Incompetência

Por vezes, o que mais nos indigna são os pormenores nas histórias revoltantes. O caso das muçulmanas inglesas que viajaram de Londres para se juntarem ao Estado Islâmico é um exemplo. O lado revoltante é estas raparigas nascidas e bem educadas em Inglaterra se terem deixado seduzir pela propaganda do EI. Não sei se a…

Mas além do futuro sinistro que as espera, há um pormenor que não sai da minha cabeça. Os aeroportos, sobretudo os de Londres, estão sob vigilância atenta, por culpa dos amiguinhos destas raparigas. Apesar disso, uma delas passou pelas autoridades com um passaporte que não era dela. As outras duas eram demasiado jovens para viajarem sozinhas. E não é que nenhuma teve problemas em embarcar?

Arma de senhora

Em 1985, em Växjö, uma cidade na Suécia com 60 mil habitantes, Danuta Danielsson bateu  com a carteira num neonazi. Um fotógrafo captou este momento maravilhoso, que é conhecido ao ponto de 30 anos mais tarde um escultor ter querido erigir uma estátua a esta cidadã sueca, cuja mãe sobrevivera a um campo de concentração. A ideia da estátua à heroína enfurecida foi chumbada pela municipalidade, que a considerou um incentivo à violência. Mesmo que arma fosse uma aparentemente inofensiva carteira de senhora, a homenagem podia dar ideias a pessoas mais enervadas, sobretudo nestes tempos frágeis que correm. Os defensores da estátua a Danielsson decidiram reagir e colocaram carteiras noutras estátuas da cidade, criando um movimento em torno daquele que defendem ser um acto de coragem e que por isso devia ser homenageado. Penso que têm razão, mas a homenagem na verdade já está feita na fotografia. Espero que esteja em destaque num museu da cidade.

Estudo comparativo

As teorias da conspiração nascem como cogumelos quando há um crime e a vítima é uma figura pública. Se se trata de políticos, acontece sempre o mesmo. A diferença é que no universo da política as teorias são parecidas. À pergunta 'quem sai beneficiado com o crime?', as respostas são: ou os autores foram os inimigos da vítima que se queriam livrar de um rival perigoso ou foram os companheiros da vítima depois de terem concluído que tinha mais valor morta do que viva. Há cerca de um mês, o procurador argentino Alberto Nisman, inimigo declarado do governo de Kirchner, foi assassinado. Gente próxima do governo repetiu que Nisman não era assim tão perigoso e que a sua morte só prejudicava o governo. Na semana passada, Boris Nemtsov, conhecido opositor de Putin, foi morto em Moscovo. O porta-voz do governo afirmou que Nemtsov não representava perigo para o actual regime. Parece que Boris Nemtsov e Alberto Nisman são mais importantes como mártires.

Terrorismo cultural

O ataque do autoproclamado Estado Islâmico ao Museu de Mosul foi reproduzido pelas televisões vezes sem conta, como se não fossem «imagens capazes de ferir a sensibilidade dos espectadores». A destruição a martelo de esculturas com milhares de anos não é a execução de seres humanos, mas o que move uma e outra é a mesma bestialidade. Não fui capaz de ver mais de uns segundos. Amy Davidson, na New Yorker, conta que especialistas viram as imagens inúmeras vezes para poderem perceber se estátuas, frisos ou relevos eram réplicas ou originais. Um relevo e estátuas que se desfizeram em pó à primeira pancada era réplicas em gesso sem valor. Os originais estão a salvo no Museu Britânico, em Londres. O pior aconteceu quando os selvagens tiveram dificuldade em destruir as obras. Peças em pedra com milhares de anos não são fáceis de destruir, nem com martelos pneumáticos. Uma das estátuas, enorme, de um touro alado com cabeça de homem tinha três mil anos.

Fora as touradas

Sem que ninguém se tivesse apercebido disso, o Parlamento aprovou um diploma que permite que menores acedam à actividade de forcado tauromáquico. Confesso que a notícia me apanhou de surpresa. Afinal, na minha cabeça (mas infelizmente só nela) as touradas em Portugal foram proibidas… A realidade é que não só não foram como parecem ser um negócio de futuro no país, com a profissão de sonho de 'forcado tauromáquico' à disposição a partir de agora a menores de 18 anos. É certo que já praticamente tudo é permitido aos adolescentes. Podem beber até cair na 24 de Julho, fumar, consumir drogas, tudo menos votar. Por que não hão-de participar livremente numa actividade em que podem correr perigo de vida? Será este um sinal de que o voto será permitido aos 16 anos? Porque não aos 14? Os miúdos de hoje sabem de internet… Voltando aos forcados adolescentes, por que razão o Parlamento português continua a insistir em proteger uma actividade imoral?