“O nosso programa é realista. Não temos quaisquer obrigações senão perante o nosso povo e o interesse nacional”, declarou Tsipras. Os “objectivos básicos” do programa de Governo, disse, passam agora por “reconquistar a soberania” e lidar com a “crise humanitária” que Tsipras atribui a “5 anos de austeridade bárbara”.
“É nosso dever não desiludir”, afirmou.
Entre as medidas em causa, o líder grego reafirmou o aumento do salário mínimo para 751 euros, o travão às privatizações e electricidade e habitação gratuita para os cidadãos em maiores dificuldades, num país em que Tsipras diz viverem “dois milhões e meio de pessoas abaixo da linha de pobreza”.
O primeiro-ministro helénico decretou ainda guerra à corrupção e à evasão fiscal como um das bases do plano de recuperação do país. Neste âmbito, Tsipras anunciou o levantamento do estatuto de imunidade aos membros do comité de acompanhamento das privatizações e a investigação imediata da chamada lista Lagarde dos grandes devedores ao fisco.
“Cada cidadão e empresa terá de contribuir para os impostos”, disse.
Ainda na frente económica, anunciou a proibição da penhora de imóveis que sejam primeira habitação dos devedores e maiores restrições aos despedimentos colectivos.
Justificando o “mandato claro” concedido pelos gregos ao Syriza, Tsipras proclamou uma “reforma das instituições do Governo” no prazo de “seis meses”. Aqui, anunciou a reabertura da televisão nacional, a ERT, encerrada pelo anterior Executivo de Antonis Samaras. E a venda de automóveis de luxo e de aviões do Estado.
Numa aparente cedência ao discurso eleitoral dos parceiros de coligação dos Gregos Independentes, Tsipras anunciou um maior policiamento das ruas. Mas, e em colisão com o discurso nacionalista, declarou também que os filhos de imigrantes que nasçam em solo grego terão acesso imediato à nacionalidade helénica.
Para cumprir estas medidas, sublinhou o primeiro-ministro, a Grécia terá obrigatoriamente de resolver o problema da dívida. E Tsipras defendeu nesse sentido um “novo contrato entre a Grécia e a Europa” que “respeitará as regras da Zona Euro” mas que “não dependerá da austeridade”.
No imediato, porém, a Grécia precisa de um “empréstimo-ponte” até Junho. “Os nossos parceiros queriam uma extensão de seis meses do programa, mas o anterior governo pediu apenas uma extensão de dois meses. O anterior governo queria que o seu sucessor, mas também a Grécia, falhassem”, denunciou.
“A vontade do povo grego que votou a 25 de Janeiro não é negociável”, declarou, justificando a ruptura com a troika. E fez um apelo aos parceiros da União: “A Europa não pode repetir os erros do passado” ao alimentar o “ódio entre os seus povos”.
E ainda sobre dívidas, Tsipras defendeu que é "obrigação moral" da Alemanha o pagamento integral das indemnizações da Segunda Guerra Mundial.
“A situação da Europa é difícil, mas está a mudar. A Grécia terá um papel de liderança no processo”, disse.
“O problema não é só grego. É europeu. E a solução será europeia”, afirmou.
Por fim, na frente externa, Tsipras disse apoiar a “reunificação pacífica” do Chipre e afirmou que a Grécia será um “polo de estabilidade” numa área actualmente muito conturbada, que definiu como “o triângulo Ucrânia-Síria-Norte de África”.