Quando o telefone toca…

O que têm em comum o fim de uma noite e o fim de uma relação? O melhor, em ambos os casos, é desligar o telemóvel para não cairmos na tentação de dizermos coisas que não queremos, por impulso ou por ficarmos mais sensíveis, susceptíveis e expostos, o que pode passar uma imagem irrevogável que,…

E quantas pessoas não passaram já por isso? Quem não recebeu ou fez uma chamada uma vez que fosse? É fim da noite, uns copos a mais ou, tão só, um sentimento de solidão inebriante… e toca de procurar na lista telefónica aquele caso antigo que ficou mal resolvido ou aquela pessoa que conhecemos nessa noite e com quem trocámos o número na esperança de qualquer desenvolvimento e 'pum' – deita-se tudo a perder por sucumbir à ansiedade ou à vontade de alimentar constantemente o ego, em busca da valorização pessoal e da confiança que se perdeu nalguma fase menos boa ou nalgum amor não correspondido.

O telemóvel é, hoje em dia, um actor principal no jogo de sedução, na estratégia que é cada vez mais assente um relacionamento, seja de que tipo for, e por ele passa o sucesso ou insucesso da operação. Por vezes, um telefonema na hora errada ou uma mensagem sob um estado de espírito mais negativo e tudo pode ruir como um castelo de cartas.
Também o que na sua memória fica guardado dá, por vezes, azo a finais infelizes, discussões, conflitos e desconfianças. As fotografias que não se deviam ter tirado, o texto promíscuo para aquela amiga que no fundo é mais do que isso, o deixar a porta aberta para situações passíveis de gerar mau-estar, o jogo do gato e do rato que se teima em manter mesmo tendo uma vida feliz e equilibrada.

É por essas e por outras que manter uma relação é, nos dias que correm, como percorrer uma estrada cada vez mais sinuosa, cheia de perigos, mudanças de sentido, cruzamentos mal sinalizados e semáforos intermitentes. Estamos expostos a variáveis que nos aproximam, que inconscientemente criam laços e nos fazem, sem termos essa noção, ter tantos e tão graves acidentes de percurso que invariavelmente terminam em amizades atropeladas e mortes lentas de pessoas que, noutras épocas, teriam tudo para serem felizes.

É essa dinâmica do imprevisto, da evolução, que também tem benefícios, que nos obriga a manter o equilíbrio certo entre optar por uma vida social activa ou escolher um caminho isolado do mundo que nos leva a vidas enfadonhas e empoeiradas. Vivemos num tempo em que ainda não o sabemos fazer correctamente, mas acho que lá chegaremos. É muita informação, muita gente, muita vida, muitos mundos. Mais do que sabermos usufruir de todas as funcionalidades desta pequena caixa com botões é importante sabermos usá-lo no domínio da emoção, no controlo das fragilidades que ele pressupõe. Afinal de contas, todos os labirintos têm uma saída. E quando o telefone toca…

Sugestões:

Clube: Yalta (Sófia, Bulgária)

Música: Step Up (Jamie Lewis Main Mix) – Jamie Lewis & Michelle Weeks