Montenegro e Ventura não se entendem

Luís Montenegro e André Ventura não conseguem mesmo entender-se. O líder do Chega está a obrigar as bancadas da AD a engolir em doses lentas o seu ‘não é não’. À mesa das negociações, o Chega começa por exigir o aceitável e acaba a pedir o impossível.

Foi o próprio líder parlamentar do PSD que o confirmou na televisão: «já tentámos por três vezes negociar e o Chega quebra todos os acordos». A vida não tem sido fácil para a AD no Parlamento, à direita e à esquerda as portas fecham-se uma e outra vez e o resultado é que a coligação no Governo não consegue fazer aprovar as suas propostas na Assembleia da Repúbica. Ao contrário, o PS tem conseguido fazer passar praticamente tudo o que apresenta, com os votos da esquerda e quase sempre com os votos do partido de… André Ventura.

Há falta de habilidade política nas bancadas da AD? Não tem havido abertura para entendimentos com o Chega? A continuar assim, como é que o Governo de Montenegro vai conseguir sobreviver para lá da presentação do orçamento?

Ventura, osso duro de roer

Nos bastidores do Parlamento não têm faltado conversas à direita. Ao que o Nascer do SOL apurou junto de fonte conhecedora das negociações, no início os encontros até correm bem e parecem frutuosos, mas é no evoluir das conversas que as coisas se complicam.

Nas matérias mais importantes, é o próprio André Ventura que conduz a s negociações do lado do Chega, enquanto do outro lado estão elementos dos dois partidos que compõem a AD, com a liderança a caber a Hugo Soares.

Nas várias tentativas de entendimento até agora ocorridas, tem-se repetido o padrão: «O Chega começa por colocar em cima da mesa as suas condições para aceitar um acordo. Normalmente, as primeiras exigências até conseguimos aceitar, mas depois vêm mais exigências, até tornar impossível um entendimento», relata fonte da AD.

Ao que apurámos, o Chega prolonga as conversas quase até ao limite da hora da votação, só apresentando as propostas inaceitáveis para as últimas horas, deixando a AD de pés e mãos atados. «Eles não estão interessados em nenhuns acordos, querem mesmo ir para eleições», desabafa a nossa fonte.

Neste momento, decorrem novas negociações por causa das propostas de redução de IRS. Neste caso, a AD está mesmo a tentar negociar com todos os grupos parlamentares, mas tem um novo obstáculo para ultrapassar: os socialistas querem atrasar o processo para que a diminuição de impostos não seja aprovada antes das eleições Europeias. PSD e CDS querem o contrário, mas, para o conseguirem, têm que desatar vários nós.

Sociedade civil pressiona Chega e AD para acordos 

Os apelos têm vindo um pouco de todos os lados, de associações empresariais a outras entidades representativas da sociedade civil: o país precisa de estabilidade e a direita que ganhou as eleições tem de se entender.

«Os jogos políticos só interessam aos políticos, o país precisa de ser governado com estabilidade», diz-nos uma das vozes que tem tentado junto de elementos do Chega e da AD sentar as duas forças políticas à mesma mesa. Ao que apurámos, os vários esforços que têm sido feitos não têm dado frutos. Numa primeira fase, as dificuldades surgiram sobretudo do lado do Governo, mas, ao que nos foi dito, nos últimos dias as portas têm-se fechado também do lado do partido de Ventura. O primeiro mês de governação aumentou a convicção do lado do Chega de que pode valer a pena ir mais cedo para eleições. «O Governo é fraco e agora somos nós que não queremos fazer parte de um Governo assim. Se as coisas estivessem a correr bem, talvez fizesse sentido moderar a nossa posição, mas, assim, não vale a pena», diz-nos um deputado do Chega que tem sido chamado a tentar fazer pontes com o PSD. O momento, agora, é de esperar e avaliar se os dados se alteram