O que é que a Joan tem?

Joan Smalls personifica, do alto dos seus 179 cm, o sonho americano. Nasceu em Porto Rico a 11 de Julho de 1988 e cresceu numa quinta em Hatillo com pomares e em convívio directo com os animais. O pai, Eric Smalls, é um contabilista com ascendência africana, de São Tomé e Príncipe. Já a mãe,…

O que é que a Joan tem?

Sempre quis ser modelo, mas o seu país de origem não lhe carimbou o passaporte, nem para as passerelles nem para as capas de revista. Concorreu várias vezes a manequim na sua terra natal e hoje diz com humor que “perdeu”. Perdeu nos concursos, mas não a persistência e o foco. Ainda se deixou tentar pela Psicologia, matriculou-se na Universidad Interamericana de Puerto Rico e de lá saiu formada, mas a moda continuava a ser o seu maior caso de estudo. Mesmo que a quisesse esquecer, a família e, principalmente, as amigas da mãe não deixavam. “Sobretudo por causa da minha altura, regressei de umas férias de Verão muito alta e insistiram para que não desistisse do sonho”, disse à Vogue espanhola. Em boa hora, Joanji, como era chamada na intimidade, ouviu os conselhos e rumou a Nova Iorque, patrocinada pelos pais. “A minha família sempre me deu apoio. A iniciativa de ir para Nova Iorque partiu de mim, não foi nenhuma agência que me quis levar. Não me descobriram, eu já me tinha descoberto”, revelou em entrevista à Fashionvitrine.com. 

Corria o ano de 2007 e a busca pelo sonho americano estava à distância da viagem diária entre Queens, onde ficou alojada, e Manhattan, feita de autocarro e de metro, com umas botas de ‘combate’. “Quando se tem 10 a 15 castings por dia, o importante é estar confortável”, partilhou com a CNN. Começou com pequenos trabalhos para Tory Burch, Liz Claiborne e Nordstrom, enquanto a prestigiada agência Elite lhe ofereceu o primeiro contrato ‘a sério’. Não tardou a aparecer num videoclip do também latino Ricky Martin, ‘Its Alright’, e foi outro instante até dar o salto para a IMG, uma das agências mais activas da indústria de moda nova-iorquina. 

A pele morena, as maçãs do rosto vincadas e os lábios carnudos começavam a dar definitivamente nas vistas. Já havia, no meio, quem a rotulasse como a nova Naomi Campbell ou como a nova deusa negra da moda. A mestiçagem, com o carimbo da elegância, da autoconfiança e do estilo, num “rosto perfeito” – um dos seus maiores predicados para muitos especialistas – conquistou muitos criadores e quase todas as casas de moda de prestígio. Uma ‘it girl’ – jovem mulher que cria tendências – assumida. 

Sem pedir licença, Joan Smalls começou a entrar pela porta grande dos mais emblemáticos desfiles de moda. Fez campanhas publicitárias para a Gucci e Givenchy, sendo que o director criativo desta casa francesa, Riccardo Tisci, apostou nela para o seu desfile de alta-costura Outono-Inverno 2010/2011. Foi talvez o passo que faltava para trilhar com firmeza um percurso ainda cheio de passerele. Primeiro rosto latino da Estée Lauder – “o seu sorriso, o seu calor e a sua energia positiva são perfeitas para a marca”, nas palavras da directora criativa Aerin Lauder – e primeiro rosto negro da Chanel, a supermodelo porto-riquenha pôs também à prova o estilista norte-americano Tom Ford – “ela acabará por me tornar heterossexual”, terá dito o criador no fim do desfile privado que ofereceu na Madison Avenue. 

Desde 2011 que é um dos anjos da Victoria’s Secret, epíteto a que qualquer modelo almeja chegar. Prada, Christian Dior, Versace, Calvin Klein ou Fendi renderam-se aos seus encantos, assim como as objectivas de Mario Testino, Peter Lindbergh ou Annie Leibovitz. As revistas de moda de referência – Vogue, Harper’s Bazaar ou Elle – pelam-se para dar o seu corpo à estampa. Editoriais, desfiles e campanhas publicitárias são hoje o mundo de Smalls, a menina que saiu da pacatez de uma quinta em Porto Rico para os cartazes da ‘fashionista’ Fifth Avenue. Um mundo que tem o seu preço: “Não ter vida para além da moda. Mas tudo o que vale a pena, é duro”.

Para quem viu as portas da moda fechadas no seu país, Joan não se deu mal e nem sequer se sente despeitada com a rejeição inicial. “Quero continuar a derrubar barreiras e a mostrar à indústria da moda e ao mundo que a beleza é diversa. Quando olhas para o mundo, este não tem apenas uma cor, é um precioso arco-íris. E por que não ter alguém que o represente”, afirmou a modelo à CNN.

filipa.moroso@sol.pt