Em que medida a vitória do Syriza pode beneficiar o PS?
Sobretudo o que a vitória do Syriza mostra é que é preciso fazer alguma coisa para modificar a forma como a política é conduzida na Europa. Não podemos querer construir uma Europa contra uma parte dos seus povos. O que foi imposto aos gregos conduziu a uma solução radical, saudada por grande parte dos europeus como uma espécie de libertação. Não sei se as eleições gregas vão ter uma influência directa no nosso país, mas têm pelo menos uma influência positiva na Europa.
Como viu a derrota do PASOK?
Acho que nos serve de lição. O PS não pode nunca, sendo um partido moderado, abandonar os seus princípios, os seus valores e colocar a sua intervenção política ao serviço de uma agenda que não é a sua. Foi isso que aconteceu na Grécia. Quando um partido se divorcia do seu eleitorado é natural que o seu eleitorado o castigue.
Em Janeiro de 2014, o PS tinha uma vantagem sobre o PSD de 8 a 13 pontos, nas sondagens. Agora tem de 6 a 11. O problema era Seguro ou é do PS?
Depois das sondagens de Janeiro houve uma sondagem maior que foram as europeias onde o PS teve uma vitória escassa em relação à coligação de direita, que é preocupante não tanto pela diferença entre o PS e a direita, mas sobretudo porque o PS não conseguiu mobilizar o apoio de uma parte suficientemente representativa dos portugueses. A tradução para resultados nacionais conduziria a um bloqueio da situação política. Bem sei que esta comparação directa não pode ser feita, mas em todo o caso era muito preocupante. As sondagens neste momento revelam dois aspectos relevantes: um divórcio entre a maioria dos cidadãos e o PSD e CDS e o PS que se afirma como a grande força alternativa com valores próximos dos 40%, o que quer dizer que está ao nosso alcance uma maioria absoluta.
Estes resultados não o preocupam?
Quanto maior for a vantagem mais tranquilo estarei mas temos uma vantagem perfeitamente aceitável e uma posição à partida muito confortável.
Tendo em conta que António Costa desafiou a liderança com o resultado fraco nas europeias, pode ter menos que uma maioria absoluta?
O país e milhões de portugueses precisam desesperadamente que o PS ganhe as eleições. E temos um objectivo: procurar ganhá-las com maioria absoluta. O país vive uma situação muito difícil, temos que ter um governo determinado e corajoso e a maioria absoluta facilita que sejamos capazes de empreender o nosso programa sem nenhum desvio. Mas se a vitória que viermos a alcançar for noutras condições, seguramente encontraremos as soluções necessárias para governar.
À esquerda ou à direita?
Terão de ser construídas pontes com quem se opõe à actual política. Quem achar que o país está bem como está e esta política está certa seguramente não fará parte da solução liderada pelo PS.
À esquerda, portanto?
O diálogo político tem que ser aberto a todos os sectores, aos que estão à nossa esquerda e aos que estão à nossa direita.
À direita Rui Rio seria o parceiro ideal?
A obrigação de quem dirige o PS é dirigir bem o PS. Não quero cometer o abuso de escolher os protagonistas das outras áreas.
Como viu a saída de Francisco Assis do Congresso? Não há espaço para apelar ao centro-direita?
O PS orgulha-se da tradição pluralista e da liberdade que todos sempre tiveram de exprimir opiniões. Mas perante uma governação do PSD e do CDS, que conduziu milhares de portugueses ao desespero, não faz nenhum sentido que a proposta alternativa do PS seja unir-se a quem fez esta política. O PS, pelo contrário, tem que se afirmar pela diferença radical a esta política.
Tem havido críticas à pouca acção do PS. O PS anda adormecido?
Não noto nenhum adormecimento, nem nas pessoas, nem nas tomadas de posições. Nos assuntos relevantes, como a privatização da TAP, dos transportes das áreas metropolitanas, a situação caótica das urgências, houve uma posição clara do PS. Uma coisa diferente é saber se devemos contribuir para o constante ambiente de crispação na vida política nacional. Acho que isso é escusado, seria errado fazê-lo. Precisamos de mobilizar os portugueses e para isso devemos evitar um ambiente de crispação excessiva, até porque estou absolutamente convencido que o divórcio entre a maioria dos portugueses e o PSD e CDS está consumado e não tem volta a dar. Não vale a pena estarmos a insistir numa oposição sem quartel ao Governo.
Mira Amaral diz que Costa deve fingir-se de morto. Concorda?
O que António Costa e a direcção do PS anunciaram foi um calendário claro da forma como vamos apresentar as propostas políticas. Há um grupo de trabalho a estudar um enquadramento macro-económico, que apresentará as conclusões no final de Março, e é a partir daí que apresentaremos o programa político. Vamos muito a tempo de o fazer. A verdade é que também não se ouve mais ninguém a apresentar propostas. Maio ou Junho é um calendário absolutamente adequado para que os portugueses conheçam as propostas do PS.
A prisão de José Sócrates prejudica o PS?
Essa é uma péssima notícia para o PS. É evidente que afecta o PS. José Sócrates foi secretário-geral e muitos de nós têm com ele ligações afectivas e políticas e naturalmente que é perturbador. O secretário-geral fez o que se impunha, separar as águas entre o sistema judicial, que não está acima de críticas e que as pessoas numa sociedade democrática podem criticar, e aquilo que é o combate político. Os portugueses farão essa distinção com facilidade.
Mas é um caso político?
Evidentemente que a prisão de um político tem sempre contornos políticos, mas tenho razões para confiar que o sistema de justiça agirá de acordo com os seus valores, embora a constante violação do segredo de justiça me perturbe, no sentido que põe em causa alguns desses valores que deveriam ser inalienáveis, desde logo a presunção de inocência a que todos têm direito.
António Guterres ou António Vitorino?
Um candidato do PS em condições de vencer as eleições. A maior parte dos portugueses tem muitas saudades de ver em Belém um candidato apoiado pelo PS. Há uma enorme diferença entre o actual Presidente da República e os anteriores. Digo isto com pena mas o actual Presidente comportou-se vezes demais como um Presidente de facção.
Até quando o PS pode esperar por Guterres?
O PS pode esperar muito tranquilamente porque, como todos os resultados das sondagens mostram e como a enorme agitação no espaço da direita ilustra com clareza, é na direita que há preocupação com as presidenciais e não no PS. O PS tem no seu espaço político várias personalidades capazes de vencer as eleições. Vamos esperar com absoluta tranquilidade. Sem deixar de reconhecer a importância das presidenciais, são as legislativas que ocupam a nossa atenção.