No site MercadoLibre, utilizado pelos venezuelanos para obter bens escassos, um pacote de 36 preservativos é vendido por 4.760 bolívares (660 euros), valor muito próximo do salário mínimo do país, que é de 5.600 bolívares.
"O país está numa tal confusão que, agora, temos de esperar na fila até para ter sexo", lamentou Jonathan Montilla, de 31 anos e directora de arte numa empresa de publicidade.
A queda no preço do barril de petróleo agravou a escassez de produtos de consumo, desde fraldas a desodorizantes, num país que importa a maioria dos seus bens e tem na exportação petrolífera cerca de 95% das receitas provenientes do exterior.
Como o valor que a Venezuela recebe pelo petróleo exportado caiu 60% nos últimos sete meses, a economia do país está a ser empurrada para o abismo com fortes possibilidades de não conseguir satisfazer o compromisso de pagar o serviço da dívida externa nos próximos 12 meses, se o preço do petróleo não recuperar.
A redução no acesso a contraceptivos é mais grave do que pode parecer, pelo facto de a Venezuela ter elevados números de infecção pelo vírus da Sida e uma das mais altas taxas de gravidez na adolescência da América do Sul, sendo o aborto ilegal no país.
Para Carlos Cabrera, vice-presidente da filial local da International Planned Parenthood Federation (Federação Internacional de Planeamento Familiar), sediada em Londres, dada a ilegalidade da interrupção voluntária da gravidez, o desaparecimento de contraceptivos poderá aumentar o número de mortes entre mulheres grávidas que recorram a clínicas clandestinas.
Por seu lado, Johnatan Rodriguez, do grupo sem fins lucrativos StopVIH, sublinhou que "esta escassez ameaça os programas de prevenção em que a organização tem vindo a trabalhar em todo o país".
Preservativos e outros contraceptivos começaram a desaparecer de muitas farmácias e clínicas venezuelanas no final de Dezembro passado, quando o governo limitou o recurso a divisas ao mesmo tempo que as receitas do petróleo baixaram.
Também as pílulas anticoncepcionais de emergência e as drogas antirretrovirais para pacientes com HIV estão a atingir níveis críticos.
Apenas na capital do país ainda era possível obter contraceptivos no final de Janeiro, recorrendo a um dos três centros de planeamento familiar onde os mesmos eram vendidos livremente a 3 bolívares a unidade.
Lusa / SOL