Além destes futebolistas em situação ilegal, as autoridades identificaram já oito agentes desportivos que, actuando sob a capa de empresários de futebol, vivem exclusivamente dos rendimentos obtidos pelos auxílios que dão a esta imigração ilegal.
Uns vêm pelo sonho de jogar à bola, mas outros à procura de uma vida melhor. “Chegam pela mão de empresários de futebol, uma capa de angariadores de mão-de-obra ilegal”, explicou ao SOL fonte ligada ao processo.
Segundo a mesma fonte, os investigadores suspeitam de que neste momento existam “mil atletas nestas circunstâncias”. Ou seja, “que são trazidos por empresários sem escrúpulos que recebem dinheiro para colocar estas pessoas na Europa”
O clube de futebol serve para fazerem um contrato de formação desportiva ou de trabalho, o que lhes permite obter um visto. Uns acabam por se manter nos clubes a marcar golos, outros ficam a cuidar da relva e muitos outros vão-se embora em busca de melhores salários pela Europa.
O alerta para a situação destes futebolistas foi dado no distrito de Viseu, devido ao elevado número de atletas estrangeiros registados nalguns clubes. Venezuelanos, brasileiros e nigerianos são as nacionalidades “com maior presença, mas há naturais de vários países”, refere aquela fonte.
Os inspectores que andam no terreno confirmam que “há empresários de futebol a trazer imigrantes ilegais para a Europa com a ilusão da bola”.
“Pagam para vir para a Europa, entre dois a cinco mil euros. Se 'pegarem' no futebol, esperam-nos os campeonatos da terceira divisão. Se não tiverem jeito, sempre podem procurar emprego ou então acabam abandonados”, como já denunciou o Sindicato de Jogadores Profissionais de Futebol.
Segundo o SEF, no Centro do país foram inspeccionados 60 clubes de futebol, onde detectaram “duas centenas e meia de cidadãos estrangeiros, atletas inscritos por um número significativo de clubes, dos quais 157 não estavam legalmente habilitados ao desenvolvimento da actividade praticada, por não serem possuidores de título de residência ou visto adequado à prática desportiva”.
Mil euros por jogador
Em causa está o modo como estas pessoas são inscritas na Federação Portuguesa de Futebol (FPF). “Basta o visto e o pagamento das inscrições – cerca de mil euros por jogador – e o falso contrato é formalizado como se legal fosse”, explica ao SOL um inspector. Depois de inscritos, acrescenta, estes jogadores, “que rodam por vários clubes”, não são alvo de acompanhamento por parte das autoridades desportivas.
E quando não ficam com contratos de futebolista “são colocados como roupeiros ou jardineiros”, diz o inspector. Há mesmo situações de clubes “com dois roupeiros e um jardineiro, apesar de o campo ser pelado”, exemplifica outro investigador. É que, depois de o atleta entrar em Portugal, pode seguir para a Europa, procurar outro trabalho e circular livremente pelo espaço Schengen. Foi o que sucedeu com três dos identificados na operação do SEF, que foram levados a tribunal por não terem cumprido uma anterior notificação de abandono voluntário.
Na sequências das visitas do SEF a 60 clubes, 25 foram ainda multados por terem ao seu serviço atletas sem autorização de residência, sem visto, ou sem contrato de formação desportiva.
Esta operação de controlo da imigração ilegal, cuja malha apertou devido aos ataques terroristas de França, vai continuar devendo alguns dos suspeitos ser constituídos arguidos no desenrolar das investigações.
Contactada pelo SOL, a FPF esclarece que já decidiu alterar o regulamento de inscrição de jogadores estrangeiros – que passará pela obrigatoriedade da verificação da situação legal dos jogadores em causa, passando a exigir-se o visto de estada temporária ou de residência, ou um contrato de trabalho.