O PS quer ser oposição mais 4 anos e apoia Passos Coelho

É oficial: o PS – a liderança socialista de António Costa – vai mesmo apoiar Passos Coelho para continuar à frente do Governo de Portugal por mais quatro anos. O PS reconheceu que não tem alternativa – e já se resignou. Primeiro, foi a confissão de António Costa feita perante a plateia de investidores chineses:…

1. Enfim, parece que António Costa, desde essa célebre conferência dada perante os chineses, está empenhado em redimir-se perante os portugueses. Está disposto a actuar atendendo, apenas e só, ao interesse nacional. Portanto, António Costa já só quer mesmo reconhecer o trabalho desenvolvido pelo Governo PSD/CDS nos últimos anos. Se o meu caríssimo leitor teima em não acreditar nesta nossa elementar conclusão, passemos a demonstrar com factos e dados objectivos.

2. Em primeiro lugar, António Costa já revelou tiques socráticos e uma vontade incontrolável para domar a comunicação social. Para silenciar os jornalistas. Este nosso líder socialista convertido a Passos Coelho ficou deveras incomodado com a circunstância de uma jornalista da SIC Notícias lhe fazer uma pergunta simples e mais do que expectável. Que atrevimento, senhora jornalista! Sair de trás de um carro (não havia carro nenhum perto: até nisto António Costa consegue mentir…) e…fazer uma pergunta? Que raio de audácia é essa?! Fazer perguntas? A António Costa? Incomodar o silêncio sepulcral de António Costa? Este nível de descaramento não existia no tempo de Sócrates: António Costa é um saudosista dos tempos em que José Sócrates calava jornalistas e tentava fechar jornais. Senhora jornalista, se quiser falar com o nosso Costa, primeiro terá de marcar uma entrevista, enviar as perguntinhas de forma a que o nosso Costa possa encenar e estudar ao pormenor as suas respostas! As mentiras que Costa diz aos portugueses (nas raras vezes em que fala) exigem muito tempo de estudo e preparação! Mentir é uma arte: só com marcação prévia, senhora jornalista! António Costa só fala de improviso, dizendo a verdade, se for uma entrevista para chineses ou estrangeiros. Mas, como era para a SIC Notícias e para portugueses, António Costa tem de ensaiar bem o discurso para não cair no erro de falar verdade e ter de elogiar o trabalho do Governo…

3. Objectivamente, ao lembrar aos portugueses que não abdica dos seus tiques socráticos e do que aprendeu com tantos anos de convívio com José Sócrates, sendo seu braço direito e discípulo preferido, António Costa reforça Passos Coelho.

4. Em segundo lugar, o que aconteceu ontem na Assembleia da República deveria levar ao desespero qualquer socialista. Vitalino Canas com uma intervenção completamente desajustada, um discurso redondo, atabalhoado – e em contradição com o posicionamento assumido por António Costa. Elogiar o Syriza num debate que só poderia correr bem ao PS? Depois de o PS ter dito e repetido que o seu parceiro é o PASOK e, portanto, não tem nada que ver com o governo da Grécia? É uma posição patriota defender a Grécia no Parlamento, com a instabilidade que se vive e com risco de nova crise política na Grécia? Mau. Muito mau. Mas, sobre a Europa, até o discurso dos Verdes foi mais forte e eficaz…

5. Bom, mas o pior foi a intervenção inicial de Ferro Rodrigues. Na política, a gestão de expectativas é algo muito importante. Direi mesmo determinante. Quais eram as expectativas que os portugueses tinham quanto ao debate quinzenal de ontem? O discurso difundido na comunicação social era o de que Passos Coelho iria ser apertado pela oposição, os deputados do PS seriam ferozes e contundentes e o Primeiro-ministro – coitadinho! – iria ficar de rastos. Esta era a narrativa que foram vendendo durante quase uma semana.

6. E o que aconteceu? Precisamente o contrário! Passos Coelho goleou o PS! Passos Coelho esmagou mais o PS do que o Bayern Munique a outra equipa da Ucrânia, na Liga dos Campeões! Passos Coelho deu 8-0 ao PS…A intervenção de Ferro Rodrigues foi um desastre. Uma verdadeira tragédia.

7. Bastava olhar com atenção para o semblante de Ferro Rodrigues (cansado, agastado, quase sonolento) e de Sónia Fertuzinhos ao seu lado (angustiado, monótono, uma cara de luto) para perceber que o debate só poderia correr mal a PS. Durante a sua intervenção, Ferro Rodrigues só olhava para os papéis, fez uma referência aos Super-Dragões(porque tinha uma gravata verde) e…limitou-se a exigir a Passos Coelho eu pedisse desculpas aos portugueses! Por amor de Deus!

8. Ferro Rodrigues, para além de ter andado aos papéis, não foi nem brilhante, nem original. Não foi brilhante, porque Passos Coelho, ao reconhecer o erro e ao pagar quando a dívida, por causa que não lhe é imputável, não é exigível já fez mais do que pedir desculpas. E não foi original, porque durante uma semana praticamente todos os comentadores mais mediáticos já tinham pedido a Passos Coelho para pedir desculpa aos portugueses. Pouco. Muito pouco para quem ameaçava tanto! O que terá acontecido? Por que razão estava a bancada do PS tão tristonha, quando a vitória no debate parecia ser certa?

9. A explicação só pode ser uma: curiosamente, prende-se com um aspecto que ninguém até agora abordou. António Costa, na terça-feira, dia anterior ao debate, foi ter com os deputados para preparar o confronto com o Primeiro-Ministro. O que aconteceu? Na minha opinião, os deputados do PS estavam muito excitados e já preparados para atacar ferozmente a honestidade e seriedade de Passos Coelho. Porém, António Costa acalmou-os e pediu para Ferro Rodrigues ser calmo e ponderado – deixando a agressividade para o PCP e para o Bloco de Esquerda.

10. É que António Costa sabe que tem o seu mentor político – José Sócrates – detido em Évora. Por crimes que terá cometido no exercício das suas funções de Primeiro-Ministro – logo, o PS não pode levar o debate político para questões de moralidade e de ética no exercício de funções públicas.

11. Agora, Costa gerou certamente um mal-estar no Grupo parlamentar do PS, que não gostou da decisão do líder do seu partido. É que quando o PS discute com Passos Coelho sobre moralidade e casos e casinhos – Passos Coelho ganha. Quando o PS discute matérias políticas substantivas, coisas que realmente interessam aos portugueses com Passos Coelho – Passos Coelho também ganha. Este é o dilema de António Costa. O dilema que está a matar gradualmente a liderança de António Costa. Até António José Seguro conseguia fazer melhor! Impressionante, não é?

12. Concluindo: o PS não existe. É um vazio político qualificado. Precisa de, pelo menos, mais quatro anos para ver se se encontra e consegue ser útil para Portugal….

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