O braço-de-ferro com a Grécia é uma ameaça à União Europeia?
Dá-se muitas vezes expressão à ideia de que o Syriza ganhou as eleições porque é anti-austeridade. Não há quem governe com o objectivo da austeridade nem partidos que tenham como ideologia a austeridade. A dicotomia anti e pró austeridade é falsa. Quem tem de aplicar essas medidas fá-lo para que haja condições para haver crescimento.
Classificar a política do Syriza como um «conto de crianças» não é demasiado duro?
Houve países que foram sujeitos a programas de resgate: a Grécia, a Irlanda, Portugal. E há países que já não estão em programas de resgate. A troika já não está em Portugal. O que nós fizemos foi suficiente para estarmos numa situação diferente da Grécia. Não devemos esquecer que a Grécia já beneficiou de um perdão de dívida. Outro perdão significaria que Portugal perderia cerca de 1,100 milhões de euros. É o correspondente ao orçamento do Ministério da Justiça. E esse dinheiro é dos contribuintes portugueses.
Portugal não beneficiará das condições conseguidas pela Grécia?
Nós não fazemos como António Costa faz, que é andar em cada semana ao sabor do que pode ser mais ou menos popular. Quando o Syriza ganhou, era um factor de esperança. Quando recuou em relação a algumas das suas exigências já era um factor positivo. Aliás, acho que há em António Costa uma fobia às sondagens.
Costa age em função de sondagens?
Exactamente. O problema é que se fala desce nas sondagens, se não fala desce nas sondagens. Quanto mais os portugueses conhecem Costa, mais cai o mito.
Está confiante na vitória nas legislativas?
Podemos estar prudentemente optimistas. Os portugueses têm hoje a noção de que os sacrifícios a que foram sujeitos nos últimos três anos fizeram sentido, porque os dados que estão a aparecer são positivos e objectivos.
Não falta que os portugueses sintam no bolso esses sinais?
O primeiro factor que é essencial é a confiança. E quando se vê que estes indicadores estão em linha com o que foi dito ao longo destes três anos, há um reforço da confiança no Governo.
Até Outubro os portugueses vão sentir isso?
Estamos em ano eleitoral, mas não somos eleitoralistas. O país já pagou muito caro esse eleitoralismo em 2009, quando o Governo de Sócrates aumentou os funcionários públicos em 2,9%, baixou um ponto o IVA e fez as obras megalómanas da Parque Escolar. Tudo isso deu para ganhar as eleições, mas arruinou-se o país. Este Governo não tomará medidas eleitoralistas.
Passos fez bem em resistir à pressão do CDS para baixar a sobretaxa de IRS?
É um sinal de maturidade política que haja discussão. O que é também sinal de maturidade é que no momento em que é preciso tomar a decisão final haja consenso e solidariedade para defender as medidas do Governo. Nesse ponto, a coligação tem sido um exemplo. É a primeira que dura um mandato inteiro.
Não deveria já estar definido o acordo pré-eleitoral entre PSD e CDS?
Vai acontecer no momento em que tenha de acontecer.
Quando será o momento correcto?
Não sou dirigente partidário. Mas tenho a certeza de que nesse momento vai acontecer uma decisão. Houve um primeiro mandato necessário para fazer reformas estruturais. Agora, é preciso consolidar as reformas. Este Governo tem um projecto para dois mandatos.
PSD e CDS devem ir juntos a votos?
Há várias maneiras. Quando se ganhou as eleições não se foi em conjunto a votos. O que é importante é que há um projecto e essa não é uma questão menor, porque os protagonistas que são alternativa são os mesmos que em 2009 conduziram o país à pré-bancarrota. Este PS é o mesmo que era liderado por Sócrates. Este não é o PS de António José Seguro, que tinha como protagonistas dirigentes diferentes.
Costa é igual a Sócrates?
Há um modelo de governação, que é o de Sócrates. São os mesmos protagonistas. Até a actuação política é semelhante. Há alguma demagogia que é semelhante aos números mediáticos que eram feitos antigamente. Por exemplo, no Congresso do PS, o momento cénico, a meu ver altamente criticável, sobre a violência doméstica. Criou-se aquele momento para desviar as atenções do que era politicamente relevante, que era o que se fazia no passado.
Apesar de preso, Sócrates vai ser uma figura da campanha eleitoral?
Não discuto a questão do ponto de vista jurídico. Nem se deve instrumentalizar o processo para fazer política. Mas também não se deve usar esse caso para que não se discuta o modelo de governação que foi protagonizado por Sócrates.
O candidato presidencial devia estar num acordo entre PSD e CDS?
Se houver um acordo pré-eleitoral, acho que é natural que a questão presidencial surja. Mas não devemos alterar os dados das candidaturas. Primeiro, tem de haver quem esteja disponível para ser candidato.
O único que afirmou disponibilidade, Santana, recuou no calendário…
O que significa que a prioridade dos portugueses tem que ver com a governação do país, que são as legislativas.
Outubro não é demasiado tarde para fazer campanha?
Parece que não.
Para um candidato como Rui Rio que não goza da notoriedade de Marcelo…
Nem sei se Rio quer ser candidato…
Gostava que ele quisesse?
Eu estou como os portugueses. Estou focalizado em criar as melhores condições de sustentabilidade dos indicadores que estão aí.
Não tem uma opinião?
Não tenho. Nem há candidatos.
Já foi candidato à liderança do PSD. Exclui voltar a sê-lo se Passos perder as eleições?
Devemos ter muito cuidado em não fazer nenhum tipo de intervenção que fragilize a nossa aposta de vencer as eleições. O PSD tem um líder que foi ainda recentemente confirmado em Congresso. Eu serei um agente pró-activo para esse efeito. Não se discutem cenários que nem desejamos que aconteçam.
Não se discute o pós-Passos?
Porque estamos todos a tentar que não haja pós-Passos.
O facto de o PM ter corrigido a ministra da Justiça sobre a despenalização das drogas leves revela descoordenação política?
Não. Um governo tem um programa. E cada ministro tem opiniões sobre variados temas, que estão para lá do programa do Governo.
É matéria que a ministra tutela…
Está bem. Mas na matéria que tutela são muitos os temas. Uns ficaram consagrados no programa do Governo e outros não. Isto não nos inibe de termos opiniões. Mas o que está no programa do Governo tem de ser cumprido. Problema haveria se houvesse uma acção legislativa que estivesse em confronto com o programa.
O caso da hepatite C foi negativo para o Governo?
Na Saúde fizeram-se reformas estruturantes. Há três anos o que se discutia era se Portugal tinha condições para continuar a ter Serviço Nacional de Saúde (SNS). É altamente positivo que já não se questione o SNS. É claro que há áreas em que se pode melhorar sempre. O ministro da Saúde em vários índices de popularidade era considerado como o melhor do Governo, não passou a ser o pior. Há coisas que correm melhor e coisas que correm pior. Mas o saldo é altamente positivo.