Zeinal Bava, ex-presidente da PT Portugal e da Oi, Henrique Granadeiro, ex-presidente executivo da PT SGPS, e Luís Pacheco de Melo, ex-administrador financeiro da PT Portugal e actual CFO da PT SGPS, protagonizaram os depoimentos.
Apesar de desempenhos totalmente diferentes, os três responsáveis máximos da operadora tiveram algo em comum: não conseguiram esclarecer – com o rigor exigido pelos deputados – o seu grau de envolvimento nas aplicações da PT em dívida de entidades do GES.
Zeinal Bava foi o primeiro a prestar declarações – parcas em substância devido à sua falta de memória. Afirmou já não ser gestor quando a PT investiu na Rioforte. Com vários prémios de melhor CEO, Bava foi presidente executivo da PT SGPS até 2013, altura em que saiu para a Oi e se manteve como presidente da PT Portugal até 2014. Quando questionado sobre as aplicações realizadas durante o tempo em que comandava a operadora a partir da Avenida Fontes Pereira de Melo em Lisboa, Zeinal disse que não se recordava ou que desconhecia.
O desempenho do gestor deixou os deputados desagradados e curiosos para testar a memória do depoente seguinte. Esta quarta-feira, Henrique Granadeiro surpreendeu pela positiva. Fez mea culpa, mas apenas por uma parte do investimento: 200 milhões de euros. Remeteu a restante responsabilidade para a PT Portugal, embora não tenha atacado directamente Zeinal Bava. Apontou baterias para Pacheco de Melo, CFO das duas empresas na altura, e para Morais Pires, administrador financeiro do BES e gestor na PT.
“A PT tinha uma comissão executiva e dois presidentes. Uma originalidade que poderá ter sido a causa de equívocos e de elevados prejuízos para os accionistas”, frisou.
Além da divergência da paternidade, as datas importantes da companhia também motivaram contradições. Na quinta-feira, Luís Pacheco de Melo alinhou na versão de Zeinal Bava, deixando Granadeiro isolado. “A decisão de investimento é na minha opinião de Henrique Granadeiro que me pede para ir ao BES tratar dessa aplicação. Na reunião no BES com Morais Pires foi-me dito que estaria tudo acordado entre o Dr. Granadeiro, Ricardo Salgado e Zeinal Bava. E tratava-se de renovar as aplicações de 900 milhões de euros por um ano”.
Apesar de desalinhados, os altos responsáveis da PT conseguiram mostrar consenso em alguns temas, como uma subtil crítica às entidades de supervisão. Nunca a PT recebeu qualquer reparo por investir no BES, quer da auditoria interna e externa, quer das entidades de supervisão, defendem. As aplicações remontam a 2000, ano do início da parceria estratégica com o BES, e nunca a instituição liderada por Ricardo Salgado tinha falhado o pagamento.
Além disso, garantiram que eram feitas análises ao risco dos produtos financeiros, mas “contra fraudes não há análise que resista”, sintetizou o CFO.
Granadeiro foi ainda mais longe, ao referir que o Presidente da República, a ministra das Finanças e o governador do Banco de Portugal atestaram publicamente a solidez do BES poucos dias antes do colapso do banco. “Estou perfeitamente convicto que a PT, eu, o seu presidente e os seus trabalhadores, fomos enganados e defraudados pelo BES e os seus mais altos responsáveis”, resumiu na quinta-feira Pacheco de Melo.