Foi chefe da Divisão dos Assuntos da Frota Russa no Mar Negro. Alguma vez lhe passou pela cabeça que Sebastopol e a Crimeia fossem anexados?
Quando fui designado para esta função, ainda pelo anterior Presidente, estava a tratar das questões da retirada da frota russa do Mar Negro. Nunca me passou pela cabeça que a Crimeia algum dia não fosse território da Ucrânia. A Rússia tentou permanecer o maior tempo possível no Mar Negro e na Crimeia, talvez já naquela altura imaginando a frota como uma base para a anexação. Como representante da Ucrânia e do Presidente ucraniano em Portugal devo comportar-me eticamente, mas como simples cidadão ucraniano apetece-me gritar: 'Vejam o que se passa!'.
Perante o escalar da violência, o Parlamento da Ucrânia pediu que os grupos pró-russos passem a estar na lista das organizações terroristas. Que outras medidas defendem?
Os pró-russos que actuam em Lugansk e Donetsk não mais podem ser chamados de separatistas. Estas pessoas são bárbaras e terroristas porque irão usar todos os meios para atingir os fins. No último acto terrorista morreram nove crianças, isto sem contar com o número de adultos e de feridos. Temos de manter o diálogo com todas as partes com o objectivo de manter uma Ucrânia unificada. Podemos ser emotivos mas devemos manter o processo na ordem internacional.
Além das sanções económicas, o que pode fazer a Europa?
As sanções são palavras, influem bastante superficialmente na política da Rússia. A Federação Russa quer sair desta situação onde se meteu com menos perdas possíveis e ao mesmo tempo quer atingir os seus objectivos a qualquer custo, mantendo o seu estatuto político. O primeiro passo é uma ajuda concreta da Europa no restabelecimento do diálogo e da paz nas fronteiras existentes antes do início do conflito. O segundo passo é a ajuda da Europa para reconstruir as zonas afectadas que, diga-se de passagem, são as principais zonas industriais da Ucrânia, onde a indústria foi concentrada e onde há minas. A guerra custa todos os dias entre 20 e 40 milhões de grivnas (1,1 a 2,2 milhões de euros).
A Itália e por extensão a chefe da diplomacia europeia Federica Mogherini têm uma posição mais suave para com Moscovo. Vê isso como um entrave às relações de Kiev com Bruxelas?
Não. Não creio que seja o ponto de vista da Itália inteira, mas também pode ser motivado por questões financeiras. A Rússia é de facto um país e um mercado muito grande e as sanções trazem um prejuízo à Europa. Em certo sentido, a Europa está a fazer um sacrifício. No entanto, o agressor deve ser apaziguado para depois se poderem restabelecer relações normais.
O conflito da Ucrânia é com Vladimir Putin ou com a Rússia?
Como diplomata devo responder que o conflito é com o Governo actual, e as suas ambições, da Federação Russa. Mas como cidadão, digo que o senhor Putin tem um complexo de megalomania. A Europa não precisa de uma Rússia e de uma Ucrânia separadas. A Europa está interessada em manter fronteiras estáveis no Leste e por isso é imperativo tentar resolver o conflito e depois tentar construir relações com a Rússia. É impossível integrar a Ucrânia na Europa sem ter este conflito resolvido. Estamos a gastar os recursos para desenvolver o país na protecção e defesa do território. É possível que a Federação Russa esteja a continuar o conflito para impedir que a Ucrânia se desenvolva e se mantenha na zona de influência russa.
Daí a importância da independência energética. O Presidente Porochenko anunciou que dentro de dois anos a Ucrânia vai deixar de importar gás russo.
O gás que vem da Rússia é maioritariamente consumido nas zonas ocupadas pelas organizações terroristas, ou seja, nas zonas industriais. As capacidades energéticas da Ucrânia serão suficientes se forem usadas razoavelmente e se forem usadas todas as fontes de energia presentes na Ucrânia.