Com a vitória do Syriza e a queda do PASOK na Grécia e um possível bom resultado do Podemos em Espanha destronando o PSOE, o xadrez dos socialistas europeus complica-se. Onde fica o PS nesta Europa?
Alguns socialistas, com António Costa à cabeça, viram na vitória do Syriza um “sinal de mudança” na União Europeia, apesar de ser um partido mais à esquerda, fora da sua família política. A ascensão do Podemos, que tem ganho protagonismo com um discurso anti-partidos, divide opiniões: uns mostram-se entusiasmados, outros receosos. Por cá, os socialistas mantêm-se tranquilos, sublinhando a diferença no panorama político: primeiro, o PS não executou as políticas de austeridade, segundo os movimentos à esquerda do PS continuam com pouca relevância na nossa sociedade.
“O PS está numa posição muito confortável, resolveu o problema da dissonância entre a direcção e o eleitorado, não tem de se preocupar com o que se está a passar na Grécia ou em Espanha”, afirma ao SOL o ex-ministro socialista Augusto Santos Silva.
Quanto a uma possível colagem do PS ao Syriza para retirar daí dividendos políticos de olho nas eleições, Santos Silva nota que o PS pertence à família socialista europeia e que não vai “mudar de ideologia só porque há 'azares' em sondagens ou eleições que o indicariam”. “A filiação ideológica é mais duradoura”, remata.
“O PS não é o Syriza, mas também não é o PASOK”, assegura João Soares. O deputado considera que a ideologia do PS é uma questão que ficou resolvida desde as grandes querelas de 1974/75. “O PS é um partido de esquerda e, se reanimar os valores básicos de sempre, estará onde sempre esteve”, defende.
'PS não é nem será o PASOK'
Logo a seguir às eleições na Grécia, o líder do PS viu na vitória de Alexis Tsipras um “sinal de mudança” da orientação política na Europa. E este fim-de-semana garantiu perante os dirigentes socialistas que “o PS não é nem será o PASOK”, o partido grego irmão dos socialistas, que esteve no Governo durante a ajuda da troika e encetou as políticas de austeridade na Grécia. Palavras que, para o socialista João Cravinho, foram “subestimadas”. “O relevante da questão não é o que o Syriza faz ou não, mas que o PS nunca fará o que fez o PASOK”, acredita o ex-ministro do PS que subscreveu o manifesto dos 74.
Para Cravinho, “não houve um voto ideológico” na Grécia, mas antes um “voto de sobrevivência”. Ou seja, “o Syriza não ganhou por ser de extrema-esquerda, que continua minoritária, mas ganhou a revolta contra a austeridade”. Admite que o PS pode não estar, para já, a ser claro quanto ao seu programa de Governo, mas sublinha que nunca poderá ser um “agente executante de uma política de barbaridade”, como foi o PASOK.
A vitória do Syriza foi um sinal de que algo na Europa está a mudar e pode ter um novo episódio nas eleições de Espanha. O barómetro de Janeiro do Centro de Investigações Sociológicas (CIS), divulgado esta quarta-feira, dá conta de uma nova sondagem que revela as intenções de voto dos espanhóis: o Podemos (23,9%) destronou o PSOE (22,2%) como segunda força política, depois do PP que continua como primeiro partido político com 27,3%.
A semana passada, Manuel Alegre antecipava ao SOL um contágio da viragem grega ao Sul da Europa. Augusto Santos Silva deita água na fervura: “Há uma distinção bastante clara entre o Syriza e o Podemos”. E defende: “Percebo melhor a esquerda radical, à qual não pertenço, como o Syriza, do que movimentos que pretendem ser pós-políticos, como o Podemos. Tendo a duvidar bastante desses movimentos”. Além disso, sublinha que em Portugal não há nenhum movimento com expressão política que possa equiparar-se ao Podemos. PSOE e PS têm ainda a vantagem de terem sido oposição aquando da aplicação do programa da troika.
No caminho até às eleições, os adversários do PS vão tentando empurrar os socialistas para um lado ou outro da barricada. À esquerda, o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, diz que o PS “é o PASOK de Portugal”, enquanto à direita as palavras de Costa sobre a vitória do Syriza têm sido vistas como uma colagem à extrema-esquerda. Mas Costa vai sempre equilibrando o tabuleiro, ora puxando ao centro, ora virando à esquerda.