O relatório de 100 páginas divulgado ontem – que analisou documentos das autoridades de 2012 a 2014 – revela, por exemplo, que 85% dos condutores mandados parar pela Polícia eram afro-americanos. Prova que a sua selecção em operações de stop era totalmente aleatória e na maioria das vezes sem qualquer fundamento, uma vez que outros carros podiam continuar tranquilamente.
E uma vez parados, os negros enfrentavam tratamento diferenciado também. A probabilidade de serem revistados era o dobro face aos brancos, apesar de essas buscas provarem que os brancos tinham 26% mais probabilidades de terem em posse artigos ilegais como droga, armas ou contrabando.
Quanto a multas propriamente ditas – que o Departamento de Justiça afirma que serviam mais para os cofres da cidade do que para garantir a segurança e o cumprimento das regras no trâsnsito – 90% iam parar a condutores afro-americanos. Quanto ao jaywalking, que pode ser definido como atravessar a estrada fora da passadeira ou em locais proibidos, os negros pagaram 95% dessas multas.
Finalmente, os dados sobre múltiplas contra-ordenações registadas pela Polícia entre 2012 e 2014 também pendem a favor dos brancos. Os afro-americanos de Ferguson incorreram em quatri ou mais multas na mesma situação 73 vezes, contra apenas dois casos de brancos.
Ferguson, junto a St. Louis, entrou nas bocas do mundo em Agosto do ano passado após a morte de um jovem negro de 18 anos, Michael Brown, abatido a tiro pela Polícia. Gerou-se uma onda de indignação com várias manifestações e tumultos na cidade, que tiveram resposta violenta das autoridades, chegando a ser decretado recolher obrigatório. Em Novembro os tumultos voltaram quando se soube que a actuação do polícia responsável pela morte de Brown não iria ter quaisquer consequências judiciais.