Necrologia
Na semana passada morreu o rei da Arábia Saudita. Abdullah bin Abdulaziz Al Saud tinha 90 anos. Dizem que deixa trinta viúvas, quinze órfãos e vinte órfãs. Alguma imprensa internacional deslumbrada noticiou que Abdullah era reformista. É tão despropositado como dizer que Marcelo Caetano era um revolucionário trotskista. Dizer que não a duas ou três coisas ao clero mais conservador não me parece uma proeza do outro mundo. Abdullah foi notícia há uns meses por ter sido acusado de restringir a liberdade de uma das suas filhas, uma história que não chegou a ser esclarecida. Talvez tenha sido esperto ao recusar descer a produção de petróleo quando começou a baixar de preço. Mas se pensarmos que a Arábia Saudita detém 16% do mercado e a maior reserva petrolífera do mundo não é uma medida assim tão audaciosa. Mesmo que venda o barril de petróleo a vinte dólares, o reino de Abdullah bin Abdulaziz Al Saud continuaria a ter lucro. Assim também eu.
Nacionalizar a maternidade
Dizem que o Papa Francisco anda a falar demais. Como é sabido, gosto do Papa e tenho respeito por ele. Por isso lembro que qualquer pessoa que fale publicamente a um ritmo diário arrisca a ser mal entendido. Foi o que aconteceu quando disse que «alguns pensam, e desculpem o termo, que para serem bons católicos devem ser como coelhos». Pais de famílias numerosas ficaram indignados com as declarações do Papa, que entretanto foram bem explicadas por Ulrich L. Lehner na revista First Things. O autor atribui ao Iluminismo a ideia das mulheres 'reproduzirem como coelhos'. Durante o reinado de Luís XIV, o declínio de natalidade foi resolvido pelo Governo francês com incentivos que se traduziam em pagamentos de subsídios às famílias com mais descendentes. A novidade gaulesa foi, na verdade, inventada pelo imperador Augusto. O objectivo era o de gerar mais contribuintes para alimentar as nações. Só o Estado usa as pessoas. Deixem a religião em paz.
Salva pelo ACP
Gosto de automóveis na medida em que funcionam e me transportam de um lado para o outro, e gosto de conduzir. Mas o meu amor pela máquina não vai além disto. Talvez por isso resista na hora de pagar as quotas do ACP. Apesar de o meu carro ter dez anos, acho que não lhe há-de acontecer nada. Há dias, em plena Av. da República, começou aos soluços, não respondia, estava fraco quando acelerava. Liguei o pisca, subi o passeio quase à frente da Versailles e liguei ao Carlos: «Sempre vamos ter de pagar as quotas». Passados 20 minutos lá chegou o mecânico, munido de um tablet, que identificou o problema. Um cilindro estava avariado e o carro só tem três: «A senhora assim não conseguia ir a lado nenhum». Substituiu a peça de imediato, fez mais uma magia qualquer com o tablet, cobrou o dinheiro das quotas e da peça e pude ir à minha vida, sem receio de ficar pelo caminho. Ainda lhe perguntei se o motor tinha gripado. Longe de mim fugir ao estereótipo.
Nunca mais estreia
Nunca percebi nem o como nem o porquê da Cientologia e, sinceramente, não está nas minhas prioridades preencher este vazio. Mas é interessante ver esta organização sempre metida em sarilhos, a ser atacada e censurada em países democráticos como a Alemanha e a ter celebridades como protagonistas de inúmeros escândalos. Tenho a certeza de que haverá outros escândalos relacionados com a Cientologia menos noticiados, mas tão rentáveis. O canal HBO vai apresentar um documentário sobre esta associação no festival Sundance. O autor chama-se Alex Gibney e quer denunciar manipulações feitas em benefício do seu membro mais famoso e activo: Tom Cruise. Só para despertar o apetite, as notícias referiram que a Cientologia fez tudo para o separar da mulher, Nicole Kidman, porque a considerava perigosa. Nicole teve uma educação católica e é filha de um conhecido psicólogo australiano, logo duas actividades altamente condenadas pela Cientologia.