Estado Islâmico perde terreno

O autoproclamado Estado Islâmico (EI) prossegue a sua estratégia de raptos e de propaganda terrorista, mas uma conjugação de esforços dos aliados está a provocar uma perda do grupo extremista em quase toda a linha. 

Estado Islâmico perde terreno

São 21 aviões de combate franceses que estão à disposição da aliança contra o EI desde segunda-feira. Chegaram ao Golfo Pérsico no porta-aviões Charles de Gaulle e juntam-se aos outros 15 caças gauleses que estavam ao serviço desde Setembro, usando bases nos Emirados Árabes Unidos e na Jordânia.

É uma «nova etapa» que se abre no conflito, com Paris a demonstrar «total firmeza», segundo as palavras do ministro da Defesa Jean-Yves Le Drian. Prova disso é que na guerra contra o «islamofascismo», como caracterizou o primeiro-ministro Manuel Valls o extremismo islamista, os franceses têm neste momento 20 mil militares em acção, quer em patrulhamento dentro do Hexágono, quer em missões no exterior.

Com o porta-aviões chegaram ao Golfo Pérsico um submarino nuclear, uma fragata de defesa anti-aérea, outra de defesa submarina e um petroleiro de abastecimento, totalizando 2.600 homens, que se juntam à centena que rumou a Bagdade para dar formação ao exército iraquiano.

Conselho de guerra no Kuwait
Também os Estados Unidos deram sinais de maior empenho no conflito. Além de Washington ter chegado a acordo com os turcos para dar apoio a grupos que combatam na Síria o EI e a Frente al-Nusra, o novo secretário da Defesa, Ash Carter, presidiu a uma espécie de conselho de guerra no Kuwait com altos quadros militares e diplomáticos, e que incluiu o comandante militar das forças norte-americanas na Europa e da NATO, o general Philip Breedlove. «Do debate conclui-se que esse grupo está claramente longe de ser invencível», declarou Carter após seis horas de uma reunião inédita na forma e na substância (Carter proibiu apresentações em PowerPoint e exigiu um debate franco).

Nos últimos dias, o exército iraquiano retomou a cidade de Al-Baghdadi, na província de Anbar, de importância estratégica por ficar não muito longe de uma base aérea na qual militares norte-americanos dão formação aos congéneres iraquianos. Posições dos jihadistas em cidades importantes como Mossul ou Tikrit começam a ser alvo da aliança para preparar terreno a uma futura invasão. No Nordeste da Síria, os peshmergas, com a ajuda dos bombardeamentos da coligação, começam a expulsar o EI, que já perdeu uns 1.500 combatentes só com os ataques aéreos. 

A Jordânia, que alberga 600 mil refugiados sírios e que promete aumentar a participação no conflito, deu uma pista sobre o que deverá acontecer nos próximos tempos. À NPR o brigadeiro Aref al-Zaben disse que «a luta contra o Estado Islâmico vai incluir forças especiais e operações especiais no terreno», uma «iniciativa da coligação». Até agora, a coligação limita-se a bombardear posições do EI, deixando para os curdos, para o ainda frágil exército iraquiano e para as milícias xiitas provenientes do Irão o trabalho sujo de combate.

Mas nem tudo corre pelo melhor. O rapto de 90 a 150 cristãos (conforme as fontes) na província de Hasaka, nordeste da Síria, provoca um arrepio na espinha quando na semana passada foi divulgado um vídeo com a decapitação de 21 cristãos egípcios na Líbia. No campo da propaganda, o EI difundiu ainda um vídeo em que mostra 21 prisioneiros enjaulados, alegadamente guerrilheiros curdos – convidando os peshmergas que os combatem a abandonar as armas e ameaçando-os que este ou pior poderá vir a ser o seu destino. E ninguém se esquece da atrocidade cometida numa jaula ao piloto jordano.

A guerra da propaganda entre os jihadistas e a civilização tem sido objecto de discussão. O Presidente dos Estados Unidos, na semana passada, dirigiu-se aos guias religiosos muçulmanos e qualificou o discurso deles de «chato» e sem ligação ao mundo contemporâneo. «Esta é a verdade: os vídeos de alta qualidade, os magazines online, a utilização dos media sociais, as contas dos terroristas no Twitter estão feitos para captar os jovens no ciberespaço», afirmou Barack Obama.

cesar.avo@sol.pt

Aliança: C2 norte-americano
estacionado no porta-aviões
francês Charles de Gaulle no GolfoPérsico