2. Começamos por afirmar que achamos que António Guterres fez uma opção inteligente. Extremamente sensata. Primeiro, porque a paixão de Guterres é a política internacional, a possibilidade de estar no palco principal da resolução das questões humanitárias de âmbito planetário mais prementes. O de poder contribuir para o futuro da humanidade, sobretudo no domínio da promoção da solidariedade entre os povos. Neste contexto, a ONU é a organização politica em que António Guterres se sente bem – e com convicção para trabalhar. Em segundo lugar, porque António Guterres conseguiu algo raro e que só é explicado pela sua feitio e maneira de ser: Guterres demitiu-se de Primeiro-Ministro, alegando que Portugal estava a entrar no pântano. Isto seria razão mais do que suficiente para continuar a merecer a censura da maioria dos portugueses. Mas não: Guterres goza, entre a sociedade portuguesa, de uma popularidade e admiração ainda assinaláveis. Explicação: no caso guterrista, a pessoa, a simpatia do cidadão – prevalecem sobre alguma incompetência ou incapacidade política revelada no exercício de cargos políticos de relevo nacionais. Em Guterres, o legado desastroso que deixou como político – é apagado pela força da simpatia da pessoa. Ora, passar da esfera de ajuda humanitária internacional (onde está e onde quero “progredir”) para a esfera política pura – de uma campanha eleitoral – iria necessariamente levar à ressurreição das várias trapalhadas guterristas.
3. E este tempo é particularmente adverso para Guterres. Foi o “pântano” de Guterres que constituiu a primeira antecâmara da pré-bancarrota de Portugal; e foi um seu discípulo – José Sócrates – que deu o derradeiro passo para o abismo financeiro e social de Portugal. Já para não falar que os seus mais próximos , como Armando Vara e José Sócrates, se enredaram em complexos processos judiciais, relacionados com as funções que exerciam. E Armando Vara foi mesmo condenado.
4. Em terceiro lugar, António Guterres não tem vontade, nem paciência, neste momento da sua vida, para encetar uma campanha eleitoral e falar do futuro de Portugal. Ele que está distante das preocupações dos portugueses e perdeu a capacidade de chegar ao português médio. Tudo, pois, converge para a recusa da candidatura presidencial de Guterres. Este não é o seu tempo. E Guterres, que é muito inteligente, percebeu isso muito bem.
5. Perguntará, então, o leitor: mas então qual a razão que motivou o adiamento sucessivo da decisão definitiva de Guterres quanto às presidenciais? Porque não disse logo “não sou candidato”? A justificação é muito simples: para não comprometer o PS, nem desgastar o partido com a discussão sobre as presidenciais. O que teria significado somar ao debate sobre a liderança do partido – encabeçada por António José Seguro e António Costa – , um debate extemporâneo sobre as presidenciais.
6. Tudo dito e somado, subsiste a grande questão: quem irá o PS apoiar para Presidente da República? Surgem os seguintes nomes: António Vitorino, Sampaio da Nóvoa, Jaime Gama ou Maria de Belém.
7. António Vitorino não tem condições, pessoais e objectivas, para disputar uma eleição. Primeira, porque tem os seus negócios como presidente de Assembleia-Geral de várias empresas – e os seus trabalhos como advogado de uma grande sociedade luso-espanhola, em que obtém receitas muito apreciáveis. E segundo lugar, Vitorino para disputar em 2016 teria que ter iniciado a sua aparição política regular há mais tempo.
8. Sampaio da Nóvoa é um candidato simpático e querido. E bem falante. Não passa disso. É bom para nos entreter e divertir – mas não tem hipótese de vitória.
9. Jaime Gama já disse que está muito satisfeito com as suas novas funções bancárias nos Açores – e está reformado da política. Já deu o seu contributo a Portugal. Não entrará, pois, no filme das presidenciais.
10. Maria de Belém Roseira é um nome para o futuro – mas não para 2016. Até porque António Costa vetaria o seu nome e representaria apenas uma minoria dos socialistas. Sem sequer conseguir chegar ao eleitorado comunista ou bloquista.
11. Logo, há que perguntar: se estes nomes não têm hipóteses para as presidenciais, qual seria a atitude mais patriótica e sensata do PS?
12. A primeira questão que os responsáveis e militantes do PS deveriam formular era a seguinte: o que têm em comum estes vários candidatos? Ora, António Vitorino é admirador confesso de Marcelo Rebelo de Sousa – e até já disse que o Professor daria um notável Presidente da República. Sampaio da Nóvoa, como Reitor da Universidade de Lisboa, já elogiou várias vezes o trabalho de Marcelo Rebelo de Sousa. Maria de Belém também não criticaria uma candidatura do Professor.
13. E Jaime Gama – na apresentação do livro do constitucionalista Carlos Blanco de Morais, o “Curso de Direito Constitucional – Tomo II” da Coimbra Editora – até disse que estava curioso para saber como o sistema português de fiscalização da constitucionalidade irá funcionar com um Presidente da Republica que é Professor de Direito Constitucional, referindo o nome de Marcelo Rebelo de Sousa.
14. E o próprio António Costa, num debate sobre a regionalização realizado no Porto, em que participou Marcelo Rebelo de Sousa (ainda em 2010!) referiu que Marcelo Rebelo de Sousa seria um candidato extremamente inteligente e preparado como ninguém para ser Presidente da República.
15. Mais: diz-se que outra das razões por que Guterres não avança é porque não quer defrontar Marcelo Rebelo de Sousa. Ou seja, ao contrário do que foi dito, não é Marcelo que não avança com medo de Guterres – é Guterres que não avança, também, porque tem muitíssimo respeito por Marcelo Rebelo de Sousa! Mais um factor de força extra para a candidatura do Professor a Belém.
16. Se o PS tiver sentido de Estado e não tiver nenhum preconceito em inovar na política portuguesa, mostrando que coloca sempre o interesse de Portugal acima dos interesses do partido e dos interesses pessoais, então o PS apoiará Marcelo Rebelo de Sousa. Estamos certos de que a grande maioria dos militantes do PS o fará, contribuindo para a vitória de Marcelo Rebelo de Sousa. A bem de Portugal.