As dívidas de Passos à Segurança Social dominaram o debate político nos últimos dias, mas os socialistas, apesar de pedirem explicações, foram brandos no ataque ao primeiro-ministro. Estratégia?
“Criticaram-me por não ter reagido logo. Confesso que tenho uma reacção quase visceral à política de casos. Detesto esse tipo de política. Há coisas em que os juízos dos políticos acrescentam pouco. O juízo sobre o caso está na mão dos portugueses”, justificou o líder do PS, em entrevista à RTP.
Um discurso em tudo semelhante ao de Ferro Rodrigues, horas antes, durante o debate quinzenal, onde o líder parlamentar exigiu a Passos um pedido de desculpas, apesar de se assumir desde sempre contra a “exploração de casos políticos e contra-ataques pessoais”.
Após a intervenção inicial do primeiro-ministro, Ferro não entrou directamente no tema das dívidas, causando um silêncio ruidoso na bancada. Nos frente-a-frente a Passos, o líder parlamentar do PS, que é o peão de Costa na Assembleia da República, assume um estilo cordato que alguns questionam. E que esta semana foi mais visível.
“Ferro estava há muito afastado da vida política e o debate tornou-se muito quezilento e acintoso. Não é o estilo dele e ele não entra nesse registo”, afirma ao SOL um dirigente costista que assume que o líder da bancada “tem estado mal nos debates”, apesar de referir que, a prazo, o PS pode ganhar com isso “porque os portugueses estão fartos de quezílias”. Mas é do lado dos seguristas que vêm as maiores críticas. “Fica muito agarrado aos papéis e por isso perde a espontaneidade e a assertividade. Como mete os papéis na mesa, a cabeça fica muito baixa, tem que parar mais e a voz ouve-se mal. O conteúdo está lá, mas perde na forma”, afirma um deputado de primeira linha. À saída do debate, Ferro foi mais solto, perante os jornalista, e defendeu que a “autoridade de Passos está francamente atingida”.
O fantasma de Sócrates
Um dos temas falados no jantar que reuniu esta quarta-feira a ala segurista (ver pág. 15) foi precisamente a prestação de Ferro. “Pouca energia” e “falta de capacidade de improviso” foi a opinião generalizada. Mas também há quem aprecie o registo: “Quem tem razão não é quem fala mais alto. Os portugueses estão à espera de soluções e não de gritarias”, comenta um deputado. Muitos parlamentares questionados pelo SOL preferem não comentar o estilo do líder da bancada, embora alguns sublinhem que o género de debate quinzenal não é favorável à oposição.
À esquerda do PS, houve quem ficasse surpreendido com a prestação socialista e à direita o sentimento era de alívio. O debate que se concentrou nas dívidas de Passos e que poderia ser um problema para o Governo, terminou com uma aclamação da maioria de que Passos não é “um cidadão perfeito, mas é o português mais bem preparado” para ser primeiro-ministro.
Costa diz-se contra o aproveitamento de casos políticos mas há outros factores a pesar na balança: o PS tem um ex-primeiro-ministro em prisão preventiva e os socialistas poderão ter que se coligar à direita após as eleições – as últimas sondagens continuam a mostrar que o PS ainda não descolou da direita.
Assim que Passos falou indirectamente de José Sócrates a propósito das dívidas à Segurança Social, o ex-primeiro-ministro escreveu uma carta inflamada a defender-se. Um fantasma que paira sobre o PS, não se sabendo os efeitos que terá na campanha eleitoral. “O PS não pode controlar Sócrates. A situação não é agradável mas também não me parece que a insinuação de Passos lhe tenha trazido vantagem”, afirma um dirigente socialista.
Quanto a casos políticos, Costa teve que dar explicações, esta semana, sobre um duplex que habitou na Avenida da Liberdade e que tinha pareceres contrários da Câmara, segundo o Público, e sobre rendimentos que auferiu para assessorar o PS ao mesmo tempo que concorria à Câmara de Lisboa, noticiou o i. E a campanha ainda nem vai no adro.