ao Iémen

A rebelião dos xiitas houthis tem ganho corpo desde Setembro quando o grupo – dominante no Norte do Iémen – desceu e tomou a capital Saná, exigindo estar mais próximo do centro de decisões do poder, dominado pela maioria sunita. 

Num braço-de-ferro com o Presidente Abd Rabbuh Mansur Hadi e com o primeiro-ministro Khaled Bahah, os houthis ocuparam o palácio presidencial e grande parte dos edifícios da capital e fizeram refém o chefe de gabinete do PR: exigiam que a nova Constituição lhes desse mais poder.

Os chefes do Estado e do Governo decidiram esta semana demitir-se. No Facebook, o PM justificou a saída para “evitar ser arrastado para um abismo de políticas desconstrutivas que não são baseadas em qualquer lei”. A decisão apanhou de surpresa os houthis que, segundo analistas, não querem estar na linha da frente do poder – preferindo ocupar cargos-chave em determinados sectores, como a Defesa.

Apesar de o chefe de gabinete do PR ter sido libertado esta semana, após dez dias de cativeiro, as demissões mantiveram-se. Num discurso televisivo, o chefe dos rebeldes Abdul Malik al-Houthi menosprezou o anunciado abandono do Presidente, qualificando o acto de simples “manobra” e pedindo “cooperação em vez de confrontos”. 

O Parlamento tinha convocado uma sessão extraordinária no domingo, mas foi cancelada. No dia anterior, cerca de dez mil pessoas tinham saído às ruas de Saná para exigir a permanência de Abd Rabbuh Mansur na presidência, num protesto contra os xiitas houthis, cuja influência não é reconhecida no resto do país.

Ao contrário dos líderes cessantes, os houthis opõem-se à presença norte-americana no país. Embora tenham como inimigo comum a al-Qaeda, estão contra os ataques dos EUA com drones a alvos no país, que já fizeram muitas vítimas civis.

O vazio de poder fragiliza (ainda mais) a instável região e coloca um ponto de interrogação na aliança entre Washington e Saná no combate aos fundamentalistas islâmicos. A al-Qaeda na Península Arábica – a mesma que reivindicou responsabilidade no atentado ao semanário satírico francês Charlie Hebdo – é 'subsidiária' da al-Qaeda e reúne extremistas sunitas iemenitas e sauditas, perpetrando regularmente ataques bombistas em Saná.

ana.c.camara@sol.pt