Hotelaria desmistifica recordes do sector em 2014

O presidente da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP), Luís Veiga, negou hoje que se tenham batido recordes em termos da ocupação de hotéis e rendimento por quarto em 2014 e aconselhou ao Governo “mais calma” com os números.

"Não se atingiu ainda a taxa de ocupação e o RevPar (rendimento médio por quarto) de 2007, há que ter calma nas apresentações que fazemos", salientou o dirigente da AHP, dois dias depois de o secretário de Estado do Turismo afirmar que 2014 foi o ano "em que todos os recordes foram batidos".

"Os dados que servem para os políticos exporem estes recordes merecem ser tratados de outra forma", considerou Luís Veiga, já que os dados do INE não reflectem uma realidade necessariamente igual à analisada pela AHP.

O ano de "2014 ainda ficou aquém dos resultados de 2007", reforçou a presidente executiva da AHP, Cristina Siza Vieira, que apresentou hoje em Lisboa, na BTL – Feira Internacional do Turismo, os resultados do barómetro da hotelaria portuguesa no ano passado. 

A taxa de ocupação atingiu 62,74% abaixo dos 66,52% de 2007, enquanto o RevPar, que chegou aos 44,14 euros em 2007, se fixou em 43,24 euros no ano passado.

O preço médio por quarto teve uma subida ligeira, de 66,36 para 68,91 euros evidenciando "alguma estabilidade", adiantou Cristina Siza Vieira.

A presidente executiva da AHP justificou as diferenças entre números com o facto de o INE apresentar estatísticas para a totalidade dos alojamentos, enquanto a AHP contabiliza apenas os hotéis propriamente, apontando ainda "uma certa confusão" entre conceitos como rentabilidade, receitas e proveitos.

Lisboa foi o principal destino (74,72%), seguindo-se a Madeira (73,87%) e o Grande Porto (65,26%), enquanto a média nacional de ocupação do quarto rondou os 62,74%.

Lisboa, Estoril e Algarve tiveram preços médios superiores à média nacional de 68,91 euros, obtendo, respectivamente, 79,49, 76,78 e 73,8 euros. 

Luís Veiga considerou que esta grande disparidade desmente que o turismo promova a coesão social e pôs em causa "a propalada grande rentabilidade hoteleira", frisando que dois terços dos hotéis ainda têm resultados líquidos negativos.

Segundo o presidente da AHP, as diferenças entre taxas de ocupação e RevPar entre regiões são cada vez maiores de ano para ano. Lisboa, por exemplo, teve o dobro da ocupação do destino que ficou pior classificado (Viseu, com 30,67%), e no caso do RevPar a diferença foi ainda maior (59,40 euros em Lisboa que compara com 14,74 euros em Lisboa).

"As disparidades inter-regionais não têm nada a ver com aquilo que politicamente se fala, de que o turismo ajuda a coesão territorial e há enormes problemas de viabilidade económica em algumas dessas unidades", disse Luís Veiga.

As perspectivas para 2015 são optimistas, mas o crescimento "explosivo" e descontrolado do alojamento local preocupa os hoteleiros.

Segundo a AHP, existem quase 8.000 registos deste tipo de alojamento, mas desconhece-se a realidade quanto ao número de camas, que podem chegar às 50 mil.

"Não é um número que não seja concebível e mostra que pode haver muitas distorções nos dados do INE", comentou o mesmo responsável.

Luís Veiga abordou ainda outros problemas que afectam a hotelaria como a "imposição fiscal absurda" mesmo para hotéis que apresentam prejuízo e os custos elevados da electricidade, água e gás natural que, em algumas unidades representam dois terços dos encargos com pessoal.

"É um custo enorme, é por isso que os hotéis não são rentáveis", lamentou.

Já no que diz respeito à capitalização do sector, o banco de fomento "pode ser uma saída", mas os hoteleiros continuam "à espera que nasça".

Lusa/SOL